Excesso de candidatos dificulta coligação de centro-direita em Porto Alegre

Excesso de candidatos dificulta coligação de centro-direita em Porto Alegre

Aproximação entre PTB e DEM força antecipação de movimento no MDB

Flavia Bemfica

Fortunati ao lado de seu vice, Sebastião Melo, no comitê central

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O lançamento da pré-candidatura do deputado estadual Sebastião Melo (MDB) à prefeitura de Porto Alegre nas redes sociais na manhã desta segunda-feira teve impacto imediato nas articulações mantidas entre MDB, PP, PTB e DEM para a disputa. Ainda na manhã desta segunda, após o movimento do MDB, o pré-candidato do PTB à prefeitura, o ex-prefeito José Fortunati, admitiu que as quatro siglas vem insistindo em ficar com a cabeça da chapa, mas disse que a escolha precisa ser baseada em critérios específicos e que só será candidato se for a prefeito. Além de Melo e de Fortunati, o PP apresentou o vice-prefeito Gustavo Paim como pré-candidato e, o DEM, a vereadora Nádia Gerhard.  

“Acordamos de buscar o nome que terá as melhores condições de fazer o enfrentamento. E, para isto, é necessário fazer pesquisas quantitativas e qualitativas. Nossa insistência é com critério. Se eu não for o melhor nome para fazer este enfrentamento, não serei empecilho. E se eu não for cabeça de chapa, nem serei candidato. É um problema a menos”, apontou, em referência ao fato de que existem apenas duas vagas na chapa, e que, se quiserem de fato fechar uma aliança dos quatro, dois dos partidos terão que abrir mão da presença na majoritária. Questionado sobre se a coligação pode “se dividir”, o petebista foi objetivo: “Não precisa ser necessariamente uma aliança dos quatro. Estamos tentando. A gente costura, conversa bastante, mas daqui a pouco pode não dar.”

O movimento de Melo, que parece uma antecipação dos emedebistas, já que as quatro siglas, em tese, trabalham em conjunto por um entendimento para decidir, no máximo até o final do mês, o nome a encabeçar uma chapa apoiada por todas, tem outra avaliação nos bastidores. Nela, o lançamento da pré-candidatura do deputado é apontado como uma reação do MDB a uma série de ações que vem se desenrolando nas últimas semanas, e com potencial para fazer com que a pretendida aliança se transforme em pelo menos duas chapas diferentes.

Entre todos os movimentos, o que mais preocupa o MDB é a aproximação cada vez maior entre PTB e DEM no cenário municipal e o protagonismo de Fortunati. Mas há os acenos de Paim de forma individual ao PRTB. E muitas dúvidas sobre a estratégia (apoiada somente por parte dos negociadores dos quatro partidos) de utilizar o processo de impeachment aberto na Câmara de Vereadores para desgastar o prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB). O prefeito é pré-candidato à reeleição e as siglas, até aqui, pretendem disputar com ele a mesma fatia do eleitorado no centro, na centro-direita e na direita. Emedebistas do entorno de Melo temem que Marchezan possa ganhar ainda mais visibilidade e sair fortalecido. E, entre todos os partidos, já há quem considere que a influência da discussão entre a prefeitura e as entidades empresariais sobre o processo de impeachment precisa ser barrada, porque há o risco concreto de que o rito seja visto como uma espécie de ameaça sobre o prefeito para forçá-lo a atender reivindicações.

Na tramitação do impeachment e fora dela, não faltam motivos para o MDB se preocupar com a sintonia entre PTB e DEM, que vem sendo destacada por lideranças de ambas as siglas. É pública a afinidade entre o presidente do DEM em Porto Alegre e da Câmara de Vereadores, Reginaldo Pujol, e as lideranças petebistas. Mostrando força, as bancadas dos dois partidos na Câmara de Vereadores fizeram declaração conjunta de voto pela admissibilidade do processo de impeachment, o que, de saída, garantiu 10 dos 18 votos necessários para sua aprovação

O PTB, com seis cadeiras, tem a maior bancada, e com dois assentos a mais que as segundas colocadas (DEM e PT, com quatro cada). “O DEM tem uma relação muito boa, de afinidade, amizade e parceria com os parlamentares do PTB. Na Câmara existe muito esta aproximação”, assinala o líder da bancada do DEM, vereador Pablo Mendes Ribeiro. Mendes Ribeiro garante que o partido está focado em trabalhar para que Nádia encabece uma chapa na corrida ao Paço, mas também enaltece a capacidade de aglutinação de Fortunati. “Como prefeito, manteve um governo de aliança, no qual os partidos, todos, cresceram e se fortaleceram.”

A chegada à disputa de Fortunati, que por duas vezes, quando integrava o PDT, fez dobradinha com o MDB no comando da Capital (primeiro como vice de José Fogaça e depois, como prefeito, com Melo de vice), foi entendida inicialmente como uma estratégia do PTB para manter bancada na Câmara de Vereadores e se fortalecer na composição de uma aliança mirando a ocupação de espaços importantes em uma eventual futura administração, um formato que o partido vem repetindo com sucesso ao longo dos anos na Capital.

Mas sucessivas negociações no decorrer das últimas semanas e o fato de Fortunati apresentar bom desempenho em sondagens internas realizadas por diferentes partidos, agora geram preocupação. A ideia inicial, de o MDB formar uma dobradinha com o PP de vice com outro nome que não Paim também enfrentou maior resistência do que o esperado. E a manutenção de conversas do vice com atores novos na corrida, ativistas de direita, também é motivo de alerta. Por enquanto, Melo ganhou o apoio do SD e mantém conversas também com o Cidadania, que tem como pré-candidata a deputada estadual Any Ortiz.

 


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