Homenagem do Exército a coronel Ustra em Santa Maria gera indignação
Oficial foi primeiro integrante do regime militar reconhecido como torturador pela Justiça
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A homenagem - que teria sido determinada pela 3ª Divisão de Exército com sede em Santa Maria - ocorreu no pátio de formatura da 6ª Brigada de Infantaria Blindada na segunda-feira. O Comando local teria informado que a determinação partiu do comandante Militar do Sul, general Antônio Hamilton Martins Mourão. A orientação seria de que a homenagem não chegasse ao conhecimento público, ficando restrita à caserna. O Correio do Povo tentou contato com o Comando Militar do Sul, mas os integrantes da Assessoria de Comunicação estão em horário de almoço. O assunto ganhou espaço nas redes sociais, chegando ao conhecimento de entidades ligadas à defesa dos direitos humanos.
Na tarde dessa quarta, a Frente Ampla por Direitos e Liberdades e o Comitê Carlos de Ré – Verdade, Memória e Justiça divulgaram nota de repúdio à homenagem. As duas entidades, que representam 50 coletivos de Direitos Humanos no Estado, destacam que Ustra foi reconhecido como torturador na “ditadura civil-militar brasileira”. Dizem ainda que, na condição de chefe do Doi-Codi paulista entre 1970 e 1974, Ustra comandou atos de tortura contra cidadãos que estavam sob sua custódia. Por fim apontam que a homenagem “representa provocação à democracia brasileira”.
Em 15 de outubro, o coronel Ustra morreu de câncer, aos 81 anos, em Brasília. Ele foi comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo no período de 1970 a 1974, durante a ditadura militar. Ustra foi acusado pelo Ministério Público Federal por envolvimento em crimes como o assassinato do militante comunista Carlos Nicolau Danielli, sequestrado e torturado nas dependências do órgão. Em 2008, tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido, pela Justiça, como torturador durante a ditadura.
Em maio de 2013, ele compareceu à sessão da Comissão Nacional da Verdade. Apesar do habeas corpus que lhe permitia ficar em silêncio, Ustra respondeu a algumas perguntas. Na oportunidade, negou que tivesse cometido qualquer crime durante seu período no comando do DOI-Codi paulista. Disse também que recebeu ordens de seus superiores no Exército para fazer o que foi feito, e que suas ações à frente do órgão tinham como objetivo o combate ao terrorismo.