Anielle demite assessora que debochou da torcida do São Paulo

Anielle demite assessora que debochou da torcida do São Paulo

Marcelle Decothé da Silva acompanhava a ministra da Igualdade Racial em uma agenda oficial e ofendeu os torcedores do Tricolor paulista

AE

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Marcelle Decothé da Silva, assessora especial de assuntos estratégicos do Ministério da Igualdade Racial, foi demitida da pasta desta terça-feira. No domingo, enquanto acompanhava a ministra Anielle Franco em uma agenda oficial, ela debochou e ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube.

"Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade... pior de tudo pauliste", escreveu a assessora nas redes sociais, usando adjetivos em linguagem neutra. As declarações repercutiram mal e a ministra telefonou para os presidentes do São Paulo e da torcida Independente para pedir desculpas. A Independente defendeu a demissão da assessora.

Em nota, a pasta disse que "as manifestações públicas da servidora em suas redes sociais estão em evidente desacordo com as políticas e os objetivos do ministério" e que a demissão de Marcelle foi para "evitar que atitudes não alinhadas a esse propósito interfiram no cumprimento de nossa missão institucional".

Comitê

Um comitê interno foi criado para investigar a conduta de Marcelle Decothé e das demais assessoras da pasta. "Recém-instalado pelo Ministério, o Comitê de Integridade, Transparência, Ética e Responsabilização - instância interna de debate e sobre situações que envolvam temas de transparência, integridade pública, ética e questões disciplinares de caráter abrangente - vai investigar o caso", diz o comunicado que anuncia a demissão da assessora.

Além dela, outras funcionárias do ministério apareceram em publicações debochando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), como mostrou o <b>Estadão</b>. "30 segundos de diálogo com a CBF, já viraram patriotas. Prontas pro cancelamento", escreveu nas redes a assessora demitida.

Ela também apareceu em stories de outra assessora, Luna Costa, abrindo uma camiseta do Flamengo no meio da torcida são-paulina e correndo com uma pasta com o timbre do governo federal. Dentro, estava o documento que a ministra assinou com a CBF. "Realidade = derrota do Flamengo + saindo andando com o protocolo de intenções do Gov Federal na mão + tentando achar transporte + gás lacrimogêneo + olho e boca ardendo", escreveu Luna Costa na imagem em que Marcelle Decothé aparece com a pasta de documentos.

Investigação

Parlamentares de oposição foram ao Ministério Público pedir que a entidade abra uma investigação criminal contra Marcelle Decothé. Os deputados Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e Paulo Bilynskyj (PL-SP) acusam a agora ex-assessora de ter cometido o crime de discriminação, que pode ser punido com um a três anos de reclusão.

A representação feita por Kataguiri é assinada também por Amanda Vetorazzo, líder do Movimento Brasil Livre (MBL) de São Paulo. "Não aceitaremos injúrias de cunho racista e xenofóbico contra o povo paulista e contra a torcida do São Paulo", escreveu Amanda, em redes sociais.

A representação é direcionada a uma das promotorias criminais de São Paulo e pede a abertura de "ação penal ou, no mínimo, de inquérito penal", acusando Marcelle Decothé do crime de "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". A pena é de um a três anos de reclusão.

Bilynskyj apresentou duas representações, uma ao Ministério Público e outra à Polícia Civil paulista, acusando a ex-assessora da prática do mesmo crime, com a agravante do uso das redes sociais. Se as autoridades tiverem o mesmo entendimento, a pena sobe para de dois a cinco anos.

Força aérea

As assessoras acompanharam a ministra Anielle Franco em uma viagem de Brasília a São Paulo, usando um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). O grupo foi ao jogo da final da Copa do Brasil, disputado no estádio do Morumbi, na capital paulista, no domingo.

O uso da aeronave colocou a ministra no centro de críticas por causa do alto custo da viagem, que pode ser até 70 vezes maior do que o de um voo comercial. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, também participou da cerimônia, mas foi a São Paulo em um voo de carreira.

No evento, a ministra da Igualdade Racial assinou um protocolo de ações antirracistas com a CBF. Anielle disse que as críticas "configuraram violência política de gênero e raça, na tentativa de impedir o nosso trabalho". Ela também argumentou que "não são ataques a este ministério ou a mim, mas ao povo brasileiro".

Anteontem, começaram a repercutir as publicações das assessoras - que acabaram por se sobrepor à argumentação de perseguição feita pela ministra da Igualdade Racial. Usuários do X (antigo Twitter) subiram a hashtag (símbolo que reúne publicações sobre o mesmo assunto) #ForaAnielleFranco por causa do episódio.


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