Partidos consideram estratégia em ataques de Temer nas redes

Partidos consideram estratégia em ataques de Temer nas redes

Presidente postou no twitter vídeos em que confronta Alckmin e adverte Haddad

Flavia Bemfica

Partidos consideram estratégia em ataques de Temer nas redes

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Aliados históricos, protagonistas no processo que culminou com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, juntos no governo do presidente Michel Temer e defensores de propostas em comum, como a reforma trabalhista, o ajuste fiscal e a privatização de estatais, MDB e PSDB agora disputam espaço e se hostilizam no Estado e no País. Na mais recente demonstração de confronto, Temer usou o próprio twitter para, entre a noite de quarta-feira e a manhã desta quinta, divulgar dois vídeos nos quais desafia o candidato do PSDB à presidência Geraldo Alckmin: “Fale a verdade.”

No primeiro, elenca a participação de partidos do chamado Centrão, como o PP, o PTB e o DEM, aliados de Alckmin na corrida, em sua administração. No segundo, precedido da frase: “Peço novamente que honre com a verdade”, trata especificamente da participação do PSDB em seu governo. Em ambos, Temer chama Alckmin pelo primeiro nome, Geraldo, o que é visto como uma ironia à estratégia dos marqueteiros da campanha tucana, que usam ‘Geraldo’ como forma de aproximar o ex-governador de São Paulo do eleitorado e apresentá-lo como um candidato sensível aos problemas enfrentados pela população.

Lideranças do MDB gaúcho que orbitam em torno de Temer assinalam publicamente que ele decidiu entrar na campanha, responder à depreciação do governo feita por Alckmin na propaganda eleitoral e defender seu legado, já que as chances de que consiga fazer isso daqui para a frente são cada vez mais remotas. “É um partido que está confuso, o PSDB. Essas críticas que eles têm feito ao governo ou são oportunismo ou são falta de memória. Fazem no país e fazem no Estado a mesma coisa. O presidente reagiu, ele é de carne e osso também”, endossou o deputado federal emedebista e vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi.

“Nada mais justo do que o presidente fazer a defesa do seu governo. Neste momento da vida nacional, as pessoas estão procurando quem tenha convicção e coragem no que fala. O partido que tentar vender o que não é vai colher prejuízo. Lá e aqui o PSDB faz um esforço sobre-humano para se diferenciar do MDB. O problema é que, ao fazer isso, passa para a população uma profunda incoerência”, completou o deputado federal e presidente do MDB do RS, Alceu Moreira.

Internamente, contudo, emedebistas gaúchos admitem que as peças têm potencial bastante negativo sobre a campanha de Alckmin, que já enfrenta dificuldades para aumentar seus índices de intenção de voto e alcançar o segundo turno. No ninho tucano, as manifestações são consideradas ‘graves e desnecessárias’. A preocupação é com os reais motivos dos ataques, uma vez que, se sua origem fosse apenas a mágoa de pagar sozinho pelo desgaste gerado por medidas impopulares e a crise do país, Temer deveria voltar baterias também à candidatura do próprio partido, representada por Henrique Meirelles. Meirelles, assinalam os tucanos, ‘esqueceu’ do presidente na propaganda eleitoral e, para completar, dá destaque à sua participação no governo Lula. “Os vídeos são uma coisa muito séria e o Geraldo tem que responder. Ele tem capacidade para isso”, externou a deputada federal Yeda Crusius (PSDB).

A expectativa a respeito das motivações de Temer cerca tanto emedebistas como tucanos aumentou no início da tarde, quando ele postou um terceiro vídeo, desta vez atacando o candidato a vice-presidente pelo PT, Fernando Haddad, apontado como o substituto do ex-presidente Lula na cabeça de chapa. Lula, preso em Curitiba, teve a candidatura impugnada pelo TSE. “Bom, agora é aguardar para ver se ele critica também o Bolsonaro. Se fizer isso, é um cenário. Se não fizer, aí terá outras nuances”, resumiu um integrante do grupo gaúcho do MDB, externando uma das teses que ganharam corpo no partido: a possibilidade de que, indiretamente, o presidente possa, com suas manifestações, beneficiar a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).

Os três vídeos foram divulgados após a última sondagem do Ibope, sem o nome de Lula, indicar Bolsonaro na liderança. As especulações aumentam em função de uma série de movimentações observadas nas últimas semanas dentro do MDB, que incentivariam a estratégia do ‘cada um por si’. Entre elas, o apoio maciço de lideranças emedebistas do Nordeste a Lula, as querelas estaduais, como ocorre no RS, as dificuldades apresentadas por Meirelles, que aparece estagnado na última sondagem do Ibope, e as de Alckmin, que apesar do grande tempo na TV disputa espaço com Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), mas segue distante de Bolsonaro. Sob esta ótica, os vídeos de Temer funcionariam como uma forma de o presidente antecipar articulações e manter portas abertas visando a manutenção do poder do partido, ou pelo menos da parte que ele domina, a partir de 2019.

O MDB

Para o cientista político Bruno Lima Rocha, professor de Relações Internacionais e Jornalismo da Unisinos, o MDB deve seguir se articulando como uma federação de ‘oligarquias estaduais’ após as eleições deste ano. Lima Rocha projeta que o MDB do Nordeste e grupos como o do senador Renan Calheiros (RN) sairão fortalecidos do pleito, ao passo que, mantidas as condições atuais, a cúpula nacional que orbita em torno do presidente Michel Temer e “operadores políticos com atuação no Norte e Centro-Oeste, como o senador Romero Jucá (RR)” se enfraquecerão.

No RS, apesar do protagonismo dos gaúchos Eliseu Padilha, Darcísio Perondi e Alceu Moreira na administração Temer, e de o ex-governador Germano Rigotto ser vice na chapa encabeçada por Henrique Meirelles à presidência da República, o partido tende a conseguir, no conjunto, se desvencilhar do atual governo, como já está ocorrendo. O governador José Ivo Sartori, candidato à reeleição, não sofreu por enquanto impacto negativo. Para Lima Rocha, entre Padilha, Perondi e Moreira, apenas sobre Padilha recairá a vinculação explícita com a impopularidade de Temer. A situação, alerta o professor, se complica se o MDB não vencer as eleições estaduais. “Nesse caso sim o diretório gaúcho tende a ficar bastante fragilizado.”

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