General que vai chefiar Defesa vê Forças distantes da política

General que vai chefiar Defesa vê Forças distantes da política

Bolsonaro optou por manter pasta sob comando de militar do Exército

AE

Escolha de outro integrante do Exército gerou descontentamentos entre oficiais da Marinha e Aeronáutica

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Anunciado nesta terça-feira pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, como futuro ministro da Defesa, o general da reserva Fernando Azevedo e Silva disse ao jornal O Estado de S. Paulo que "não acredita" em risco de politização das Forças Armadas. "As Forças estão afastadas da política. O representante político das Forças Armadas é o ministro da Defesa", afirmou. Com a escolha, Bolsonaro optou por manter a pasta sob o comando de um militar do Exército.

De perfil moderado e com experiência na relação com o Congresso, Azevedo e Silva é o segundo general confirmado no primeiro escalão do futuro governo - além dele, o general da reserva Augusto Heleno foi indicado para ser ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência.

Azevedo e Silva ocupa atualmente o cargo de assessor especial do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Em conversa por telefone com o jornal, ele disse que a eleição de Bolsonaro não representa a volta dos militares ao poder - o presidente é capitão reformado do Exército, o vice, Hamilton Mourão, também é general da reserva e Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência e Tecnologia, é tenente-coronel da Aeronáutica. A escolha de Azevedo e Silva foi anunciada pelo Twitter do presidente eleito.



Depois, já em Brasília, onde desembarcou nesta terça-feira, o presidente eleito justificou a escolha citando o vasto currículo do general. Paraquedista como Bolsonaro, de quem é amigo dos tempos da Academia Militar, Azevedo e Silva integra a ala moderada das Forças Armadas. Segundo interlocutores, o general possui um perfil eclético e flexível, o que lhe permitiu já ter passado pelos três Poderes.

O presidente Michel Temer já havia quebrado a sequência de civis no comando da Defesa, o que ocorria desde a criação do ministério, em 1999. Temer escolheu como ministro o general da reserva Joaquim Silva e Luna, em fevereiro deste ano. Na campanha Bolsonaro havia prometido manter um militar à frente da pasta, apesar das críticas de diversos setores.

O martelo foi batido na segunda-feira à noite, quando o presidente eleito telefonou para Azevedo e Silva e sacramentou o convite. Inicialmente, o lugar havia sido reservado para o também general da reserva Augusto Heleno, que, na semana passada, foi deslocado para ocupar o GSI. Mas, desde a quarta-feira da semana passada, quando se reuniu com o presidente do Supremo, Bolsonaro indicou a Toffolli que poderia precisar do antigo companheiro em algum posto em seu governo, principalmente pelo seu perfil conciliador e agregador.

Naquele mesmo dia, o presidente eleito havia indicado que para a vaga de Heleno na Defesa poderia ser nomeado um almirante de Esquadra. O nome que estava entre os militares e chegou a ser sugerido pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, para o cargo, com endosso do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, era o do titular da Armada, almirante Eduardo Leal Ferreira.

O atual comandante da Marinha, no entanto, estava com outros planos para o seu futuro. Com isso, Bolsonaro decidiu ir para a sua chamada "reserva técnica". A escolha de mais um oficial do Exército para o Ministério da Defesa gerou descontentamentos entre oficiais da própria Marinha e da Aeronáutica. Para a sucessão nas três Forças, as preferências por nomes fora da ordem de antiguidade foram abandonadas e a tendência é de que a opção seja pelos três mais antigos das forças, critério que evita maiores contestações.

O currículo de Fernando é extenso e variado e tem distintas ligações com diversos segmentos políticos. Assumiu a Autoridade Pública Olímpica, em outubro de 2013, no governo Dilma Rousseff. Foi chefe da ajudância de ordens do ex-presidente Fernando Collor. No exterior, uma de suas funções foi no Haiti, onde exerceu o cargo de Chefe de Operações do II Contingente do Brasil na Minustah.

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