Irã denuncia decisão 'política' em atribuição do Nobel da Paz

Irã denuncia decisão 'política' em atribuição do Nobel da Paz

Narges Mohammadi é a quinta pessoa a receber o prêmio enquanto presa

AFP

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O Irã denunciou, nesta sexta-feira (6), como uma decisão "tendenciosa e política" a atribuição do Prêmio Nobel da Paz à defensora dos direitos das mulheres presa na República Islâmica, Narges Mohammadi. A ativista é a quinta pessoa a receber este prêmio estando em regime de reclusão.

"Soubemos que o Comitê Nobel atribuiu o Prêmio da Paz a uma pessoa que foi considerada culpada de reiteradas violações da lei e que cometeu atos criminosos. Condenamos esta ação tendenciosa e política", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanani.

A jornalista, de 51 anos, dedicou sua vida à defesa dos direitos humanos em seu país, opondo-se à obrigatoriedade do véu, ou à pena de morte, e sendo repetidamente detida e encarcerada por isso desde os 22 anos, quando foi presa pela primeira vez.

A ativista, que foi presa em 2021, não reencontra o marido nem seus dois filhos, exilados na França, há oito anos.

Outras quatro pessoas premiadas enquanto em regime de reclusão na história:

- 1935: Carl von Ossietzky (Alemanha) -

Este jornalista e pacifista alemão recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1935, enquanto estava em um campo de concentração nazista. O ativista antifascista, que foi preso três anos antes durante a campanha de repressão em resposta ao incêndio do Reichstag, foi o primeiro opositor a ser premiado.

Furioso com o comitê organizador, Adolf Hitler proibiu que cidadãos alemães aceitassem a honraria, independentemente da disciplina contemplada.

A quantia do prêmio, por sua vez, foi entregue a um advogado corrupto que enganou a família do jornalista.

Carl von Ossietzky morreu na prisão em 1938.

- 1991: Aung San Suu Kyi (Birmânia, atual Mianmar) -

Em 1991, o Comitê Norueguês do Nobel entregou o prêmio da Paz para Aung San Suu Kyi "pela sua luta não violenta pela democracia e pelos direitos humanos".

A ativista, que estava em prisão domiciliar, obteve autorização da junta militar para ir a Oslo receber a honraria, mas preferiu ficar na Birmânia por medo de não poder retornar ao país.

A "Dama de Rangum" foi libertada em 2010 e passou a liderar a Birmânia, antes de ser presa durante um golpe de Estado militar em fevereiro de 2021. Acusada de uma série de crimes, recentemente teve sua pena reduzida de 33 para 27 anos de prisão.

Nos últimos anos, a passividade desta vencedora do prêmio diante de atrocidades - que foram classificadas como "genocídio" por investigadores da ONU - cometidas contra uma minoria muçulmana rohingya em Mianmar causou uma grande mobilização para revogar seu título.

- 2010: Liu Xiaobo (China) -

Este dissidente chinês foi premiado em 2010, por seus esforços em favor dos direitos humanos e da democracia na China.

Escritor e professor, Liu Xiaobo foi preso em 2009 e condenado a 11 anos de detenção por "subversão". O governo chinês o acusava de ser co-autor de um manifesto que promovia as eleições livres na China.

Ele não pôde ser representado por sua esposa, a poeta Liu Xia - que estava em prisão domiciliar -, na entrega do prêmio, tampouco por seus três irmãos, que foram proibidos de deixar o território chinês.

Sua cadeira, sobre a qual colocaram o prêmio, ficou simbolicamente vazia durante a cerimônia.

O escritor morreu em decorrência de um câncer de fígado em 13 de julho de 2017, tornando-se o segundo vencedor do Nobel da Paz a morrer em regime de privação de liberdade.

- 2022: Ales Bialiatski (Belarus) -

O ativista bielorrusso foi o ganhador do prêmio em 2022, em conjunto com a ONG russa Memorial - oficialmente dissolvida na Rússia -, e o Centro ucraniano para as Liberdades Civis (CCL), pela promoção do "direito de criticar o poder".

Ales Bialiatski foi preso em 2021, acusado de "fraude fiscal", que foi considerada uma retaliação do presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, no poder desde 1994 e que tem silenciado qualquer crítica ao seu governo desde os protestos após as eleições de 2020, que abalaram o seu mandato.

O ativista foi representado na gala do Nobel por sua esposa, Natalia Pinchuk.

Bialiatski foi condenado em março a 10 anos de prisão. Outros membros de sua organização de defesa aos direitos humanos Viasna também cumprem penas de prisão.


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