CPI do MST impõe revés ao governo e aprova convocação de Rui Costa

CPI do MST impõe revés ao governo e aprova convocação de Rui Costa

Chamamento foi alvo de obstrução do governo por mais de um mês

AE

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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Sem Terra (MST) aprovou ontem, por 14 votos a 10, a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa. O chamamento foi alvo de obstrução do governo por mais de um mês, mas a oposição enfim conseguiu colocar o objeto em pauta.

O ex-governador da Bahia tem histórico conflituoso do com o movimento e pode municiar a oposição. A Bahia é palco de diversas invasões do MST e Rui Costa não esconde, nem de correligionários do PT ou de aliados do Planalto, sua falta de simpatia pelo movimento.

A justificativa para a convocação do ministro da Casa Civil, segundo o relator e autor do requerimento, deputado Ricardo Salles (PL-SP), é a mesma do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Marco Edson Gonçalves Dias (conhecido como G. Dias), ouvido ontem. De acordo com Salles, a convocação se apoia no entendimento de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitora a atividade de grupos sem terra. Durante o governo Lula, o órgão esteve subordinado tanto ao GSI, quando ainda estava sob comando de G. Dias, como da Casa Civil.

Embrapa

Na noite do domingo, 1.500 membros do MST invadiram um centro de pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Petrolina (PE). O ato foi condenado pelo presidente da CPI, Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), que definiu a ação como um sinal de "conivência" do governo com o MST.

Horas depois, após negociação com o governo e com a própria Embrapa, a área foi desocupada. O local sedia o Semiárido Show, uma feira de inovação tecnológica que começou ontem e termina na sexta-feira.

Melancia

O depoimento do general Gonçalves Dias foi marcado por provocações de deputados da oposição, como tem sido comum na comissão. Em certo momento, parlamentares bolsonaristas levaram para a sala da CPI pedaços de melancia, como uma indireta a G. Dias.

A fruta faz parte de uma analogia tradicionalmente usada no meio militar para se referir àqueles que são verdes por fora (como o uniforme do Exército) e vermelhos, isto é, de esquerda, por dentro.

Salles, o relator, começou a inquirição perguntando se G. Dias via os acontecimentos de 31 de março de 1964, data do início do golpe como positivo ou negativo. G. Dias limitou-se a dizer que via o que aconteceu naquele momento nem como golpe ou revolução, mas como um "movimento".

"É uma traição aos seus colegas de caserna, dizer que 64 não seja uma boa medida. Não hesite em defender 64. Faça as ressalvas que tenha que fazer, mas defenda", rebateu Salles.

O episódio rendeu mais outra sequência de conflitos entre deputados. "Ele quer constranger. Isso aqui não é a CPI de 64", disse Lídice da Mata (PSB-BA). "O senhor é um golpista, e não deveria usar seu tempo de fala para elogiar horrores da ditadura militar", afirmou Sâmia Bomfim, que pretende ir à Corregedoria da Câmara contra Salles.


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