No RS, cresce número de filiadas no PL, Republicanos e PSDB
Participação das mulheres na política voltou a ganhar a atenção com debates sobre a minirreforma e PEC da Anistia no Congresso
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Sem a aprovação em tempo das mudanças da minirreforma e da PEC da Anistia, que atingiriam as cotas femininas, as regras seguem inalteradas para as eleições municipais de 2024. Assim, os partidos ou federações deverão apresentar, ao mínimo, 30% das candidaturas destinadas às mulheres. No RS, conforme levantamento do Correio do Povo com dados do TSE, dos dez maiores partidos, sete perderam filiadas mulheres entre setembro de 2022 e de 2023. Apenas PL, Republicanos e PSDB agregaram novas integrantes aos seus quadros. Mesmo assim, nenhum deles teve crescimento superior a 3%.
PARTIDO | 2022 | 2023 | DIFERENÇA (%) |
PL | 11.902 | 12.220 | 2,7 |
REP | 16.039 | 16.292 | 1,6 |
PSDB | 43.953 | 44.143 | 0,4 |
PT | 61.600 | 61.277 | -0,5 |
PP | 87.915 | 87.333 | -0,7 |
MDB | 104.111 | 103.011 | -1 |
UNIÃO | 24.410 | 24.071 | -1,4 |
PSB | 26.718 | 26.310 | -1,5 |
PDT | 103.377 | 101.724 | -1,6 |
PTB | 53.338 | 52.297 | -1,9 |
O PL liderou o aumento de filiadas. A presidente do PL Mulheres, Adriane Cerini, no entanto, garante que em dados internos, não atualizados no TSE, a sigla ultrapassou 14,6 mil no RS. “Penso que é um conjunto de fatores que começa com a valorização das mulheres na política. Temos feito um trabalho de credibilidade e as pessoas confiam”, afirma. Um exemplo desses movimentos é a regra de as comissões provisórias em todas as esferas terem 50% de mulheres. Na eleição de 2020, o partido apresentou 36% de candidatas mulheres. O partido vem ampliando seus quadros desde o ingresso do ex-presidente Jair Bolsonaro, no ano passado. No caso das mulheres, Adriane acredita em uma identificação com a ex-primeira-dama Michelle.
Os Republicanos têm 16.292 mulheres no RS, tendo ampliado em 1,6% no último ano. Além disso, 55% dos filiados no Estado são mulheres, sendo o único do recorte onde elas superam o número de homens. “São números que vêm em um crescimento há algum tempo. Não vi em 48 anos de política o que recebi por parte do Republicanos. Seria injusto se nossos números não fossem estes”, diz a secretária estadual das Mulheres Republicanas no RS, Beth Colombo.
Presidente do PSDB Mulher, Zilá Breitenbach questionou a minirreforma eleitoral, criticando o formato aprovado pela Câmara e que depende de apreciação do Senado. Nele, para federações, a cota de 30% não valerá individualmente para o partido, mas sim para a federação. Assim, pode ficar restrito a um só partido a inscrição de mulheres na chapa. “É importante reconhecer que as cotas de gênero não são a solução definitiva para a sub-representação das mulheres na política, mas uma ferramenta valiosa para auxiliar a superarmos esse desafio. Em vez de impor restrições e critérios rigorosos, a minirreforma eleitoral deveria buscar maneiras de fortalecer e aprimorar o sistema de cotas de gênero, tornando-o mais inclusivo e eficaz”, diz em trecho de artigo publicado no CP. O PSDB está federado com o Cidadania. Para o levantamento, foi considerado o desempenho individual das siglas.
Alinhamento da agenda política, explica cientista política
Quanto aos partidos que ganharem filiadas estarem no espectro do centro para a direita, a doutora em Ciência Política e professora da Ufrgs, Cibele Cheron, destaca que partidos que se alinham mais à agenda neoliberal, de modo global, seguem o movimento de aparente incorporação de pautas igualitárias, porém sem efetivo compromisso com a desconstrução do sistema. “É necessário que se questione, para além da existência de mulheres nos quadros partidários, quais são as pautas que orientam sua atuação política, e em que medida essas pautas significam melhorias ou atenção às demandas reais das mulheres. Isso, evidentemente, se pressupormos que a presença das mulheres é efetiva, e não apenas figurativa”, ressalva.
Para ela, o avanço do reacionarismo e do conservadorismo favorece o alijamento da mulher do espaço político. “Exceção a este último quesitoé a presença de mulheres que reproduzem os discursos conservadores em espaços públicos, reforçando os papéis de gênero segundo os quais o feminino é associado à submissão e o masculino ao poder.”
Mais experientes na política
Em oito dos dez partidos, o maior contingente de mulheres filiadas está na faixa dos 60 anos de idade em diante. Cibele Cheron diz que muitos fatores impactam na questão etária, entre eles a necessidade de uma jornada mais longa por parte das mulheres, especialmente em movimentos sociais, organizações da sociedade civil e sindicatos até serem consideradas como atores políticos relevantes, enquanto os homens direcionam-se para a política como carreira desde cedo.
“Imbricam-se a isso as responsabilidades que ainda pesam mais sobre mulheres em idade produtiva e reprodutiva: mais qualificadas para o mercado de trabalho do que os homens, recebem salários proporcionalmente menores; acumulam trabalho doméstico não remunerado às jornadas de trabalho remunerado; respondem primariamente pelo cuidado com filhos e familiares; veem retardar a persecução de suas metas profissionais quando se tornam mães etc.”
Exceções são o PSB (45 a 59 anos) e o Republicanos (25 a 44 anos). Sobre essa atração junto a mulheres mais jovens, Beth Colombo diz que o Republicanos busca promover o “encantamento” das mulheres que se destacam na sociedade com a política. O partido promove ações de busca de lideranças femininas, além de premiações de mulheres não filiadas que se destacam em suas áreas de atuação.