Heleno sondou Abin para infiltrar agentes em campanhas de rivais de Bolsonaro, diz PF

Heleno sondou Abin para infiltrar agentes em campanhas de rivais de Bolsonaro, diz PF

General teria defendido que o governo se antecipasse para "virar a mesa" antes da votação”

Estadão Conteúdo

Revelações sobre a atuação de Heleno aparecem na decisão do ministro Alexandre de Moraes que levou a PF a realizar a operação

publicidade

Provas recuperadas pela Polícia Federal (PF) na investigação sobre o plano golpista que teria sido orquestrado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e por seus aliados mais próximos colocam o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), no centro das articulações para tentar manter o grupo político no poder.

Antes mesmo das conversas para baixar um decreto que anulasse o resultado da eleição, após o segundo turno, o comandante do GSI teria defendido que o governo se antecipasse para "virar a mesa" antes da votação. Heleno também afirmou que era necessário agir "contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas".

"Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições", afirma Heleno.

"Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro", segue o general.

As declarações ocorreram em uma reunião em julho de 2022 e foram descobertas porque a PF teve acesso a um vídeo ao encontro. A gravação estava em um computador apreendido na casa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fechou delação premiada.

A Polícia Federal também afirma que o general Augusto Heleno diz na reunião que conversou com o então diretor da Agência Brasileira da Inteligência (Abin), Vitor Carneiro, sobre a possibilidade de "infiltrar" agentes nas campanhas eleitorais dos adversários de Bolsonaro.

"Nesse momento, o então presidente Jair Bolsonaro, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin, interrompe a fala do Ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente "conversem em particular" sobre o que a Abin estaria fazendo", descreve a PF.

A Abin está no centro de suspeitas de aparelhamento e monitoramento ilegal de autoridades no governo do ex-presidente.

As revelações sobre a atuação de Heleno aparecem na decisão do ministro Alexandre de Moraes que levou a Polícia Federal a deflagrar nesta quinta, 8, a Operação Tempus Veritatis (a hora da verdade, em latim), que mirou aliados do ex-presidente suspeitos de envolvimento na empreitada golpista. Entre os alvos da operação, estão o próprio Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, Valdemar Costa Neto, Paulo Sérgio Nogueira e Almir Garnier Santos.

Os investigados afirmaram, via defesa, que vão cumprir as determinações impostas pela Justiça, mas que ainda não tiveram acesso às investigações para saberem o que pesa contra cada um deles. Heleno ainda não se manifestou.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895