Roubo de celulares sob encomenda cresce em Porto Alegre
Série de reportagens mostra o mercado clandestino de aparelhos
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O dinheiro fácil é um dos fatores que movimenta essa engrenagem. Imagine ganhar R$ 5 mil por dia. É a estimativa de lucro dos “vendedores” dos celulares roubados ou furtados no mercado clandestino da Capital, segundo explica a capitã Martha Richter, comandante da 1ª Companhia do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM). Mas a própria oficial considera o valor modesto. “Estimando por baixo, eles (ladrões) ganham essa quantia por dia.” Com um desses “comerciantes” presos em Porto Alegre, a polícia encontrou cerca de R$ 20 mil em seus bolsos, ressaltou o escrivão Paulo Nunes, da 2ª DP.
Os criminosos se valem da desatenção dos proprietários dos aparelhos para cometer o roubo ou furto. Os principais alvos são crianças e mulheres que muitas vezes são abordadas subitamente com uma faca ou um revólver. Após pegar o aparelho, o ladrão o repassa por uma quantia irrisória, estimada em R$ 50, para o “vendedor” que oferece o produto nas ruas. A discrepância entre os valores das lojas convencionais e os do mercado clandestino impressiona. Um iPhone, orçado em R$ 2 mil no comércio formal, chega a ser vendido por R$ 550. Celulares recém-lançados podem atingir preços mais elevados e, não raro, são cobiçados pelos próprios negociadores. Crime encomendado? A capitã concorda com um balançar de cabeça. Martha explica que os negociadores recebem pedidos de consumidores e repassam a “encomenda” para o parceiro que está na rua.
Quem atende o celular na rua pode não perceber, mas muito provavelmente está sendo analisado por um criminoso. O ladrão observa desde a marca do aparelho e sua cotação no mercado clandestino, além das fraquezas da provável vítima.
Maneira de expor o celular mudou
A venda dos aparelhos roubados ou furtados também foi se modificando com o tempo. A capitã Martha Richter, comandante da 1ª Companhia do 9º BPM, disse que alguns “vendedores” mudaram a forma de agir para disfarçar o crime. Ao invés de mesas com os celulares expostos, eles passaram a carregar consigo os telefones. Em uma abordagem da Brigada Militar foram encontrados dez celulares com apenas um homem. A maioria dos ladrões carrega na cintura ou nos bolsos os aparelhos roubados ou furtados.
Segundo a capitã, os grupos apresentam uma organização interna com duas figuras principais: o vendedor e o assaltante. A atuação de cada um raramente se mistura. O tenente-coronel Francisco Vieira, comandante do 9º BPM, estima que existam mais de dez quadrilhas operando o esquema na região central da cidade.
Entretanto, para completar o ciclo criminoso, iniciado com a pessoa lesada, há um personagem até então pouco falado: o consumidor. O delegado Cesar Carrion, titular da 2ª DP, estabelece o perfil de quem adquire o produto, mesmo sabendo da procedência duvidosa. São pessoas mais jovens e das classes C, D e E. Quem adquire um celular roubado ou furtado, lembra o escrivão Paulo Nunes, se engana ao pensar que estará impune. Esse comprador poderá ser enquadrado por receptação, da mesma forma que os negociadores.