Líderes entram em acordo para votar PL das Fake News em regime de urgência na Câmara

Líderes entram em acordo para votar PL das Fake News em regime de urgência na Câmara

Com isso, texto não precisa passar por comissões e vai à votação direto no plenário, o que deve acontecer na próxima terça

R7

Orlando Silva diz que segue no cargo

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O relator do projeto de lei das Fake News, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), afirmou nesta terça-feira, 25, que a proposta deve ser votada na próxima terça-feira, 2, no plenário da Câmara. A informação foi dada logo após reunião de líderes partidários com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). A ideia é que os deputados votem o pedido de urgência do projeto ainda nesta terça-feira. Se aprovado, o texto é votado diretamente no plenário, sem passar por comissões. 

"Fiz uma exposição aos líderes de todos os partidos da Câmara dos Deputados e ao presidente Arthur Lira sobre o PL 2.630/2020. A decisão dos líderes é propor a votação hoje do requerimento de urgência e o projeto de lei será votado na próxima terça-feira", disse Silva. Mais cedo, o assunto também foi debatido em uma reunião com líderes da base governista na Casa.

Após a reunião de líderes, há a previsão de Lira se encontrar com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, para tratar do projeto. Moraes também tem encontro marcado com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Texto da proposta

O texto da proposta trata, por exemplo, de responsabilização, verificação de identidade, transparência, monetização e impulsionamento de conteúdo. Na prática, amplia a lista do que deve ser retirado do ar antes de uma determinação judicial. O Ministério da Justiça e Segurança Pública já enviou ao Congresso sugestões ao texto, que foram entregues ao relator do projeto. Segundo o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o diálogo do governo com o Congresso para tratar desse assunto está aberto, e é esperada uma aprovação rápida.

"Precisamos de uma solução definitiva para que o que é proibido na vida real não seja permitido na vida virtual. O Congresso tem que se inspirar nisso. Acredito que o relator esteja se inspirando nisso para o relatório. Projeto importante para que situações como essa relacionada diretamente com os atentados nas escolas e os ataques como os de 8 de janeiro não se perpetuem no nosso país", afirmou.

Responsabilidade de provedores

O texto trata ainda das responsabilidades dos provedores de internet. O cientista da computação Henrique Faulhaber ressalta que a proposta não pretende censurar as redes sociais. "Em um assunto que envolve opinião, não se pode deixar a critério das empresas tirar do ar aquilo que elas acham que pode dar multa, e, com isso, criar censura", afirmou.

A proposta prevê, ainda, a criação de um Conselho de Transparência e Responsabilidade na Internet, composto por 21 conselheiros — entre eles, representantes do Legislativo, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Comitê Gestor da Internet no Brasil e da sociedade civil. A falta de regulamentação das big techs, empresas responsáveis por redes sociais e buscadores, tem sido motivo de discussão em todo o mundo e, no Brasil, o tema é tratado no PL das Fake News. A proposta é que essas companhias paguem pelos conteúdos jornalísticos que publicarem, como já ocorre na Austrália.

Remuneração do conteúdo jornalístico

Em entrevista ao R7, Orlando Silva disse que a legislação é importante para promover a valorização do jornalismo profissional na era digital. "O jornalismo é, inclusive, utilizado para dar tráfego às redes sociais, aos buscadores, e é por isso que eu acredito que, quando há conteúdo jornalístico indexado, publicado em redes sociais e buscadores, é necessário que haja uma remuneração por esse trabalho."

O parlamentar citou os debates que ocorrem no mundo com o intuito de encontrar um equilíbrio entre a sustentabilidade da imprensa e das big techs. A Austrália é pioneira em relação à aprovação de uma regulamentação sobre o tema. Há dois anos, entrou em vigor no país o Código de Negociação da Mídia. Essa lei australiana prevê que as empresas remunerem os produtores dos conteúdos distribuídos nas plataformas a partir de um acordo feito entre as partes. O governo entra somente quando não há consenso — o que, até o momento, não ocorreu.

Com a entrada em vigor da legislação, empresas jornalísticas do país obtiveram mais de US$ 200 milhões por ano do Google e do Facebook, segundo artigo publicado pelo professor da Australian National University Rod Sims. O modelo tem servido como inspiração para outros países, como o Canadá. A expectativa é que o parlamento canadense vote a regra ainda neste ano. Índia, Indonésia, Espanha e Estados Unidos também discutem modelos de regulamentação.

Pensar em uma compensação financeira aos veículos de comunicação produtores de conteúdo por parte das plataformas é tido por especialistas como fundamental para resgatar o papel do jornalismo na democracia. A legislação australiana foi elaborada levando isso em consideração, mas houve impasses.

Pesquisador sênior do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS), João Victor Archegas destaca que o Facebook, por exemplo, argumentou que não tem nenhuma contrapartida significativa por disponibilizar conteúdos jornalísticos na plataforma. Por isso, em razão da nova lei australiana, falou em suspender a possibilidade de compartilhamento desse material na rede social.

"Em um primeiro momento, portanto, a regulação acabou tendo um efeito adverso. A situação na Austrália só se encaminhou para uma solução quando as plataformas e o governo chegaram a um acordo de que essa questão seria resolvida por meio de negociações em uma espécie de câmara arbitral", contextualizou Archegas, frisando que o modelo permitiu os acordos bilaterais entre as partes. Archegas advertiu que o PL das Fake News precisaria alinhar o entendimento entre as partes para evitar efeito reverso, como ocorreu no início das discussões australianas.

Para Leonardo Lazzarotto, especialista em propaganda e marketing, o importante é encontrar um equilíbrio, sobretudo ao olhar para a distribuição da publicidade digital. Ele disse que somente Google e Facebook concentram 81% do investimento publicitário digital no mundo. "O desafio desses novos tempos é encontrar o equilíbrio para que a imprensa continue exercendo seu indispensável papel, com receita suficiente para manter o negócio, contando com a participação das big techs e todas as suas soluções digitais para a sociedade", disse Lazzarotto.


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