Ex-assessor diz que "picaretas" tentaram vender vacina ao governo

Ex-assessor diz que "picaretas" tentaram vender vacina ao governo

Braço direito de Pazuello, o empresário Airton Antônio Soligo lamentou demora pela compra de doses da Pfizer e disse que "uma vida salva" teria valido a pena

R7

Braço direito de Pazuello, o empresário Airton Antônio Soligo lamentou demora pela compra de doses da Pfizer e disse que "uma vida salva" teria valido a pena

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Em depoimento à CPI da Covid, o empresário Airton Antônio Soligo, também conhecido como Airton Cascavel, ex-assessor especial do Ministério da Saúde na gestão de Eduardo Pazuello, lamentou a demora para compra de vacinas pelo governo brasileiro e afirmou que muitos "picaretas" apareciam tentando vender doses.

"Num momento em que você não tinha a fábrica da Astrazeneca, não tinha 1 milhão de vacinas para entregar para o Brasil, picaretas apareciam querendo vender 200 milhões, 100 milhões de doses, pra todo lado, de todo jeito", afirmou.

Ele faz referência à produção pela Fundação Oswaldo Cruz da vacina do laboratório Astrazeneca, iniciada neste ano no Rio de Janeiro por meio de um acordo de transferência de tecnologia.

Soligo atuou como assessor entre abril de 2020 e março de 2021. Ele afirma que, no período, muitas pessoas se apresentaram como vendedoras sem realmente representar laboratórios ou possuírem doses para comercialização. Os principais laboratórios já afirmaram que negociam diretamente com governos, sem a participação de intermediários. "Quantos picaretas apareciam. Eu resolvi não receber nenhum", disse.

Ele lamentou a demora pela compra das vacinas da Pfizer pelo governo brasileiro. O laboratório ofereceu ao governo 70 milhões de doses em agosto do ano passado, sendo que as entregas começariam em dezembro. E-mails do laboratório ficaram sem resposta. O contrato acabou sendo fechado em março, e as doses começaram a chegar no final de abril.

"Quando se fala de 2 milhões [de doses] que nós perdemos da Pfizer, poderiam ser 500 mil em janeiro, 500 mil em fevereiro. Se fosse uma vida só, uma vida salva por qualquer quantidade, já teria valido a pena. Elas foram antecipadas em maio, mas uma vida não tem preço", disse.

Intermediários

As falas de Soligo sobre a atuação de vendedores picaretas foram rebatidas por parlamentares. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) afirmou que Soligo pode não ter recebido intermediários, mas que o Ministério da Saúde fechou um contrato com uma empresa brasileira, a Precisa Medicamentos, representante do laboratório indiano Bharat Biotech, e que se trata do maior valor por dose entre as negociações conduzidas pelo governo - US$ 15. O contrato de R$ 1,6 bilhão já foi suspenso pelo Ministério da Saúde.

O contrato de R$ 1,6 bilhão já foi suspenso pelo Ministério da Saúde. O acordo, no entanto, é alvo de investigação da CPI.

Assim como a oferta de 400 milhões de doses feita pelo policial Luiz Paulo Dominghetti, que atuou como lobista em favor da empresa americana Davati Medical Supply. Dominghetti afirma que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose na tratativa, o que foi negado pelo ex-diretor de Logística do ministério Roberto Dias.


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