Não queremos enxugar gelo, mas evitar que ele exista, diz Manuela d'Ávila, sobre discurso de ódio

Não queremos enxugar gelo, mas evitar que ele exista, diz Manuela d'Ávila, sobre discurso de ódio

Ex-deputada gaúcha estará à frente de grupo de trabalho do governo federal que discutirá educação para os direitos humanos

Mauren Xavier

Ex-deputada Manuela d'Ávila (PCdoB)

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À frente de um grupo de trabalho pioneiro no âmbito do governo federal que busca combater o discurso de ódio, a ex-deputada Manuela d'Ávila (PCdoB) acredita que é possível fazer uma mudança cultural e que passa por uma educação dos direitos humanos. Segundo ela, o assunto tem recebido mais atenção por parte da sociedade nos últimos anos e que, ao contrário da discussão sobre plataformas, o grupo concentrará atenção em um debate mais amplo. "Como nós podemos ter uma sociedade que, independente das plataformas, do algoritmo, seja uma sociedade que construa uma cultura de paz, uma cultura democrática e cidadã", destaca. 

Exatamente por isso o grupo estará vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e, como todos são voluntários, a previsão é que os debates ocorram de forma virtual. O primeiro encontro do grupo formado por cerca de 20 pessoas será no dia 6 de março. Segundo Manuela, a expectativa é concluir antes do prazo de 180 dias as atividades, que resultarão em propostas. Ela recorda que algumas países já realizaram esse debate, como a Alemanha e a Finlândia. "É preciso um pacto social para fazer o enfrentamento ao discurso de ódio", ressalta, complementando que não trata-se de "enxugar o gelo", mas de evitar que ele se forme. 

Com trabalhos acadêmicos na área, Manuela traz na bagagem episódios de violência nas redes sociais ao longo da sua carreira política, o que a motivou a inclusive criar o instituto "E se Fosse Você?", com publicações na área. Questionada sobre se é possível gerar mudanças no curto prazo, Manuela ressalta ter convicção de que sim.

"Há oito anos, quando sofri as primeiras agressões, ainda grávida, elas eram nas redes e vieram para as ruas e pouca gente valorizava. Muitos achavam que nós mesmas provocávamos essa violência e que aquilo era algo periférico. Nas eleições de 2018, muitos achavam que aquilo não era importante. Talvez a pandemia seja o momento que mais se percebeu o papel da desinformação no sentido mais global e o impacto geral que isso causa. Não é contra um. É contra todos", aponta.   

Sobre o processo de mudança de padrões na sociedade, ela cita como essencial o envolvimento das gerações mais jovens e da pactuação da sociedade. "Eu aposto muito na construção de caminhos que estejam vinculados às crianças e a conscientização das crianças. Uso como exemplo, um caso que não é vinculado ao mundo digital. Sou de uma geração que foi estimulada a ensinar os pais a usar o cinto de segurança", destaca.

Assim, defende que sejam pensados caminhos educacionais que envolvam as crianças. Parte dessa discussão sobre o combate ao discurso do ódio passa pelo combate à desinformação. Ela relembra inclusive que há várias razões que justificam o fato de as pessoas compartilharem esse tipo de conteúdo, como o caso de não distinguirem o que é verdade ou não. 


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