Záchia questiona decisão que reuniu presos no Presídio Central
Ex-secretário de Meio Ambiente reconheceu tratamento diferenciado para detidos na Operação Concutare
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Conforme determina a Constituição Federal, a prisão temporária é emitida pela Justiça quando for "imprescindível para as investigações do inquérito policial" a fim de evitar interferência no andamento da apuração. Segundo o ex-secretário, a PF podia ter solicitado mandado de busca para sua casa, recolhido documentos e computadores e visitado a Secretaria do Meio Ambiente, como fizeram, sem necessidade de prisão. "Eu iria com a maior tranquilidade” depor na PF, acrescentou. “Todos conversavam (no Presídio Central), os conhecidos colocavam a conversa em dia, os que não se conheciam começaram a conversar. Se o objetivo dessa prisão era não ter contato com ninguém, por que juntaram todo mundo?", perguntou.
Záchia relatou que após o cumprimento dos mandados de busca e apreensão da Polícia Federal em sua casa, passou 12 horas na sede da superintendência e conversava com o advogado Rafael Leal por uma janela, ainda sem saber quais eram as acusações – apenas ouviu se tratar de "envolvimento em fraude na concessão de licenças ambientais". “Meu advogado não tinha acesso a nada, só tinha informações pela imprensa. E eu olhava pro lado e não sabia quem era a maioria das pessoas que estavam ali”, contou. Záchia diz que dos 17 detidos com ele na Operação Concutare, conhecia apenas quatro.
No Presídio Central, admite que teve um bom e diferenciado tratamento, apesar das condições da casa prisional. “Ficávamos todos na mesma ala. Houve um certo tratamento diferenciado, evidentemente, com todos o respeito aos demais, éramos passageiros ali”, detalhou. “No dia seguinte, começam a chegar as visitas dos advogados. Mas também ainda não tinham acesso ao inquérito policial”. Enquanto isso, Záchia falava de futebol com os demais detentos e diz que ouvia “brincadeiras”. “Eu fiquei cinco dias, mas parece que foi alguns meses. Imagina pra quem fica alguns anos. A sensação de chegar lá foi a pior”, comentou.
Záchia só foi ter mais informações sobre as acusações da Polícia Federal na terça à noite. “Ele (advogado) chegou e disse: ‘Tem isso e isso contra ti’." Na quarta-feira era feriado. No depoimento, respondi todas as questões. E foi um depoimento longo, cinco horas. Respondi a todas as questões, não tem porque não responder. Eu até posso, pelo momento, pela situação atípica, não ter uma precisão, uma data”, explicou. “Mas a frustração foi tão grande que eu tinha absoluta convicção que dali eu ia pra casa”, admitiu. “O Inter jogava aquele dia contra o Santa Cruz e achei que ia ver o jogo em casa”, lamentou.
Sobre a Operação Concutare, Záchia negou as acusações de vendas de licenças ambientais e disse que, pouco a pouco, está tendo acesso as investigações. “A primeira impressão que tive é que eu fazia parte de uma quadrilha de licença ambiental. Eu pensei: ‘Que licença ambiental a Smam tá dando para fazer parte de uma quadrilha?’. Isso passa por todos os departamentos técnicos da secretaria, isso é assinado por técnicos competentes, criteriosos. E temos uma atuação próxima a Promotoria Ambiental”, detalhou. “Agora começo, felizmente, a ter condições de acesso ao documento e podendo esclarecer ponto a ponto”.
Além de Záchia, foram detidos também o ex-secretário estadual de Meio Ambiente Carlos Fernando Niedersberg (PC do B), e o ex-secretário de Meio Ambiente do Estado Berfran Rosado. A PF informou na sexta-feira passada que deve indiciar 22 pessoas por envolvimento na rede de corrupção. Além dos 18 presos na Operação Concutare, serão indiciadas mais quatro pessoas – que não são servidoras públicas – que podem ter relação com o esquema. Os suspeitos devem responder por corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, crimes ambientais e lavagem de dinheiro, conforme a participação individual de cada envolvido.