Justiça Eleitoral aponta indícios de que blitze da PRF interferiram no 2º turno das eleições

Justiça Eleitoral aponta indícios de que blitze da PRF interferiram no 2º turno das eleições

Relatório é o primeiro documento da Justiça Eleitoral afirmando que as operações tiveram o potencial de atrapalhar o pleito

AE

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Um relatório produzido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE-RN) e encaminhado à Polícia Federal (PF) aponta indícios de que as blitze feitas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições presidenciais, em outubro de 2022, podem ter atrasado a chegada dos eleitores aos locais de votação.

Esse é o primeiro documento da Justiça Eleitoral afirmando que as operações tiveram o potencial de atrapalhar as eleições.

Os dados do relatório obtido pelo G1 e confirmado pelo Estadão agora integram o inquérito da PF que investiga se a PRF foi usada para interferir na disputa eleitoral. Na época, Silvinei Vasques, aliado do então presidente Jair Bolsonaro (PL) estava a frente da instituição e as operações se concentraram principalmente no Nordeste, região em que Luiz Inácio Lula da Silva costuma ter maior votação. Vasques está preso preventivamente desde 9 de agosto em decorrência da investigação.

Segundo o TRE-RN, houve uma mudança no padrão de horário em que os eleitores compareceram à votação. Parte considerável deles, que costumava votar pela manhã, só chegou às urnas após a Justiça adotar medidas emergenciais para liberar o caminho dos eleitores, já no período da tarde.

Conforme apontou a juíza eleitoral Erika Corrêa, mesários relataram "baixo fluxo de comparecimento de eleitores e eleitoras" nas seções, bem como a inexistência de filas e diversas salas vazias nos locais de votação. A partir das informações reunidas dos relatos, a juíza separou o comparecimento dos eleitores da cidade de Campo Grande em três momentos:

- 8h até 12h46: 2.232 eleitores votaram. O número corresponde a 38,28% do total das seções analisadas (5.830 eleitores). Esse período corresponde ao relatado pelos mesários, com salas vazia e seções eleitorais sem filas.

- 14h às 15h30: mais 1.293 votaram, chegando 60,46% do eleitorado (3.525 eleitores). Durante o período, houve ampliação do transporte gratuito oferecido pela Justiça; WhatsApp e rádio foram utilizados para divulgar esse serviço aos moradores da cidade.

- 15h30 às 16h58: 75,02% dos eleitores comparecem às urnas, que termina o dia com 4.374 votantes. Esse período corresponde ao fim das blitze da PRF e dois minutos antes do término da votação.

As operações podem também ter inibido o deslocamentos em cidades pequenas do interior. Segundo a juíza, motoristas que estavam com a documentação irregular, com receio de terem o veículo apreendido, podem ter deixado de comparecer às urnas no período da manhã.

A conclusão é que pode haver correlação entre as operações da PRF e a chegada tardia dos eleitores às urnas, e que as blitze podem ter causado "impacto significativo no deslocamento de eleitores e eleitoras aos seus locais de votação", mesmo não sendo possível aferir que o atraso foi causado exclusivamente pelas operações.

Em junho, o ex-diretor da PRF prestou depoimento à CPMI do 8 de Janeiro sobre as ações durante o dia da eleição e negou ter usado o cargo para beneficiar o ex-presidente Bolsonaro. Ele afirmou que a ação foi mais intensa no Nordeste porque a estrutura da Polícia Rodoviária Federal é maior na região. Também disse ser vítima de uma "perseguição" e alvo da "maior injustiça da história".

Dados de relatório divulgado pelo Ministério da Justiça mostram que PRF fiscalizou, entre os dias 28 e 30 de outubro, 2.185 ônibus em estradas do Nordeste - mais que o dobro das ações de mesmo teor registradas no centro-oeste (893), quatro vezes mais que o número de blitze efetuadas no Sudeste e sete vezes mais do que no Norte do País. O número de operações na região Nordeste corresponde a 47% do total de inspeções em coletivos que transportavam eleitores para votação.


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