Na política, mulheres também lutam pela igualdade de gênero

Na política, mulheres também lutam pela igualdade de gênero

Dia Internacional da Mulher é oportunidade para refletir sobre discriminação

Bruna Cabrera

Na política, mulheres também lutam pela igualdade de gênero

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Apesar de serem de partidos diferentes e de exercerem papeis distintos dentro da política, a deputada estadual Any Ortiz (PPS), a secretária adjunta do Turismo Gabriela Markus (PMDB), a coordenadora-geral da bancada do PSol na Assembleia Legislativa Luciana Genro (PSol) e a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) têm a mesma opinião sobre o Dia Internacional da Mulher: é uma data de luta contra a discriminação de gênero. No último 3 de março, foi aprovado pela Câmara dos Deputados um projeto de lei do Senado Federal que altera o Código Penal e inclui o feminicídio na lista de homicídios qualificados, além de classificá-lo entre os crimes hediondos. A decisão foi uma conquista das mulheres brasileiras e um motivo antecipado para comemorar o dia de hoje.

Para Manuela D´Ávila, além desse último passo dado pela nova lei, a conquista do voto também foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento político feminino no País. Há 83 anos, em 24 de fevereiro de 1932, as mulheres passaram a ter direito ao voto no Brasil. “É uma conquista importantíssima, foi o que nos fez entrar no universo mais masculino de todos, que é o universo do poder”. A deputada também citou a Lei Maria da Penha que, segundo ela, fez o Estado reconhecer que existe uma violência contra a mulher que é causada em função do machismo.

A ideia é compartilhada por Luciana Genro, que defende a importância do feminismo dentro da política e o papel fundamental da mulher neste âmbito. “Quando as mulheres saíram do limbo de não cidadãs e foram chamadas a também opinar, foram desafiadas a pensar a política e, então, ocorreu o desenvolvimento da consciência política da mulher”.

Essas mulheres admitem que há preconceito na política, assim como em qualquer outra área. Gabriela Markus critica a posição dos partidos, que pedem a participação feminina, só que não encorajam o engajamento das candidatas. “Querem jovens na política, mas, quando entramos, dizem que somos muito novas. A política precisa de mais mulheres para concorrer, tanto que 30% dos candidatos precisam ser do sexo feminino, mas esse percentual não existe na Assembleia ou na Câmara. Existe uma diferença entre o que querem (partidos) e o que colocam em prática. Isso é uma questão cultural que a gente ainda carrega”, argumentou.

Luciana Genro reitera a dificuldade que as mulheres enfrentam para entrar na política. “Diferente dos homens, que quando chegam à política são respeitados a menos que se demonstrem ineptos, com a mulher ocorre o inverso. Somos vistas como a filha do ‘fulano’ ou a esposa do ‘cicrano’ que conquistou um cargo”. Segundo ela, é comum que essas mulheres conquistem cargos, porque em geral, quando se é filha ou mulher de um político, há mais suporte. “Enquanto que uma mulher que não tem essa ligação, vai ter mais dificuldade para que a família aceite ela na política”, completou.

Supervalorização da estética

As mulheres também enfrentam a supervalorização da questão estética. “Sempre há esse esforço de nos desqualificar pela nossa aparência. Seja ela boa ou ruim. Somos ‘coisificadas’ e eu peço que, quem estiver lendo faça a reflexão: quantas vezes viu comentários sobre o terno de Fernando Henrique (Cardoso) e quantas vezes ouviu comentários sobre as roupas da Dilma (Rousseff)”, solicitou Manuela. Para Any Ortiz, a beleza da mulher não deveria, mas atrapalha. “Precisamos mostrar o tempo todo a nossa capacidade. Isso é resultado de uma sociedade machista. Nunca vamos evoluir como sociedade se não acabarmos com as desigualdades e preconceitos. Há grande engajamento das mulheres nessas questões, mas só vamos avançar se essa luta for de homens e mulheres”, ponderou.

Para Luciana Genro a sociedade precisa mudar em um todo. De acordo com ela, as pessoas, mesmo sendo de esquerda e tendo consciência, em tese, são machista de forma involuntária e acabam reproduzindo padrões machistas da sociedade. “Buscamos combater isso conscientemente, mas em momentos de desatenção, falamos ou fazemos o que não deveríamos. A gente só vai ter uma sociedade mais feminista quando tivermos mais mulheres feministas, porque são elas que educam os homens”, concluiu ela.

Participação na política cresce

A dificuldade que a mulher enfrenta nas urnas, no entanto, já mostrou evolução. Dilma Rousseff (PT) é o principal símbolo desta luta pela igualdade. Ela foi a primeira mulher eleita presidente do País e, em 2014, foi reeleita para o cargo.

No Senado a representatividade vem crescendo. De acordo com o site da Casa, o percentual de mulheres entre senadores eleitos nas últimas eleições cresceu 3,5%. Dos 27 senadores eleitos em 2014, cinco são mulheres, o que representa 18,5% do total. Em 2010, quando 54 cadeiras foram disputadas, 15% delas foram dadas às mulheres.

A primeira representante do sexo feminino que chegou ao Senado mediante um processo eletivo foi Eunice Michilles, do Amazonas, em 1979. Ela era suplente e assumiu depois que João Bosco de Lima foi morto dois meses após ser eleito. No Império, a princesa Isabel também ocupou o cargo por direito dinástico. No entanto, apenas em 1990 é que foram eleitas as primeiras mulheres que se candidataram diretamente ao Senado: Júnia Marise, por Minas Gerais, e Marluce Pinto, por Roraima.

No Rio Grande do Sul, no entanto, a representatividade feminina diminuiu no parlamento. Dos 55 deputados eleitos para a Assembleia Legislativa, somente sete são mulheres, duas a menos do que na eleição anterior. Na Câmara Federal, onde há 31 representantes do Estado, apenas a deputada Maria do Rosário (PT) foi eleita.

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