Enquanto RS aguarda, outros estados avançam na imunização de adolescentes

Enquanto RS aguarda, outros estados avançam na imunização de adolescentes

Gestores municipais têm pressa, mas receiam passar 15 dias entre repescagens e aplicações de segundas doses

Flavia Bemfica

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Já preocupa gestores gaúchos a delonga do Ministério da Saúde em oficializar a autorização para que os municípios vacinem crianças e adolescentes com idades entre 12 e 17 anos, sem comorbidades. O assunto será pauta da agenda que o ministro Marcelo Queiroga deve cumprir no sábado no RS. Representantes de secretarias municipais de Saúde vão, no encontro, reforçar a importância de que a vacinação deste público seja destravada.

A totalidade das cidades do Estado deve alcançar com a primeira dose (D1) a faixa dos 18 anos até a próxima terça-feira, 31, conforme projeções do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do RS (Cosems). A maior parte, como Porto Alegre, já chegou à idade limite da população adulta (a Capital aplica doses no público a partir dos 18 anos desde a segunda-feira, 23).

O receio dos municípios é ficar 15 dias promovendo repescagens e aplicações de segundas doses, à espera da chegada da data apontada pelo ministério como a da finalização da imunização com D1 em todo o País, período no qual poderiam com folga ‘liquidar’ a etapa da imunização dos adolescentes.   

O que trava o avanço nas cidades gaúchas, de acordo com o presidente do Cosems e vice-presidente da região Sul do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Maicon Lemos, é a ausência de uma autorização formal do ministério e o receio de que isto, no futuro, prejudique o abastecimento de segundas doses (D2).

Na prática, a autorização ocorre a partir de um anúncio oficial de inclusão do público no Programa Nacional de Imunizações (PNI), seguido de uma nota técnica que norteia os procedimentos. Mas, após a vacinação de adolescentes sem comorbidades ter sido pactuada há um mês na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), que reúne representantes dos governos federal, estaduais e municipais, muitos estados ou cidades deram início às aplicações de primeiras doses (D1) nesse público, ou anunciaram calendários. Em alguns casos, isto aconteceu até antes.

“É muito importante que o ministério posicione os municípios, que os autorize a começar a vacinar a faixa etária dos 12 aos 17 anos. Estamos  indicando aos gestores que aguardem a orientação do ministério porque a nota técnica da pasta validando o avanço para os adolescentes garante não apenas a primeira dose, mas também a segunda. As doses que estamos recebendo ainda são do calendário adulto. Estão no provisionamento da segunda dose (D2) do calendário adulto”, explica Lemos, que comanda também a pasta da Saúde em Canoas. Ele admite, contudo, não apenas a urgência, mas também o fato de que a espera acaba gerando dúvidas. “Porque as cidades que já chegaram aos 18, como ficam? Estão prontas para vacinar outra etapa.”

Aguardando e observando 

Nas últimas semanas, cresceram os questionamentos sobre por que o Estado espera, ao mesmo tempo em que observa a imunização de adolescentes sem comorbidades avançar de canto a canto do país. Em São Luís, no Maranhão, ela começou ainda em julho. O Distrito Federal passou a vacinar a faixa dos 17 anos na terça-feira, 24. Na cidade do Rio de Janeiro, a campanha tem início nesta quinta, 26. E, no estado de São Paulo, será a partir da segunda, 30 de agosto.

Enquanto isso, e apesar da ansiedade de administrações municipais, no RS o Executivo estadual segue informando que aguarda pelo ministério e a inclusão do público no PNI. Mesmo após ter permitido, com um decreto publicado em 9 de agosto, a diminuição do distanciamento entre classes em salas de aula, o que, na prática, aumentou o número de alunos presenciais e fez com que muitas turmas deixassem de adotar os rodízios de estudantes.

Entre as administrações que seguiram com a imunização para além dos 18 anos, pesam também as declarações do ministro Queiroga, em diferentes ocasiões, de que o avanço para os adolescentes ocorrerá assim que for concluída a aplicação da primeira dose na população adulta (18 anos ou mais) no país, projetada para a metade de setembro. Na semana passada, no programa "A Voz do Brasil", ao ser questionado sobre o tema, Queiroga afirmou que a vacinação deste público pode e deve ser feita. “De acordo com o estado, em função da idade, tendo atingida a meta, vai se baixando”, assinalou. Na sequência, porém, o ministro ressalvou, “preferencialmente nos com comorbidades”, o que manteve as dúvidas.

