General chama relatório da comissão da verdade de “leviano”

General chama relatório da comissão da verdade de “leviano”

Chefe do Departamento Geral do Pessoal se manifestou em defesa de seu pai, citado no relatório

AE

publicidade

O general de Exército da ativa, Sérgio Etchegoyen, chefe do Departamento Geral do Pessoal, divulgou nesta quinta-feira uma nota, em conjunto com a sua família, repudiando o relatório divulgado ontem pela Comissão Nacional da Verdadee classificando seu trabalho como "leviano".

A Comissão responsabilizou o pai do atual chefe do DGP, o general Leo Guedes Etchegoyen, e outros 376 civis e militares, por violações de diretos humanos durante o governo militar, sem apontar os fatos que teriam levado às acusações. "Ao apresentar seu nome, acompanhado de apenas três das muitas funções que desempenhou a serviço do Brasil, sem qualquer vinculação a fatos ou vítimas, os integrantes da CNV deixaram clara a natureza leviana de suas investigações e explicitaram o propósito de seu trabalho, qual seja o de puramente denegrir", diz a nota, revelada pelo portal estadao.com, com exclusividade. A família estuda formas de entrar na Justiça contra a comissão.

Esta é a primeira manifestação condenando a Comissão da Verdade feita por um general da ativa, que integra ao Alto Comando do Exército. O Comandante do Exército, general Enzo Peri, assim como o ministro da Defesa, Celso Amorim, foram comunicados pelo general Etchegoyen da decisão da família de não deixar os "covardes" ataques, "sem qualquer vinculação a fatos ou vítimas", "contra um cidadão já falecido, sem qualquer possibilidade de defesa".

Desde cedo, a decisão do Exército era de que não havia motivo para enquadrar o general no Regulamento Disciplinar do Exército, que proíbe militares da ativa de fazerem "manifestação de caráter político". O entendimento era que ele falava "em caráter familiar", sem entrar na área institucional. O próprio ministro da Defesa entendeu que a declaração do general teve "forte conotação emocional" e que "o melhor é deixar a poeira baixar".

Coube ao ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, por determinação da presidente Dilma Rousseff, conversar com o ministro Amorim, sobre o caso de Etchegoyen. A decisão do Planalto era de "botar panos frios na fervura". O entendimento geral foi de que punir o general levaria a um movimento de solidariedade nas Forças Armadas, já que chegou ao Planalto informações de que o sentimento de insatisfação nos quartéis, com grande parte do teor do relatório da comissão. Portanto, punir Etchegoyen seria transformá-lo em "mártir e botar lenha na fogueira", conseguindo novas adesões e manifestos de insatisfação com a comissão, assinado por inúmeros militares, podendo deflagrar uma crise militar.

No caso de Etchegoyen chegou a ser reconhecido no Planalto que incluir o nome de seu pai, o general Leo Etchegoyen, como um dos "autores de graves violações de direitos humanos", foi um "excesso desnecessário" da comissão, já que não havia crime ou fato que pudesse levar a esta ilação. Além disso, consideraram que a carta do general foi "respeitosa" e que, em momento nenhum atacou o governo.

Apesar de outros generais da ativa não terem se manifestado oficialmente, a solidariedade a Etchegoyen era feita em todos os segmentos das Forças Armadas, da ativa e da reserva. Os militares parabenizavam a "coragem" do companheiro que externou a insatisfação com a unilateralidade do documento. Um dos generais da ativa consultados pelo Estado ironizou a conclusão do relatório lembrando que ao responsabilizar a cadeia de comando pelos crimes cometidos durante o regime militar, o Planalto endossa a tese do "domínio do fato", que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff podem ser responsabilizados pelo Mensalão e pelos desvios da Petrobrás.

Houve também forte descontentamento na Aeronáutica, com a inclusão do nome do ex-ministro Eduardo Gomes, o patrono da Força Aérea. O Marechal do ar e ministro da Aeronáutica pela segunda vez de abril de 1965 a março de 1967, Eduardo Gomes, foi apontado no relatório da Comissão da Verdade como um dos responsáveis político institucional por violação dos direitos humanos durante o governo militar.

Nessa sexta-feira, 12, a presidente Dilma vai ter o primeiro encontro com o ministro da Defesa e os comandantes militares, depois da divulgação do relatório. Será na inauguração da primeira etapa do estaleiro de construção de submarinos, no Rio. Na terça-feira, dia 16, Dilma estará novamente com os comandantes, no almoço de confraternização de fim de ano com os oficiais das três Forças.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895