Mulher de Pizzolato diz que interesses políticos influenciam na extradição

Mulher de Pizzolato diz que interesses políticos influenciam na extradição

Andrea Haas afirmou que marido não teve um processo justo no Brasil

AE

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Andrea Haas, mulher de Henrique Pizzolato, condenado no processo do mensalão, participou nesta terça-feira de uma coletiva de imprensa organizada por parlamentares italianos da Comissão de Direitos Humanos do Senado para discutir o caso da extradição para o Brasil do ex-diretor do Banco do Brasil. "A gente acreditava na justiça italiana, mas estamos lutando contra o poder e interesses econômicos e políticos de dois países que estão prontos a sacrificarem, com uma assinatura, o direito e vida de uma pessoa", disse.

Andrea abriu sua rápida intervenção dizendo ser terrível pensar que Pizzolato possa ser extraditado e tenha que cumprir pena em uma penitenciária brasileira. Para ela, Pizzolato não teve um processo justo no Brasil, o que houve foi um processo político-midiático. "Henrique não era um político ou um ministro, mas pagou mais do que os outros, foi usado como bode expiatório para encobrir poderosos", diz.

A extradição de Pizzolato, decidida pelo governo italiano, foi suspensa pela segunda vez na última sexta-feira quando o Ministério da Justiça decidiu esperar até que o Conselho de Estado analise o recurso apresentado pela defesa do ex-diretor do Banco do Brasil.

Nessa segunda, em uma audiência preliminar de urgência, o presidente da 4ª sessão penal Riccardo Virgilio ouviu as partes do processo e acolheu o recurso, marcando para o dia 23 deste mês a audiência que deve julgar o caso.

Segundo os senadores, não são suficientes as garantias apresentadas pelo governo brasileiro de que Pizzolato terá seus direitos respeitados e não correrá risco de vida na penitenciária da Papuda, em Brasília, para onde seria transferido.

Para o senador Luigi Manconi, presidente da Comissão de Direitos Humanos, a ala de vulneráveis apresentada pelo governo não é definitiva. "O governo brasileiro deve ser claro sobre o que pretende fazer com Pizzolato. Ele irá a uma ala de vulneráveis onde não terá contato com presos comuns enquanto estiver no regime fechado, mas onde o colocarão quando passar ao regime semiaberto? Como podem garantir que não correrá perigo? Isso não foi esclarecido pelo governo brasileiro", disse.

O senador ainda lembrou que o ministro concedeu a extradição para cumprir obrigações de acordos de cooperação internacional com o Brasil, sem levar em conta a questão da reciprocidade - o Brasil não extradita cidadãos brasileiros.

"É suficiente ler os relatórios da Anistia Internacional e da (ONG) Human Rights Watch para ter certeza das condições desumanas das prisões brasileiras. Apesar disso, o Ministério da Justiça concedeu a extradição", criticou. "Por que mandar Pizzolato a um sistema que não garante o respeito dos direitos humanos e por que interromper um programa de ressocialização que ele já está seguindo em Modena quando existem modos para fazer com que ele cumpra sua pena de prisão na Itália?" Não é a primeira vez que o caso de Pizzolato é tratado no Senado italiano unindo políticos de partidos de esquerda e de direita. Um grupo de 21 senadores do partido democrático já havia escrito uma carta ao ministro Andrea Orlando pedindo que ele não concedesse a extradição do ex-diretor do BB. Em maio, após a decisão favorável de Orlando, também entrou em campo o senador Carlo Giovanardi, do partido Nuovo Centro Destra.

Processo Pizzolato fugiu do Brasil quando foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão no caso do mensalão. Mas acabou sendo preso em Maranello, norte da Itália em fevereiro de 2014. O processo de extradição já dura 18 meses.


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