Acordo sobre Regime de Recuperação Fiscal não existe, diz futuro secretário da Fazenda

Acordo sobre Regime de Recuperação Fiscal não existe, diz futuro secretário da Fazenda

Marco Aurélio Santos Cardoso disse que o debate ainda precisa ser iniciado no RS

Flavia Bemfica

Marco Aurélio Cardoso deve trazer duas pessoas para o governo do RS

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O futuro secretário da Fazenda do RS, Marco Aurélio Santos Cardoso, disse na manhã desta terça-feira, em entrevista ao Correio do Povo, que o Rio Grande do Sul não tem um problema principal que se sobreponha a todos os outros quando o assunto é a crise financeira, mas apontou a questão da dívida como “no topo de importância”, e afirmou que tentar a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) é uma alternativa que tem que ser tratada rapidamente. Ao ser questionado sobre se o futuro governo pretende aderir ao RRF nas bases em que está colocado, ou se pleiteará novas negociações, contudo, assinalou que “é um debate a ser iniciado, porque o RS não aderiu.” E completou: “Na verdade o que há é um documento no esforço de construir um acordo, mas o acordo não existe, não podemos falar sobre algo que formalmente não está posto, e que pressupõe a aprovação das duas partes. O Regime do RS ainda precisa ser construído. Ele, sozinho, não é a solução de forma alguma para a sustentabilidade do Estado a longo prazo. Ele é apenas um fôlego. O importante é que nesse momento (do fôlego), se construam as condições para longo prazo.”

Sobre uma das polêmicas que a adesão envolve, referente às privatizações, Cardoso disse que a questão da venda de ativos, tratada como de natureza fiscal, é muito mais ampla. “Há a visão sobre a atividade econômica que aquela empresa desempenha, se é melhor para a sociedade que esteja sob o controle do Estado ou sob o controle privado e, se a opção for a segunda, que haja uma regulação de fato eficiente e que os recursos sirvam sumariamente para questões de longo prazo, e não para pagar uma folha, porque, caso contrário, faz uma receita extraordinária mas, no ano seguinte, tudo segue como antes”, explicou. 

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A respeito das referências constantes que Leite faz sobre os planos de reformar a matriz tributária, o futuro secretário lembrou que está em discussão a possibilidade de uma reforma nacional que venha a impactar a todos os estados, e que qualquer proposta no âmbito estadual precisa levar isso em conta. Citou a necessidade de simplificação para além do tamanho da carga e defendeu regras claras em relação aos incentivos fiscais. “A concessão de incentivos fiscais precisa estar ligada à transparência para a sociedade a respeito dos custos e a uma avaliação econômica dos benefícios. Não se trata de anunciar mudança específica, mas é necessário que existam, pelo menos, essas duas diretrizes”, argumentou. 

Sobre se há medidas em estudo para diminuir o peso da folha de pagamento e, em especial, do pagamento de inativos sobre as contas, Cardoso afirmou que o problema não é exclusivo do RS e defendeu a realização da reforma previdenciária. “Espera-se que o governo federal traga este debate, e ele deve ter rebate nos planos previdenciários estaduais. Tanto no caso do RS, como no país, há a necessidade de estabilidade previdenciária a longo prazo, mas há que se pensar também em um equacionamento financeiro de curto prazo. Não basta resolver o atuarial e o fluxo de caixa seguir demandando bilhões e bilhões. Tenho a impressão de que isso será tratado de forma coletiva e isso é bom, porque não estamos falando do déficit de um ente só, mas de uma questão sistêmica sobre a população. Acredito que será tratada nacionalmente e que o Estado poderá fazer uma complementação”, disse. 

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O futuro secretário da Fazenda listou ainda o fato de o Estado não estar conseguindo pagar servidores, fornecedores e outras obrigações em dia como uma das urgências a serem resolvidas. Ele disse ainda que está estudando a fundo as despesas e defendeu a prorrogação das alíquotas do ICMS como “um horizonte mínimo para uma reforma tributária mais ampla”.

Cardoso, atualmente superintendente de Crédito do BNDES, retornou de férias nessa segunda-feira, e informou que a partir da próxima semana realizará viagens regulares ao Rio Grande do Sul até janeiro e adiantou que possivelmente trará “uma ou duas pessoas” com as quais já trabalhou para integrarem sua equipe. Mas ressalvou que o foco da formação serão os servidores da Fazenda.

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