Demóstenes se despede de equipe e diz que a "luta continua"

Demóstenes se despede de equipe e diz que a "luta continua"

Ex-senador teve o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar

AE

Demóstenes Torres e o advogado após a votação que cassou o mandato do goiano

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O ex-senador Demóstenes Torres (Ex-DEM, sem partido-GO) despediu-se no início da tarde desta quarta-feira da sua equipe de funcionários do Senado, momentos depois de ter sido cassado pelo plenário por usar o mandato para defender os interesses do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Demóstenes chamou cerca de 20 funcionários do gabinete de Brasília e do escritório de apoio de Goiânia, que vieram à capital acompanhar a sessão de votação, para conversar na sua sala. Segundo uma das presentes, ele mais ouviu do que falou. Os auxiliares se emocionaram na presença dele, embora Demóstenes não tenha chorado. "Bola para frente, a luta continua", despediu-se o ex-senador, saindo de carro pela garagem privativa dos parlamentares.

Em votação secreta, o plenário aprovou por 56 votos favoráveis, 19 contrários e cinco abstenções, a cassação do mandato de Demóstenes Torres. Cassado, ele só poderá se candidatar em 2027. Assumirá o mandato de senador o primeiro suplente de Demóstenes, Wilder Pedro de Morais, que é ex-marido de Andressa Mendonça, atual mulher de Carlinhos Cachoeira.

Considerado até março deste ano como um dos principais quadros do Congresso e cogitado até para ser candidato a presidente da República em 2014, o goiano entra para a história de 186 anos do Senado como o segundo parlamentar a ser cassado por quebra de decoro parlamentar.

A cronologia da cassação

As relações de Demóstenes Torres com o bicheiro Carlinhos Cachoeira começaram a surgir depois que a Polícia Federal deflagrou a Operação Monte Carlo contra jogos ilegais em Goiás, em 29 de fevereiro deste ano. Foram cumpridos 35 mandados de prisão. Entre os presos, estava Cachoeira.

Dias após a prisão, a revista Época expôs interceptações telefônicas que revelavam conversas entre o contraventor e agentes públicos e privados, entre eles, Demóstenes Torres, que era, até então, líder do DEM no Senado Federal. O parlamentar confirmou publicamente ter amizade com o bicheiro, mas negou manter negócios com Cachoeira. Diante das denúncias, em março, o senador pediu afastamento da liderança do DEM no Senado. A Procuradoria Geral da República (PGR) solicitou que o Supremo Tribunal Federal (STF) apurasse as denúncias envolvendo Demóstenes. Ele teve o sigilo bancário quebrado pelo período de dois anos. Na mesma época, o PSol pediu a abertura de um processo no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar.

Novas escutas telefônicas da Polícia Federal, neste caso, da Operação Vegas, deflagrada em 2009, indicaram interferências do senador, a pedido de Cachoeira, em um processo judicial, lobby para regularização de jogos de azar e negócios da Infraero. Outras gravações apontaram que Demóstenes atuou em órgãos públicos como Ibama, Infraero e Anvisa para tentar beneficiar o bicheiro. O advogado do senador alegou que o cliente teria sido grampeado de forma ilegal pela Polícia Federal.

Em 3 de abril, Demóstenes Torres decidiu pedir desfiliação do DEM, alegando que houve "pré-julgamento" por parte da sigla, depois que o presidente, o senador Agripino Maia (RN), anunciou a abertura de um processo disciplinar que poderia expulsar o parlamentar Demóstenes do partido. Uma semana depois, o presidente do Conselho de Ética, Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), anunciou a abertura do processo para apurar se houve quebra de decoro parlamentar.

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