Ex-superintendente diz que foi indicado por Jovair, mas nega atuação partidária
Deputado federal do PTB apareceu em conversa grampeada na Operação Carne Fraca
publicidade
Carneiro afirmou à PF que foi o responsável por nomear Dinis ao cargo no Sipoa, mas ao ser questionado sobre os grampos em que o gerente de Relações Institucionais e Governamentais da BRF Roney Nogueira dos Santos afirma que Dinis teria prometido "matar no peito" uma auditoria que havia determinado a suspensão da planta da empresa em Mineiros (GO), Carneiro disse que só Dinis poderia explicar isso.
"Que quem pode explicar essa afirmação é Dinis, pois se assim agiu foi sem o consentimento do declarante", afirmou. No grampo, Roney diz ainda que Dinis teria pedido apoio da empresa para candidatos do "PDT" nas eleições municipais de 2016 e até R$ 300 mil para um homem que seria responsável por manter Dinis em Goiânia. Apesar de citar o PDT, posteriormente Roney cita o nome de Jovair Arantes, que é do PTB.
O diálogo de Roney que cita Jovair Arantes:
"- Roney: [explica o que Dinis disse] O que eu vou propor? Vamos suspender a certificação só do preparado e que eu vou dar um prazo para vocês se adequarem e eu vou fazer uma nova auditoria, para ver se deu certo.
- HNI [Interlocutor não identificado]: Tá bom, tá ótimo.
- Roney: Aí eu peguei e falei: Tá bom, se for isso, eu concordo também. Mas aí o que vai ser o pagamento, entendeu? Aí ele pegou: 'Pois é, preciso do apoio de vocês, você sabe que a gente ali do Ministério é por indicação partidária e quem coloca nós aqui no Ministério, que mantém a gente no cargo, é o pessoal do PDT e o nosso deputado aqui, que trabalha junto, é o Jovair Arantes, e aí eu preciso do apoio de vocês na campanha eleitoral municipal'".
A PF questionou a Carneiro, então, se ele tinha que repassar recursos ao PTB em troca de sua indicação para o cargo. "Que nunca ouviu falar nisso, e que se lhe solicitassem tal coisa entregaria seu cargo na mesma hora", afirmou o ex-superintendente.
Ele admitiu, porém, que deposita 2% de seu salário na conta do PTB. Como se trata de uma doação dele mesmo, que é filiado à sigla, ao partido, a prática não é ilegal. Procurado, o diretório regional do PTB em Goiás confirmou que cobra a contribuição de seus filiados, conforme prevê a lei.
Em seu depoimento, Carneiro afirmou ainda que não conhece nem nunca se encontrou com Roney, que não decidiu o processo de habilitação da planta da BRF em Mineiros e que só caberia ao Ministério da Agricultura em Brasília habilitar ou não a unidade. "Que não sabe dizer qual a consequência para a Unidade da BRF em Mineiros caso houvesse a suspensão da certificação e não a suspensão da habilitação", segue Carneiro em seu depoimento.
Dinis foi preso preventivamente na Carne Fraca e Julio Cesar Carneiro foi alvo de mandado de condução coercitiva e depôs na Superintendência da PF em Goiás. Com a operação, Carneiro foi afastado do cargo.
Ao todo, 37 pessoas foram presas na Carne Fraca, deflagrada no dia 17. Do total, 11 com temporária, quando a detenção vale por 5 dias, prorrogáveis por mais 5. Na terça-feira, o juiz Marcos Josegrei, responsável pela Operação, mandou soltar oito dos alvos que estavam nesta condição e prorrogou por mais cinco dias a ordem de reclusão contra Rafael Nojiri Gonçalves, Antonio Garcez Junior e Brandizio Dario Junior.
Neste domingo, o delegado da Polícia Federal Maurício Moscardi Grillo enviou oficiou ao juiz comunicando o fim da necessidade de detenção dos três que ainda estavam detidos temporariamente, o que foi acatado pelo magistrado. Os presos preventivamente seguem detidos na carceragem da PF.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Dinis para comentar o caso. Quando seu nome veio à tona na Operação, o deputado federal Jovair Arantes disse à TV Globo que a única indicação dele e do partido no Ministério da Agricultura era Júlio Carneiro.
Ele afirmou ainda que, por ter sido relator do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, todas as pessoas ligadas ao partido foram retiradas das pastas na época do processo de afastamento da petista. A reportagem entrou em contato com a assessoria do deputado, mas ainda não obteve um retorno do parlamentar sobre o caso.