Moradores de Santa Maria pedem abertura de inquérito contra listas de "boicote a petistas"

Moradores de Santa Maria pedem abertura de inquérito contra listas de "boicote a petistas"

Casos foram registrados em outras cidades, como Santo Antônio da Patrulha, onde cidadãos se manifestaram na Câmara

Henrique Massaro

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Listas de boicotes a estabelecimentos e empreendedores que teriam votado no presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuam circulando em grupos de WhatsApp em diversas cidades mesmo depois de mais de uma semana do fim das eleições. A preocupação e as represálias sofridas levou os trabalhadores citados a acionarem as autoridades. Em Santo Antônio da Patrulha, por exemplo, moradores levaram a questão ao plenário da Câmara de Vereadores. Já em Santa Maria, 19 pessoas apresentaram uma notícia crime solicitando abertura de inquérito policial para investigar os fatos. 

A denúncia foi assinada pelo advogado Leonardo Santiago, vice-presidente da OAB/RS no município, também citado na lista de boicote. Os nomes que circulam listados como “estabelecimentos petistas”, envolvem, segundo a notícia crime apresentada na terça-feira, profissionais de diversas áreas, como fisioterapeutas, dentistas, médicos, advogados, comerciantes e empreendedores. “Pensei, num primeiro momento, que era uma piada, agora, eu recebo todos os dias prints, existem pessoas donas de estabelecimentos comerciais que estão sendo atacadas”, afirma Santiago. “Isso é um abalo nos estabelecimentos comerciais que sobreviveram em tempo de pandemia”, complementa. 

Na denúncia, o advogado aponta que as listas de boicote ferem as liberdades de manifestação do pensamento e de posição política, garantidas pela Constituição Federal, assim como a honra das pessoas citadas. Compara, ainda, a ação a atos do partido Nazista no século passado, comparação que também tem sido feita nas redes sociais. Santiago pede abertura do inquérito policial para averiguar os crimes de discriminação ideológica, difamação e possíveis crimes contra o Estado Democrático de Direito. Pede, ainda, que a polícia interrogue pessoas que estariam espalhando as listas e que sejam juntados documentos como prints, vídeos e postagens nas redes sociais. 

“Tem vídeos de pessoas falando para boicotar estabelecimentos comerciais pelo simples fato de se imaginar que aquela pessoa possa ser eleitora de alguém que elas não concordam”, explica o advogado, que disse também que há outros moradores de Santa Maria lhe procurando para fortalecer a denúncia. “A ideia é que com o passar do tempo eu vá trazendo para o interior desta investigação o incalculável prejuízo que essa ação está trazendo para o próprio desenvolvimento da cidade.”

Lista em Santo Antônio da Patrulha tem 35 nomes

As listas de boicotes têm sido noticiadas em diversas cidades. Em Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte, circulam 35 nomes em grupos de WhatsApp, não só de profissionais liberais, mas também de empresas, como uma fábrica de rapaduras com mais de 200 funcionários.

Após solicitarem ao PT a possibilidade de ocuparem a tribuna, cidadãos compareceram ao Legislativo na última terça-feira para uma manifestação. “Algumas pessoas perderam o controle da própria consciência, esqueceram que a sociedade é um corpo, estão tentando ferir alguns membros desse corpo, num gesto que beira o suicidio, um tiro no próprio pé”, disse Ane Ramos, representante do grupo. 

Em entrevista ao Correio do Povo, ela contou que consta duas vezes na lista, uma como fotógrafa e outra através de seu estúdio. Comentou, ainda, que sempre abriu seu voto, mas que não tem filiação partidária e que já trabalhou na produção das campanhas de candidatos de diferentes partidos. “A sensação de todos que foram citados é muito parecida. No primeiro dia, a gente dá risada, mas, quando começa a cair a ficha e se pensa na possibilidade de isso dar certo numa cidade como a nossa, se perde o sono”, explicou. 

A fotógrafa relatou que, até o momento, não foram registrados danos diretos a nenhum estabelecimento ou casos de violência. De acordo com ela, alguns vereadores se sensibilizaram com a situação e empresários mandaram mensagens privadas em apoio a sua manifestação. 


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