Empresários gaúchos são citados em "Panama Papers", diz jornalista
Estão previstos mais dez dias de reportagens sobre personalidades com empresas em paraísos fiscais
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"Nós chegamos a nomes de gaúchos, mas eles não são políticos, são empresários. Eu não posso revelar nomes porque eles devem aparecer nas próximas reportagens. Ainda teremos mais dez dias para a publicação de matérias relacionadas a este caso", explicou Shalders em entrevista à Rádio Guaíba nesta segunda-feira.
Conforme Shalders, o consórcio de jornalistas conta com pessoas de 76 países diferentes e que trabalham em 109 veículos de comunicação. Ele explicou como o grupo de repórteres conseguiu redigir as matérias em conjunto e revelar um suposto esquema: "Quando tivemos acesso ao material, fizemos uma varredura e, em um cruzamento de dados, chegamos, em âmbito brasileiro, aos nomes de 513 deputados, 81 senadores, ministros de estado e juízes federais para não deixar passar nada."
Shalders salientou que a simples afirmação de que pessoas possuem offshores não significa que elas estejam envolvidas em atos criminosos. Segundo ele, é possível usar este método de maneira legal e legítima. "É o caso de alguns políticos que foram citados e que deram uma resposta sobre a citação de seus nomes. Alguns justificaram, como foi o caso de Luciano Lobão, filho do ex-ministro Edson Lobão, que pagou todos os impostos devidos", acrescentou.
O repórter contou que ainda não há como saber o total de valores envolvidos em transações de brasileiros. "O que nós sabemos é que há 1,7 mil offshores envolvidas. Cada caso significa uma leitura de documentos e a partir disso elaboramos as matérias", explicou.
Barbosa e o imóvel em Miami
Shalders relatou que o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, foi citado no Panama Papers depois de adquirir um imóvel em Miami, nos Estados Unidos. Ele contou que o caso do magistrado apontaria para o não pagamento de um imposto em solo norte-americano. "Quando você compra um imóvel em Miami, você paga um imposto e ele fica registrado de forma pública no condado de Miami. No caso do Joaquim, o imposto ficou em branco, com valor zerado. Isso significa que, de alguma forma, o valor deixou de ser pago. Não se trata de uma quantia grande, é cerca de 2 mil dólares. O Barbosa conversou conosco e disse que fez como muitos brasileiros fazem: encaminhou o dinheiro para uma empresa especializada em imóveis e ela ficaria responsável pelas formalidades e por pagar a imobiliária", completou.
O repórter disse que Barbosa teria recebido tratamento vip quando foi atendido pela Mossack Fonseca. "Ele (Barbosa) conseguiu abrir a offshore rapidamente. Levou cerca de sete dias para isso", afirmou.
Shalders destacou que a Mossack Fonseca é líder global no que diz respeito a offshores e que também teria sido usada neste processo todo. "O banco ou o escritório de advocacia propõe uma solução tributária para uma pessoa que quer comprar um imóvel fora do País. Ela cria a companhia, elabora documentos e legaliza tudo junto ao consulado brasileiro. Embora a Mossack Fonseca tenha um objetivo legítimo, ela foi usada por sonegadores criminosos para operações ilegais", declarou.