Záchia questiona decisão que reuniu presos no Presídio Central

Záchia questiona decisão que reuniu presos no Presídio Central

Ex-secretário de Meio Ambiente reconheceu tratamento diferenciado para detidos na Operação Concutare

Correio do Povo e Rádio Guaíba

Luiz Fernando Záchia ficou cinco dias no Presídio Central

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Quatro dias após deixar a prisão, o ex-secretário municipal do Meio Ambiente Luiz Fernando Záchia (PMDB) falou à Rádio Guaíba sobre o período em que esteve no Presídio Central de Porto Alegre – considerado o pior do Brasil. O político também se manifestou sobre a Operação Concutare da Polícia Federal (PF), que desvendou um suposto esquema ilegal de venda de licenças ambientais no Rio Grande do Sul. Záchia fez críticas ao decreto de prisão temporária. "Se o objetivo era isolar os presos um dos outros – porque fariam parte de uma quadrilha – por que colocaram todo mundo junto?”, questionou.

Conforme determina a Constituição Federal, a prisão temporária é emitida pela Justiça quando for "imprescindível para as investigações do inquérito policial" a fim de evitar interferência no andamento da apuração. Segundo o ex-secretário, a PF podia ter solicitado mandado de busca para sua casa, recolhido documentos e computadores e visitado a Secretaria do Meio Ambiente, como fizeram, sem necessidade de prisão. "Eu iria com a maior tranquilidade” depor na PF, acrescentou. “Todos conversavam (no Presídio Central), os conhecidos colocavam a conversa em dia, os que não se conheciam começaram a conversar. Se o objetivo dessa prisão era não ter contato com ninguém, por que juntaram todo mundo?", perguntou.

Záchia relatou que após o cumprimento dos mandados de busca e apreensão da Polícia Federal em sua casa, passou 12 horas na sede da superintendência e conversava com o advogado Rafael Leal por uma janela, ainda sem saber quais eram as acusações – apenas ouviu se tratar de "envolvimento em fraude na concessão de licenças ambientais". “Meu advogado não tinha acesso a nada, só tinha informações pela imprensa. E eu olhava pro lado e não sabia quem era a maioria das pessoas que estavam ali”, contou. Záchia diz que dos 17 detidos com ele na Operação Concutare, conhecia apenas quatro.

No Presídio Central, admite que teve um bom e diferenciado tratamento, apesar das condições da casa prisional. “Ficávamos todos na mesma ala. Houve um certo tratamento diferenciado, evidentemente, com todos o respeito aos demais, éramos passageiros ali”, detalhou. “No dia seguinte, começam a chegar as visitas dos advogados. Mas também ainda não tinham acesso ao inquérito policial”. Enquanto isso, Záchia falava de futebol com os demais detentos e diz que ouvia “brincadeiras”. “Eu fiquei cinco dias, mas parece que foi alguns meses. Imagina pra quem fica alguns anos. A sensação de chegar lá foi a pior”, comentou.

Záchia só foi ter mais informações sobre as acusações da Polícia Federal na terça à noite. “Ele (advogado) chegou e disse: ‘Tem isso e isso contra ti’." Na quarta-feira era feriado. No depoimento, respondi todas as questões. E foi um depoimento longo, cinco horas. Respondi a todas as questões, não tem porque não responder. Eu até posso, pelo momento, pela situação atípica, não ter uma precisão, uma data”, explicou. “Mas a frustração foi tão grande que eu tinha absoluta convicção que dali eu ia pra casa”, admitiu. “O Inter jogava aquele dia contra o Santa Cruz e achei que ia ver o jogo em casa”, lamentou.

Sobre a Operação Concutare, Záchia negou as acusações de vendas de licenças ambientais e disse que, pouco a pouco, está tendo acesso as investigações. “A primeira impressão que tive é que eu fazia parte de uma quadrilha de licença ambiental. Eu pensei: ‘Que licença ambiental a Smam tá dando para fazer parte de uma quadrilha?’. Isso passa por todos os departamentos técnicos da secretaria, isso é assinado por técnicos competentes, criteriosos. E temos uma atuação próxima a Promotoria Ambiental”, detalhou. “Agora começo, felizmente, a ter condições de acesso ao documento e podendo esclarecer ponto a ponto”.

Além de Záchia, foram detidos também o ex-secretário estadual de Meio Ambiente Carlos Fernando Niedersberg (PC do B), e o ex-secretário de Meio Ambiente do Estado Berfran Rosado. A PF informou na sexta-feira passada que deve indiciar 22 pessoas por envolvimento na rede de corrupção. Além dos 18 presos na Operação Concutare, serão indiciadas mais quatro pessoas – que não são servidoras públicas – que podem ter relação com o esquema. Os suspeitos devem responder por corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, crimes ambientais e lavagem de dinheiro, conforme a participação individual de cada envolvido.

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