Indicação de Rivaldo para a polícia do Rio partiu da inteligência do Comando de Braga Netto

Indicação de Rivaldo para a polícia do Rio partiu da inteligência do Comando de Braga Netto

Ex-ministro disse que assinou ordem “apenas por burocracia”

Estadão Conteúdo

Rivaldo Barbosa assumiu cargo na véspera da morte de Marielle

publicidade

A sugestão do nome do delegado Rivaldo Barbosa, preso neste domingo, para a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro, em 2018, foi feita pelo setor de inteligência do Comando Militar do Leste (CML). À época, o comandante da organização, responsável pelas tropas no Rio, no Espírito Santo e em Minas Gerais, era o general Walter Braga Netto, ministro da Casa Civil e da Defesa no governo de Jair Bolsonaro (PL). A defesa de Braga Netto afirmou que ele assinou a promoção apenas por "questões burocráticas".

A informação sobre a indicação do delegado está no depoimento do general Richard Nunes, prestado à Polícia Federal do Rio de Janeiro em outubro de 2023. Em 2018, Nunes foi designado secretário estadual de Segurança Pública durante a intervenção federal na segurança pública do estado e foi quem efetivamente deu o cargo ao delegado. Richard Nunes respondia a Braga Netto. Comandante militar do Leste, o general havia sido nomeado interventor federal na segurança do Rio pelo presidente Michel Temer (MDB).

No depoimento, Nunes contou que a primeira missão à frente da pasta era exatamente escolher os novos chefes das duas polícias. Para auxiliá-lo na tarefa, recebeu nomes indicados pela inteligência do Exército. O nome de Rivaldo Barbosa estava entre eles. “Para ambos os cargos recebi uma lista de cinco nomes oriunda da inteligência do Comando Militar do Leste. Tal lista não era vinculante e se tratava somente de uma sugestão de nomes que não tinham fatos que os desabonassem”, disse.

O general secretário disse não ter encontrado dificuldades para escolher o chefe da Polícia Militar. Para dirigir a Civil, porém, ele optou, primeiro, por um nome de fora da lista da inteligência do Comando Militar do Leste. “Ia fazer a escolha apesar do nome do delegado Delmir não constar na lista encaminhada pela inteligência do CML, mas ele não aceitou o convite. Assim, escolheu o nome de Rivaldo Barbosa para tal cargo, nome esse que constava em tal lista”, afirmou aos investigadores.

Em seguida, a inteligência da secretaria chefiada por Richard Nunes contraindicou Rivaldo Barbosa. O general avaliou que as ressalvas não se “pautavam em dados objetivos” e bancou a nomeação do delegado para comandar a Polícia Civil. Na conclusão da apuração, a polícia apontou a “passiva gestão dos militares à frente da Segurança Pública do Rio de Janeiro”, a “falta de traquejo para manejar as vicissitudes do jogo de poder fluminense e a manutenção de Rivaldo mesmo após a contraindicação” como fatores que indicam a gerência de Richard Nunes na nomeação do delegado.

Barbosa assumiu o cargo na véspera do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. No dia seguinte, ele recebeu familiares e amigos das vítimas, manifestou solidariedade e disse que resolver o caso era “questão de honra”. Neste domingo, a Polícia Federal revelou que ele planejou o crime e agiu para atrapalhar as investigações e blindar os mandantes.

De acordo com o relatório final da polícia, o crime foi encomendado pelo deputado Chiquinho Brazão (União-RJ) e pelo conselheiro Domingos Brazão, do Tribunal de Contas do Rio.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895