Nessa quarta pela manhã, o ministério acabou surpreendendo as administrações municipais, ao anunciar, ao invés do início da imunização dos adolescentes, a aplicação, a partir de 15 de setembro, de uma dose de reforço para pessoas de 70 anos ou mais e para imunodeprimidos. À tarde, na coletiva organizada pela pasta para tratar da dose de reforço, a secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19 do ministério, Rosana Leite de Melo, voltou a lembrar que a imunização dos adolescentes tão logo os adultos recebam a primeira dose já está pactuada. “Mesmo iniciando os adolescentes sem comorbidades agora em setembro, temos o quantitativo necessário desses imunizantes”, garantiu.

Na sequência, informou que a aplicação de doses de reforço a partir de 15 de setembro não vai atrapalhar a imunização da faixa etária dos 12 aos 17 anos. Antes disto, ainda pela manhã, o presidente do Cosems havia recebido mais uma vez, por telefone, a garantia de que nos próximos dias a pasta vai publicizar a autorização para que as cidades vacinem adolescentes sem comorbidades com a vacina da Pfizer, a única já permitida para este público.

“Não faria nenhum sentido dar início à terceira dose sem avançar para os adolescentes. O que queremos é a imunidade coletiva. Antes, o parâmetro era de que a atingiríamos imunizando 70% da população total. Agora, o percentual foi estendido para 90%. Então, em Porto Alegre, preciso buscar os quase 140 mil de 18 a 59 anos que não se vacinaram ainda e imunizar os adolescentes. Porque, para as crianças menores de 12 anos, ainda não há vacina liberada. E elas, em Porto Alegre, são 300 mil, ou seja, 20% da população”, explica o coordenador da Vigilância em Saúde da Capital, Fernando Ritter. Conforme ele, se a cidade receber em setembro a mesma quantidade de vacinas que recebeu em agosto, não só imuniza todos os adolescentes, como também conclui a segunda aplicação para a maior parte da população. “O raciocínio lógico em termos epidemiológicos seria antecipar a segunda dose e começar a vacinar adolescentes em paralelo, antes da terceira dose”, resume.

Ritter segue a lista de prioridades elencadas entre gestores da saúde, e, até ontem, também no ministério. Nela, a prioridade um é que a totalidade das cidades chegue com a D1 até a faixa dos 18 anos. A prioridade dois é avançar na D2. A três é a vacinação dos adolescentes e, a quatro, a dose de reforço. Mas, após o anúncio de ontem sobre o reforço, ontem, parte dos gestores em saúde no RS passaram, em reservado, a apontar que as disputas políticas envolvendo o governo federal, a gestão João Dória (PSDB) em São Paulo e o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) podem estar influenciando os debates. Lemos garante que não existe a possibilidade de que a disponibilização das doses extras para pessoas acima de 70 anos e imunodeprimidos ocorra antes do início da vacinação dos adolescentes. No cenário mais moroso, a projeção é de que as duas ações ocorram de forma simultânea, e em conjunto com a diminuição do intervado entre D1 e D2, também anunciada. Se isto ocorrer, o receio de prefeituras de passar 15 dias entre repescagens e aplicações de segundas doses acabará se confirmando.

Na outra ponta, o RS não atingiu a projeção que havia sido feita pelo governo do Estado, de que toda a população de 18 anos ou mais receberia a primeira dose até 25 de agosto. Na data, 85% dos gaúchos que se enquadram nesta faixa tinham feito a D1; o governador Eduardo Leite (PSDB) estava em viagem a Brasília; a secretária da Saúde, Arita Bergmann, não se manifestou oficialmente; e a pasta não divulgou o levantamento sobre a imunização aguardado para o dia. A atualização dos dados da vacinação foi feita pelo governador na manhã desta quinta, em uma transmissão nas redes sociais. 


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