Com novo comando, PSDB gaúcho buscará consolidar imagem de "centro democrático"

Com novo comando, PSDB gaúcho buscará consolidar imagem de "centro democrático"

Integrante do grupo mais próximo do governador Eduardo Leite, a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, deve ser confirmada, no domingo, a próxima presidente estadual da legenda

Flavia Bemfica

A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, foi uma das gestoras que relatou alguns dos constrangimentos sofridos

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Em mais um movimento de consolidação de força do grupo do governador Eduardo Leite dentro do partido no Estado, o PSDB vai confirmar no próximo domingo, 29, que a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, será a presidente estadual da sigla pelos próximos dois anos. Paula foi vice de Leite quando ele administrou Pelotas, e depois o sucedeu. No final de 2024, encerra o segundo mandato. Segue em sintonia com o governador e integra a ala que trabalha para concretizar as pretensões de Leite em relação a corrida presidencial de 2026.

A prefeita vai suceder o deputado federal Lucas Redecker, atual presidente no Estado. Somente a chapa que ela encabeça, a ‘PSDB Para Todos’ foi inscrita para compor o novo diretório da sigla, que, após eleito, encaminha a escolha da executiva. Será a primeira vez que Paula ocupará posição como dirigente partidária. O processo acontecerá durante a convenção estadual, que ocorrerá a partir das 8h30, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Para além do fortalecimento do nome do governador no cenário nacional, a nova presidente terá dois outros desafios imediatos: a preparação da legenda para as eleições municipais de 2024 e a união dos correligionários em torno do que Paula define como “uma pauta propositiva de um partido do centro democrático”. A afirmação concentra a orientação que, pelo menos em tese, o PSDB tenta passar para o eleitorado tanto no RS como no país (Leite preside hoje o diretório nacional). É um reposicionamento do discurso de volta ao centro que acontece após, nos últimos anos, a sigla enfrentar disputas internas agudas, adotar uma série de práticas identificadas com setores à direita no espectro político, se aproximar do bolsonarismo, perder espaço para novas siglas e ver sua representação minguar. 

“O PSDB é um partido que aceita e entende o contraditório como algo que pode fazer avançar, respeita quem pensa diferente, é capaz de reconhecer seus erros e mudar de posição, não acredita em uma polarização rasa e defende uma gestão pública baseada na responsabilidade fiscal, mas também na sensibilidade social e na sustentabilidade ambiental. É um partido de centro que tem espaço para pessoas de centro-esquerda, de centro-direita, desde que se respeitem e que tenham esta visão”, resume Paula.

Apesar do que parte dos analistas aponta como um esfacelamento da legenda nos últimos anos, a prefeita tem pronta a argumentação de que o declínio não foi necessariamente negativo. “Não adiantava ser grande e ter contornos muito pouco definidos. A chance de voltarmos a ter protagonismo nacional é que tenhamos valores e uma agenda muito clara para as pessoas.”

Tucanos voltam suas atenções para o RS

Historicamente considerado por aliados e adversários como um partido ‘elitista’, e dominado por lideranças de São Paulo e Minas Gerais, o PSDB tenta romper com as duas máximas. E volta sua atenção hoje para o RS não apenas em função dos movimentos do governador Eduardo Leite, mas também porque o Estado é um dos três únicos onde conseguiu eleger o governador no ano passado. Além de perder o governo de São Paulo pela primeira vez em 28 anos, a sigla, que chegou a ser uma das maiores do país, entrou em declínio nacionalmente a partir das eleições de 2014. Atualmente integra uma federação partidária com o Cidadania.

Em 2022 o PSDB elegeu apenas 13 deputados federais. Nas eleições de 2018 haviam sido 29 e, nas de 2014, 54. No Senado, no ano passado, seu número de cadeiras caiu de seis para quatro. Regionalmente, contudo, apesar de continuar com número de filiados abaixo dos 100 mil, o partido já governa o Estado pela terceira vez. E, em 2022 os tucanos gaúchos mantiveram sua representação na Câmara Federal em comparação a 2018 (dois eleitos). Também conseguiram aumentar a bancada na Assembleia Legislativa, de quatro para cinco parlamentares.

A legenda esteve à frente da prefeitura de Porto Alegre na gestão passada, com Nelson Marchezan Júnior, que não obteve sucesso em sua tentativa de reeleição em 2020. Apesar disto, seu número de vereadores na Capital saltou de um eleito, em 2016, para quatro, em 2020. Hoje tem 32 prefeitos e 27 vices nas cidades gaúchas e, no próximo ano, tentará ampliar o número e manter o comando atual em três dos cinco maiores colégios eleitorais (Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria). Enfrentará cenários complexos em pelo menos dois deles: Caxias e Santa Maria.

Estrategicamente, a sigla estuda lançar candidatura própria em Porto Alegre, o que significaria enfrentar um dos maiores aliados da administração estadual, o MDB. O emedebista Sebastião Melo é o atual prefeito e disputará a reeleição tendo como grandes apoiadores o PL e o PP.  A prefeita Paula Mascarenhas diz que o partido não pretende deixar de ter inserção na Capital, mas que trabalhará com os vereadores e com a esfera municipal para fazer uma construção. “O MDB é um aliado importante e respeitado, tem o vice-governador, mas estamos tentando inovar: fazer um pouco menos de cálculo eleitoral e um pouco mais de proposta para a cidade. Respeitamos o governo Melo, mas temos uma visão de cidade que não é exatamente igual a dele”, adianta.

Quem desponta com mais força até o momento entre tucanos para concorrer à prefeitura é a deputada estadual Nadine Anflor. E Paula lembra que o nome chefe da Casa Civil do governo, Artur Lemos, também aparece nas discussões.


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