No RS, cresce número de filiadas no PL, Republicanos e PSDB

No RS, cresce número de filiadas no PL, Republicanos e PSDB

Participação das mulheres na política voltou a ganhar a atenção com debates sobre a minirreforma e PEC da Anistia no Congresso 

Felipe Nabinger

publicidade

Sem a aprovação em tempo das mudanças da minirreforma e da PEC da Anistia, que atingiriam as cotas femininas, as regras seguem inalteradas para as eleições municipais de 2024. Assim, os partidos ou federações deverão apresentar, ao mínimo, 30% das candidaturas destinadas às mulheres. No RS, conforme levantamento do Correio do Povo com dados do TSE, dos dez maiores partidos, sete perderam filiadas mulheres entre setembro de 2022 e de 2023. Apenas PL, Republicanos e PSDB agregaram novas integrantes aos seus quadros. Mesmo assim, nenhum deles teve crescimento superior a 3%. 

Número de filiadas
PARTIDO 2022 2023 DIFERENÇA (%)
PL  11.902 12.220 2,7
REP 16.039 16.292 1,6
PSDB 43.953 44.143 0,4
PT  61.600 61.277  -0,5 
PP 87.915 87.333 -0,7
MDB 104.111 103.011 -1 
UNIÃO 24.410 24.071 -1,4
PSB 26.718 26.310 -1,5
PDT 103.377 101.724 -1,6 
PTB 53.338 52.297 -1,9

O PL liderou o aumento de filiadas. A presidente do PL Mulheres, Adriane Cerini, no entanto, garante que em dados internos, não atualizados no TSE, a sigla ultrapassou 14,6 mil no RS. “Penso que é um conjunto de fatores que começa com a valorização das mulheres na política. Temos feito um trabalho de credibilidade e as pessoas confiam”, afirma. Um exemplo desses movimentos é a regra de as comissões provisórias em todas as esferas terem 50% de mulheres. Na eleição de 2020, o partido apresentou 36% de candidatas mulheres. O partido vem ampliando seus quadros desde o ingresso do ex-presidente Jair Bolsonaro, no ano passado. No caso das mulheres, Adriane acredita em uma identificação com a ex-primeira-dama Michelle. 

Os Republicanos têm 16.292 mulheres no RS, tendo ampliado em 1,6% no último ano. Além disso, 55% dos filiados no Estado são mulheres, sendo o único do recorte onde elas superam o número de homens. “São números que vêm em um crescimento há algum tempo. Não vi em 48 anos de política o que recebi por parte do Republicanos. Seria injusto se nossos números não fossem estes”, diz a secretária estadual das Mulheres Republicanas no RS, Beth Colombo.

Presidente do PSDB Mulher, Zilá Breitenbach questionou a minirreforma eleitoral, criticando o formato aprovado pela Câmara e que depende de apreciação do Senado. Nele, para federações, a cota de 30% não valerá individualmente para o partido, mas sim para a federação. Assim, pode ficar restrito a um só partido a inscrição de mulheres na chapa. “É importante reconhecer que as cotas de gênero não são a solução definitiva para a sub-representação das mulheres na política, mas uma ferramenta valiosa para auxiliar a superarmos esse desafio. Em vez de impor restrições e critérios rigorosos, a minirreforma eleitoral deveria buscar maneiras de fortalecer e aprimorar o sistema de cotas de gênero, tornando-o mais inclusivo e eficaz”, diz em trecho de artigo publicado no CP. O PSDB está federado com o Cidadania. Para o levantamento, foi considerado o desempenho individual das siglas.

Alinhamento da agenda política, explica cientista política

Quanto aos partidos que ganharem filiadas estarem no espectro do centro para a direita, a doutora em Ciência Política e professora da Ufrgs, Cibele Cheron, destaca que partidos que se alinham mais à agenda neoliberal, de modo global, seguem o movimento de aparente incorporação de pautas igualitárias, porém sem efetivo compromisso com a desconstrução do sistema. “É necessário que se questione, para além da existência de mulheres nos quadros partidários, quais são as pautas que orientam sua atuação política, e em que medida essas pautas significam melhorias ou atenção às demandas reais das mulheres. Isso, evidentemente, se pressupormos que a presença das mulheres é efetiva, e não apenas figurativa”, ressalva.

Para ela, o avanço do reacionarismo e do conservadorismo favorece o alijamento da mulher do espaço político. “Exceção a este último quesitoé a presença de mulheres que reproduzem os discursos conservadores em espaços públicos, reforçando os papéis de gênero segundo os quais o feminino é associado à submissão e o masculino ao poder.”

Mais experientes na política

Em oito dos dez partidos, o maior contingente de mulheres filiadas está na faixa dos 60 anos de idade em diante.  Cibele Cheron diz que muitos fatores impactam na questão etária, entre eles a necessidade de uma jornada mais longa por parte das mulheres, especialmente em movimentos sociais, organizações da sociedade civil e sindicatos até serem consideradas como atores políticos relevantes, enquanto os homens direcionam-se para a política como carreira desde cedo.

“Imbricam-se a isso as responsabilidades que ainda pesam mais sobre mulheres em idade produtiva e reprodutiva: mais qualificadas para o mercado de trabalho do que os homens, recebem salários proporcionalmente menores; acumulam trabalho doméstico não remunerado às jornadas de trabalho remunerado; respondem primariamente pelo cuidado com filhos e familiares; veem retardar a persecução de suas metas profissionais quando se tornam mães etc.”

Exceções são o PSB (45 a 59 anos) e o Republicanos (25 a 44 anos). Sobre essa atração junto a mulheres mais jovens, Beth Colombo diz que o Republicanos busca promover o “encantamento” das mulheres que se destacam na sociedade com a política. O partido promove ações de busca de lideranças femininas, além de premiações de mulheres não filiadas que se destacam em suas áreas de atuação. 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895