Lideranças gaúchas divergem sobre CPMI dos atos antidemocráticos

Lideranças gaúchas divergem sobre CPMI dos atos antidemocráticos

Oposição e governo têm visões diferentes sobre comissão, que deve ter requerimento lido na terça-feira

Felipe Nabinger

Manifestantes durante invasão ao Palácio do Planalto, em Brasília no dia 8 de janeiro

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 Mais de três meses depois, o ataque aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, em atos antidemocráticos no dia 8 de janeiro é o cerne de um movimento político que deve ganhar desdobramentos nos próximos dias. Isso porque o presidente do Congresso Nacional e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deverá, na próxima terça-feira, após o retorno da viagem à China, proceder a leitura do requerimento do deputado federal André Fernandes (PL-CE), que pede instauração de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), a fim de apurar os atos. A medida gera divergências entre governistas e oposição, incluindo parlamentares gaúchos.

“(A CPMI) é fundamental para o Brasil. Precisamos saber o que aconteceu exatamente no dia 8 de janeiro e que os responsáveis sejam punidos. Sejam os que depredaram, sejam os que foram omissos e deixaram que acontecesse algo muito maior que aconteceria se as forças de segurança tivessem atuado”, analisa o vice-líder da oposição na Câmara, o deputado federal Marcel Van Hatem (Novo), atribuindo essa omissão para forças do Distrito Federal e da União.

Marcel é um dos signatários do requerimento, que ultrapassou o mínimo de 171 deputados e 27 senadores necessários para dar andamento a esse tipo de pedido. O senador Luis Carlos Heinze (PP) cobra que o caso seja apurado sem “partidarismo”. “Há muitas questões a serem esclarecidas, principalmente sobre o envolvimento de infiltrados e dos relatórios enviados à Casa Civill e Ministério da Justiça sobre o que estava para acontecer naquele 8 de janeiro”, diz Heinze, que vê demora na atuação das forças de segurança federais.

Palco político

Vice-líder do governo Lula, o deputado federal gaúcho Elvino Bohn Gass (PT), rebate dizendo que uma CPMI serviria apenas como “palco para disputas políticas” e como forma dos opositores, em sua maioria alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tentar transferir responsabilidade sobre os atos. “A oposição está tentando se justificar pois ficou evidente que quem fez o arrombo, o vandalismo, tentando destruir a democracia foram eles, a direita e a extrema-direita. A conta está muito alta e estão tentando jogar a responsabilidade para quem não tem”, afirma.

Bohn Gass vê as instituições funcionando e que estão sendo apurados “quem arquitetou, a inteligência desses atos, quem foi omisso, quem financiou e quem fez o vandalismo”. O deputado petista reforça que está em andamento uma CPI no âmbito do Distrito Federal. “Lá, os caras deles, como Anderson Torres, ficam em silêncio.”

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro e ex-secretário distrital de Segurança Pública, preso no dia 14 de janeiro, decidiu não depor na Câmara Legislativa do DF no último dia 23 de março.

Prisões em Brasília

Van Hatem entende que uma CPMI também é importante para que “abusos que ainda estão em andamento sejam cessados”. “Toda prisão ilegal é inconstitucional. Estive na Papuda e pude ver com meus próprios olhos como aquelas prisões, praticamente todas, foram ilegais, como as manutenções são ilegais”, afirma o vice-líder da oposição, analisando também as denúncias do Ministério Público como irregulares por não individualizar a conduta dos denunciados.

“Precisamos esclarecer esse assunto à população brasileira, com uma resposta justa. Muitos pais e mães de família, cidadãos que jamais cometeram crimes, foram taxados de terroristas”, diz o senador Heinze.

Bohn Gass minimiza a comissão, caso se confirme sua criação. “Não acredito que terá repercussão. A sociedade já compreendeu quem foram os baderneiros, os vândalos, que serão responsabilizados pela Justiça”, acredita o vice-líder do governo.


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