"É inútil colaborar com a Justiça", diz Valério após divulgação de declarações

"É inútil colaborar com a Justiça", diz Valério após divulgação de declarações

Condenado no STF depôs à Procuradoria-Geral da República em setembro

Correio do Povo

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Condenado a 40 anos, 4 meses e 6 dias de prisão e considerado o operador do mensalão, o empresário Marcos Valério disse nesta quarta-feira que vai avaliar se prestará novos depoimentos, porque se considera "absolutamente convencido de que é inútil colaborar com a Justiça". Pelo criminalista Marcelo Leonardo, seu advogado de defesa, ele se declarou "absolutamente surpreso com o vazamento" de seu relato à Procuradoria-Geral da República (PGR), divulgado pelo jornal o Estado de S. Paulo.

No depoimento de setembro, Valério informou que dinheiro do esquema serviu também para bancar despesas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Nesse momento, ele ainda vai avaliar se não é o caso de ficar em silêncio já que colaborar com a Justiça está se revelando inútil", afirmou o defensor, veterano criminalista estabelecido em Belo Horizonte. "Na Ação Penal 470 (mensalão), ele colaborou com as investigações desde o início, foi ele quem fez referência a empréstimos, quem forneceu uma lista com os nomes de todas as pessoas beneficiárias do esquema, esclareceu datas, valores e formas de recebimento e, apesar disso, apesar de ter colaborado tão intensamente, foi quem recebeu a maior condenação", avaliou o defensor.

O advogado de Valério afirmou que seu cliente não teve nenhuma vantagem por ter contribuído com a Justiça. "Nada ele obteve, nenhum benefício de redução da pena. Daí sua avaliação de que é inútil continuar colaborando com a Justiça. Não tem nenhuma disposição de prestar quaisquer outras declarações a quem quer que seja”, ponderou. Se for chamado por autoridade que tenha poder de convocar ele comparecerá, como tem comparecido a todos os lugares onde foi formalmente intimado ao longo dos últimos sete anos", disse o advogado. "Ainda recentemente (Valério) já prestou outras declarações a diferentes autoridades", completou.

Sobre o relato de seu cliente em 24 de setembro, no qual Valério disse que o PT pagou despesas do processo, sem mencionar pagamento de honorários, Leonardo afirmou. "Continuo preocupado em cumprir meu dever profissional de respeitar o sigilo, mas esclareço que em nenhum dos inúmeros depoimentos que eu acompanhei Marcos Valério jamais declarou que o PT tenha pago honorários da defesa".

Valério disse que BB cobrou 'pedágio’ para o PT, segundo jornal


Na edição desta quarta-feira do jornal o Estado de S. Paulo, foi publicada uma nova declaração de Marcos Valério. No depoimento prestado em 24 de setembro à PGR, ele disse que dirigentes do Banco do Brasil estipularam, a partir de 2003, uma espécie de "pedágio" às agências de publicidade que prestavam serviços para a instituição financeira pública: 2% de todos os contratos eram enviados para o caixa do PT.

Em dois anos, os repasses do Banco do Brasil às cinco agências de publicidade com as quais mantinha contrato superaram R$ 400 milhões - uma delas era a DNA Propaganda, de Valério. Ou seja, segundo o testemunho do empresário, os desvios dos cofres públicos que abasteceram o mensalão podem ter sido maiores do que os que levaram o STF a condenar Valério e o ex-diretor do Banco do Brasil (BB) Henrique Pizzolato.

Segundo concluiu a Corte, R$ 2,9 milhões foram desviados do contrato da DNA com o BB para o mensalão. Outros R$ 74 milhões foram desviados do contrato da DNA com o Fundo Visanet, do qual o BB fazia parte. Conforme Valério disse no depoimento, o suposto esquema de desvio de dinheiro público que teria de ir para a publicidade foi criado por Pizzolato e Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, que integra a estrutura do BB.

O ex-diretor do BB negou que tenha cobrado "pedágio" das agências de publicidade. "Com certeza é impossível ele ter feito uma proposta dessas. Não tem a mínima possibilidade", afirmou o advogado de Pizzolato, Marthius Lobato. O advogado disse não ter tido acesso à integra do depoimento e por isso não poderia fazer comentários sobre a acusação de Valério. Guimarães não foi localizado pela reportagem.

No período de operação plena do mensalão, entre 2003 e 2004, quando uma série de parlamentares fez saques das contas das empresas de Valério, o Banco do Brasil pagou, segundo dados CPI dos Correios, pelo menos R$ 434 milhões a agências de publicidade. Ao longo desse período, a agência DNA, de Valério, que detinha um dos contratos com o a instituição financeira, aumentou sua participação nos acordos enquanto o bolo recebido pelas demais agências declinava aos poucos.

No julgamento do mensalão, a defesa de Henrique Pizzolato reclamou da punição de 12 anos e sete meses aplicadas ao ex-diretor do Banco do Brasil. Segundo o advogado, as penas foram exageradas em comparação com outros condenados e não correspondem ao conteúdo do processo. O Banco do Brasil, em nota, informou que prestou todas as informações solicitadas pelas autoridades competentes na investigação dos fatos, assim como realizou auditoria interna e encaminhou a conclusão ao STF. "Todas as agências de publicidade que atendem o Banco do Brasil são contratadas por licitação", destaca o texto.

O PT informou que se manifestaria apenas pela nota divulgada nesta terça-feira. Na nota, o presidente da legenda, Rui Falcão, não faz qualquer menção ao episódio e lamenta a divulgação do novo depoimento de Valério. Por meio de sua assessoria, a Ogilvy Brasil disse desconhecer o assunto.

Com informações da Agência Estado e do jornal O Estado de S. Paulo

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