Lava Jato investiga elo de offshores com Odebrecht e Andrade Gutierrez
Nova fase levou à prisão 12 executivos das duas empreiteiras
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Deflagrada na sexta, a 14ª fase da Lava Jato foi batizada de Erga Omnes ("vale para todos", em latim) e levou à prisão 12 executivos das duas empreiteiras, incluindo os presidentes Marcelo Odebrecht, do Grupo Odebrecht, e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez. No caso da Odebrecht, estão no alvo da força-tarefa duas offshores: a Constructora Del Sur, aberta no Panamá, e a Hayley, no Uruguai. Em relação à Andrade Gutierrez, a suspeita envolve uma offshore do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador de propinas ligado ao PMDB.
As empresas investigadas por elo com a Odebrecht foram criadas fora do Brasil para movimentar valores de propina na mais sofisticada estrutura de lavagem de dinheiro encontrada até aqui pela força-tarefa, dizem os investigadores. "Nas empreiteiras anteriores, os relacionamentos que foram denunciados são de um esquema relativamente simples e muito fácil de se comprovar, porque era interno, aqui no nosso País", disse o procurador da República Carlos Fernando Lima.
Personagem central para descobrir detalhes sobre o uso da Del Sur pela Odebrecht é o doleiro Bernando Freiburghauss, apontado por delatores como operador de propinas da empreiteira. Ele mora na Suíça e é considerado foragido.
"A constatação de que a Constructora Internacional Del Sur efetuou depósitos nas contas off-shore de, pelo menos, três dirigentes da Petrobras, Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento), Pedro Barusco (ex-gerente de Engenharia) e Renato Duque (ex-diretor de Serviços), permite concluir por sua ligação com o esquema criminoso de cartel e propinas que afetou a Petrobras", sustenta o juiz federal Sérgio Moro, ao decretar as prisões efetuadas na sexta-feira.
Documentos em poder da Lava Jato indicam que a Del Sur foi a origem de pelo menos cinco depósitos em contas secretas de Costa que seriam operadas por Freiburghaus. O ex-diretor confessou que os US$ 23 milhões que tinha na Suíça - devolvidos após acordo de delação - foram propina da Odebrecht. Ele apontou outras quatro contas em nome de offshores como depositárias de valores desviados.
O doleiro Alberto Youssef, também delator da Lava Jato, afirmou à Justiça Federal que operou pagamentos de propinas para a Odebrecht, tendo mantido contato com os executivos Márcio Faria e Cesar Rocha, ambos presos na sexta.
Serviços
A Del Sur também está na mira das apurações envolvendo a área de Serviços da Petrobras, controlada politicamente pelo PT e dirigida até 2012 por Duque, preso desde março. Barusco, seu ex-braço direito e delator da Lava Jato, relatou o uso da offshore pela Odebrecht.
"O ex-gerente informou que a Odebrecht não realizava depósitos a partir de suas contas, utilizando-se de conta registrada em nome da offshore Constructora Del Sur", diz a PF. Laudo da Polícia Federal apontou "o efetivo depósito de USD 1.020.672,00 provenientes de conta corrente da Constructora Del Sur, mantida no Union des Banques Suisses AG (UBS AG)".
O mesmo laudo identificou dois depósitos da Del Sur para a conta de uma offshore vinculada ao ex-diretor no Banco Julius Baer, em Mônaco. "Renato Duque é o único beneficiário" dessa conta, sustenta a Lava Jato com base em documentos enviados pelas autoridades do principado.
Também há suspeitas em relação à Hayley S.A., aberta no Uruguai, e à Hayley do Brasil Empreendimentos e Participações, ligada a um ex-executivo da Odebrecht, João Antonio Bernardi Filho, preso na Erga Omnes. A offshore pagou quadros de Duque, conforme notas fiscais apreendidas na casa do ex-diretor, no total de R$ 499 mil. A Hayley do Brasil vendeu à D3TM Consultoria e Participações, aberta por Duque, duas salas comercias no Rio, em 2013, por R$ 770 mil.
Transferência
Nas apurações envolvendo a Andrade Gutierrez, uma offshore de Fernando Baiano é um dos elos da Lava Jato para apurar as movimentações de supostas propinas da empreiteira no exterior. A empresa informou ter contratado a Technis Planejamento e Gestão em Negócios Ltda. para suposta prestação de serviços num total de R$ 3,1 milhões. "A quebra judicial de sigilo bancário da Tecnhis confirmou a transferência de pelo menos R$ 1.187.975,82 em 2007 da Andrade Gutierrez para aquela empresa (Technis), restando ainda obscuro o modo de repasse do remanescente", disse Moro.
Para a Lava Jato, a "utilização da Technis Planejamento e Gestão em Negócios Ltda por Fernando Baiano para a lavagem dos recursos oriundos, imediatamente da Andrade Gutierrez e mediatamente da Petrobras, é clara".
Defesas
A Odebrecht e a Andrade Gutierrez, por meio de notas, negam qualquer envolvimento em irregularidades e esquemas de propina. As duas informaram que colaboravam com as apurações e sustentam não haver provas de irregularidades das empreiteiras relacionadas às offshores investigadas.