Governo Lula é imprevisível e aumento de gastos preocupa, analisam especialistas
As nomeações políticas e conciliadoras acalmam os mercados, mas estado gastador exige atenção
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As nomeações ministeriais de Luiz Inácio Lula da Silva, anunciadas na quinta-feira (22) tiveram perfis diferentes das anteriormente feitas pelo presidente eleito.
Foram 16 nomes anunciados por Lula para composição do governo que assume em 1º de janeiro, como Alexandre Padilha (Ministério das Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretária-geral da República), Nísia Trindade (Ministério da Saúde), Camilo Santana (Ministério da Educação), Márcio França (Ministério dos Portos e Aeroportos), Geraldo Alckmin (Ministério da Indústria e Comércio), entre outros.
O anúncio destes primeiros ministros ajuda a dar uma ideia do que virá pela frente em 2023 e não há um consenso muito positivo sobre os nomes e nem a respeito do que pode vir a ser o governo de Lula.
A escolha de pessoas de fora do PT foi bem-vista, explica Augusto Caramico, analista de investimentos e Professor de Finanças pela PUC-SP, porque “o governo estava propondo só ministros do PT (Partido dos Trabalhadores), como o Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Flavio Dino (Justiça) e até o Mercadante no BNDES. Dos outros partidos, não existiam nomes”.
Caramico analisa que o mercado viu com preocupação as escolhas iniciais de Lula, justamente por serem “pastas mais pesadas” entregues ao próprio partido.
Por conta disso, a bolsa cedeu e os juros futuros chegaram a ser precificados em até 16%. Apesar do tom mais conciliador de nomes como Márcio França (Portos e Aeroportos), Welington Dias (Desenvolvimento Social) e até de Alckmin (Indústria e Comércio), a preocupação continua sendo com o possível aumento de gastos do governo petista. Carmico acredita que já que se vê um “Estado crescendo novamente e aumento de impostos”.
"Risco de 'Dilmar' sempre tem, porque é imprevisível e não há como saber o que será feito na área econômica, mas as contas públicas estão melhores hoje do que estavam quando a Dilma assumiu a Presidência", conclui o economista.
Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, tece críticas na mesma linha e diz que “a equipe econômica pode até ser técnica, mas enxerga o Estado como indutor da economia. O PT vai tentar ser ‘gastão’, parecido com o Governo Dilma, mas o Lula é um político experiente e, se a economia estiver esgarçando muito, ele deve voltar a ser fiscalista, até para não sofrer um impeachment”, analisa.
Por este motivo, Komura explica que será necessário negociar com o Congresso uma âncora fiscal, até agosto de 2023, em relação a 2024 para "maior previsibilidade no futuro próximo".
Apesar de diferente, sobretudo no Senado, porque mais alinhado com ideias liberais, o Congresso deve sentar-se à mesa de negociação com o presidente eleito, ainda que seja mais díficil porque "tem bom trânsito, e é dessa forma que Lula governa", analisa.
Sobre uma possível “herança maldita” do governo Bolsonaro, o professor Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, diz que “a economia está relativamente estável, os índices inflacionários estão menores do que da Zona do Euro e o nível de desemprego está bastante baixo, então não é possível falar em herança maldita”.
Por isso, enfatiza que “se futuramente, a economia piorar, a culpa será do governo que assume em janeiro, então nesse aspecto podemos até ver um Dilma 2”.