Cinco pontos para entender a Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul

Cinco pontos para entender a Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul

Por quase um ano, a última guerra civil provocou conflitos em quase todo território gaúcho

Correio do Povo

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A Revolução de 1923 foi a última guerra civil em solo gaúcho. Passado um século, parte do conflito ficou resumido ao combate entre maragatos e chimangos. Porém, há muitos outros elementos que integram essa história. A reportagem, que integra o especial Revolução de 1923 - Combates & Consequências, entrevistou historiadores e traz uma síntese.  

1. O que foi a revolução de 1923?

Um movimento político que buscava interromper o borgismo no comando do Rio Grande do Sul. A tensão começou em 1922, quando ocorreu a eleição para a presidência do Estado. Em uma disputa marcada pelo acirramento, foram diversas as denúncias de fraudes. Apesar das acusações, no dia 25 de janeiro de 1923, Borges de Medeiros foi empossado mais uma vez. O seu adversário, Assis Brasil, não aceitou o resultado.

A partir disso, intensificaramm-se os conflitos e combates em diversas regiões do Estado. Os grupos revolucionários buscavam com a guerra fazer com que Borges deixasse o cargo. Como reação, as forças governistas, formadas também pela Brigada Militar, tentava conter as ações e manter a paz. Porém, com o avançar do tempo, o acirramento ficou cada vez mais intenso, deixando rastro de mortes e destruição.  

2. Quem foram os principais personagens? 

No campo político, três personalidades se destacam.

Borges de Medeiros (Partido Republicano Rio-Grandense), então presidente do Rio Grande do Sul, equivalente hoje ao cargo de governador. Em 1922, ele concorria para permanecer no cargo. Com a vitória declarada por uma comissão da Assembleia, ele ocupava pela quinta vez, sendo a terceira em sequência, o comando do Estado. 

Assis Brasil (Aliança Libertadora), que liderando a oposição a Borges, foi candidato ao governo do Estado, em 1922. Não aceitou a derrota, alegando fraudes, e tornou-se o líder dos revolucionários. Mesmo assim, historiadores contestam o discurso de que ele seria um maragato.

Setembrino de Carvalho, ministro da Guerra, foi indicado pelo presidente da República, Artur Bernardes, para pacificar o Estado. Na prática, conseguiu articular o Tratado de Pedras Altas, que encerrou os conflitos. 

3. Como eram os  combates?

Os revolucionários estavam organizados nas chamadas colunas, que tinham as suas lideranças. As colunas eram divididas por região. O tamanho dos grupos variava de região para região, indo de 700 a 1,7 mil integrantes. Sem aporte financeiro, muitos usavam armas antigas. Segundo registros, eles abasteciam-se ainda com munições de guerra desviadas de quarteis.

Ao mesmo tempo, as forças de governo eram formadas pela Brigada Militar, que havia sido organizada no governo de Júlio de Castilhos e tinha treinamento e armamento, como metralhadoras, e pelos 'corpos provisórios', que foram grupos montados para ampliar a repressão aos opositores. 

A estratégia dos revolucionários passava muito por manter o constante clima de tensão, similar ao "ataca e foge". Assim, vilas e cidades eram invadidas e, em um curto espaço de tempo, desocupadas. Porém, com o avançar do tempo, os combates foram ficando mais intensos e sangrentos. Estima-se que 70 localidades vivenciaram conflitos. 

4. Por que a intervenção federal não ocorreu? 

Diante da posse de Borges de Medeiros, Assis Brasil buscou apelo do presidente da República, Artur Bernardes para que interviesse no Rio Grande do Sul. Porém, apesar das manifestações, Bernardes optou por outro caminho: reconheceu o governo borgista, que havia apoiado candidatura adversária na disputa presidencial. 

Segundo os historiadores, Bernardes já enfrentava desgastes, especialmente com os conflitos ocorridos no Rio de Janeiro. E será apenas em outubro, com o agravamento da situação, que enviará o ministro da Guerra, Setembrino de Carvalho, para articular uma pacificação. O movimento não representaria uma intervenção. 

5. Como a guerra terminou?

Após quase 11 meses de intensos conflitos, o Tratado de Pedras Altas selou o acordo entre governistas e oposicionistas e terminou o conflito. A pacificação só foi possível após dias de negociações e com recuos dos dois lados. Enquanto a oposição queria que Borges de Medeiros deixasse o cargo, o mesmo não abria mão da função. Ao fim, o tratado previa que Borges não poderia tentar mais se reeleger, ao mesmo tempo permitia que ele terminasse o seu governo, em 1928.

 


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