Após Planalto, planos de Temer incluíam livro e filme

Após Planalto, planos de Temer incluíam livro e filme

Antes de ser preso, ex-presidente estranhou movimentação de jornalistas perto de sua casa

AE

Michel Temer tinha planos de escrever um livro e participava de gravação de documentário

publicidade

O ex-presidente Michel Temer percebeu nesta quinta-feira que seu dia seria atípico quando viu pela janela de sua casa, no Alto de Pinheiros, bairro nobre da zona Oeste de São Paulo, que um pequeno grupo de jornalistas estava na calçada. Fazia tempo que isso não acontecia. Falando por celular, ele comentou o fato com o marqueteiro Elsinho Mouco e o jornalista Márcio Freitas, ambos amigos que foram auxiliares nos tempos de Palácio do Planalto. Rumores sobre uma possível ação da Polícia Federal já circulavam em grupos de WhatsApp desde o dia anterior, mas ninguém no entorno do emedebista imaginava que ele pudesse ser detido na rua por policiais fortemente armados a cerca de 700 metros de casa. Segundo amigos, o ex-chefe de Estado tinha planos de escrever um romance, um livro sobre sua passagem pela Presidência da República e estava gravando com Elsinho Mouco um documentário chamado O Brasil de Temer.

• MPF: Organização criminosa de Temer estava em atividade

"A gente tinha uma reunião às 11h. A imprensa chegou na casa dele antes da Polícia Federal", disse Mouco ao jornal O Estado de S. Paulo. Ao questionar a motivação da prisão preventiva, o publicitário relatou que Temer tinha uma rotina absolutamente previsível desde que deixou o poder. Recebia visitas de autoridades, políticos, jornalistas e amigos em seu escritório, na rua Pedroso Alvarenga, no Itaim. Era lá também que fazia longas reuniões com seus advogados para destrinchar os processos nos quais está envolvido. 

• Defesa de Temer entra com pedido de habeas corpus no TRF2

O ex-presidente dizia para seus interlocutores com orgulho que continuava frequentando seus restaurantes preferidos sem ser hostilizado. Geralmente almoçava no La Tambouille da Avenida Nove de Julho, no Gero, na rua Haddock Lobo, ou no Parigi, na rua Amauri. Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Temer foi visto na terça-feira passada, dia 19, almoçando no Parigi com o empresário Toninho Abdalla. Na ocasião, cumprimentou e foi cumprimentado por vários clientes da casa. Nesta quinta-feira, antes de ser preso, tinha agendado almoço com um velho amigo constitucionalista. "Ele estava absolutamente tranquilo, com um humor ótimo e levando a vida normalmente. Essa prisão me assustou", disse o jurista Adilson Dallari, um dos mais próximos amigos do ex-presidente. 

• Bretas manda grampear oito celulares de Temer antes de prisão 

Advogado constitucionalista, Temer não acreditava que seria preso. "Não há nenhuma justificativa para a prisão do Michel", afirmou Dallari. Em entrevista ao Estado em dezembro do ano passado, o ex-presidente foi questionado sobre a possibilidade de uma prisão preventiva após deixar o poder e perder o foro privilegiado. "Não tenho a menor preocupação. Zero. Começou uma onda de que eu teria assinado o decreto (dos Portos) para favorecer uma empresa chamada Rodrimar. Mandaram uma certidão e essa empresa não é beneficiada. A rigor, o que deveria ter sido feito com esse inquérito?", questionou na ocasião. 

A defesa 

Nessa quinta-feira, horas depois da prisão, a defesa de Michel Temer ingressou com um pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). Antes da solicitação, o advogado do ex-presidente, Eduardo Carnelós, disse, em nota, que a prisão não tem fundamentos. "Resta evidente a total falta de fundamento para a prisão decretada, a qual serve apenas à exibição do ex-presidente como troféu aos que, a pretexto de combater a corrupção, escarnecem das regras básicas inscritas na Constituição da República e na legislação ordinária", diz um trecho do comunicado. 

Temer foi preso nessa quinta no âmbito da Operação Lava Jato por ordem do juiz federal Marcelo Bretas. Na investigação, são apurados supostos crimes de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro, em razão de possíveis pagamentos ilícitos feitos por determinação do empresário José Antunes Sobrinho, da empresa de engenharia Engevix, para o grupo criminoso, supostamente liderado por Michel Temer, bem como de possíveis desvios de recursos da Eletronuclear para empresas indicadas pelo referido grupo.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895