"Dia 8 de janeiro marca o fim do governo Bolsonaro", avalia cientista político

"Dia 8 de janeiro marca o fim do governo Bolsonaro", avalia cientista político

Rodrigo González, da Ufrgs, considera que indignação diminuiu os movimentos de contestação ao resultado eleitoral

Mauren Xavier

Homem foi flagrado enfrentando as forças de segurança ainda do lado de fora do Palácio do Planalto

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Passado um mês dos ataques aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, os movimentos de contestação ao resultado da eleição do atual governo diminuíram, mesmo que estejam longe de uma pacificação. Porém, a reação de repúdio aos atos de depredação e vandalismo acabaram por deixar o atual presidente Lula mais fortalecido, enquanto que o oposto ocorreu com o ex-ocupante do Planalto. Essas são as avaliações do cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Rodrigo González.

“Uma pacificação, se for o caso de ocorrer, vai demorar anos. O que temos talvez seja um processo de desmonte das ameaças mais imediatas de conflito aberto”, afirma ele, em relação à resposta ao que chama de “parte de uma tentativa de golpe de Estado”. 

Para contextualizar, destaca dois acontecimentos que ocorreram na sequência dos atos, como a minuta de uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que foi encontrada na casa do ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres, e a mudança no comando do Exército, diante da crise de confiança junto ao governo de Lula. 

“Essas reações fazem parte de um processo de desarmamento. A própria reação da Justiça aos acontecimentos e a reação de muitas pessoas que seriam apoiadoras daquele movimento, mas não daquele tipo de destruição, também esvaziou o processo de apoio à contestação ao atual governo. Então, o atual governo saiu fortalecido e o (ex) presidente Bolsonaro enfraquecido”, avalia. 

Como consquência, segundo ele, o governo de Jair Bolsonaro (PL) terminou naquele dia 8 de janeiro, e não no dia 1º, quando Lula  (PT) tomou posse da presidência da República. "Houve uma vitimização dos locais e das instituições para além do espectro ideológico. Não foi um ataque a um grupo de esquerda. Foi um ataque às instituições do país. Isso causou a quebra de um gelo e o início de um diálogo (entre políticos) deixando para trás o governo anterior. Mais do que o 31 de dezembro, o 8 de janeiro marca definitivamente o fim do governo Bolsonaro." Para ele, após isso, esvaziou-se a força de Bolsonaro de manter-se no debate político.   

No caso de Lula, González cita que o ataque à democracia facilitou a construção de uma imagem de unidade, por exemplo, na caminhada do presidente Lula e da presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, na Praça dos Três Poderes, um dia depois dos ataques, ao lado de governadores. “Como os Três Poderes foram vítimas, neste caso, acabou por aproximá-los. Assim, cria um processo que facilita o diálogo entre os poderes e de distensionamento”, avalia. 

Ao mesmo tempo, ele prevê dificuldade na condenação dos autores, financiadores e planejadores dos atos, que seria a segunda etapa. “Estamos numa fase muito inicial em que as caras que aparecem nas listas são de pessoas que são meros acessórios do processo. Pessoas que talvez pela ingenuidade ou inexperiência se envolveram numa aventura que não sabiam no que ia dar”, destaca o cientista político. Assim, os grandes planejadores e financiadores ainda estão longe de serem atingidos. “É um processo que vai demorar bastante, mas a indignação popular talvez permitiu diminuir o apoio a esse tipo de movimento e facilitar o trabalho da Justiça”, projeta. 

 

 


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