Pazuello disse que avisou comando do Exército sobre motociata no Rio

Pazuello disse que avisou comando do Exército sobre motociata no Rio

Ex-ministro da Saúde diz que aceitou o convite de Bolsonaro para ir à motociata por respeito e "camaradagem"

AE

Pazuello adiou decisão sobre verba da saúde

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Por determinação da Controladoria-Geral da União (CGU), o Comando do Exército divulgou o processo administrativo aberto contra o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, em maio de 2021 e que, no governo Jair Bolsonaro (PL), foi colocado em sigilo por cem anos. A documentação tem apenas 17 páginas e se resume à defesa de Pazuello e à resposta do então comandante do Exército, Paulo Sergio Nogueira, absolvendo o oficial que havia participado de ato político ao lado de Bolsonaro, no Rio, em maio daquele ano.

Segundo o regimento disciplinar do Exército, militares não podem participar de eventos de caráter político sem autorização superior. Pazuello alegou que tinha avisado por telefone o comandante de que iria participar de uma motociata a convite de Bolsonaro. O comandante do Exército, ao analisar a defesa, confirmou ter sido comunicado e arquivou o caso seis dias após Pazuello apresentar sua defesa.

A defesa de Pazuello tem seis páginas. Ele diz que aceitou o convite de Bolsonaro para ir à motociata por respeito e "camaradagem". O ex-ministro da Saúde sustentou ainda que foi surpreendido ao ser convidado pelo então presidente para subir no carro de som e fazer discurso durante o ato realizado no Aterro do Flamengo, no Rio.

Surpresa

O general descreve também como ficou surpreso com o assédio de apoiadores do então presidente que o reconheceram mesmo de máscara. O general relatou que tentou se refugiar atrás do carro de som onde estava Bolsonaro, mas foi reconhecido. Um ajudante de ordens do então presidente o chamou para subir no caminhão, afirmou.

Com o microfone na mão, Pazuello disse que teve "poucos segundos" para pensar no que iria falar. E declarou que fez um pronunciamento curto, apenas para cumprimentar os motoqueiros. "Fala, galera. Não ia perder esse passeio de moto de jeito nenhum. Tamo junto, hein!", afirmou.

Durante o ato no Rio, Bolsonaro criticou a política de distanciamento social durante a pandemia. "Desde o começo eu disse que tínhamos dois grandes problemas: o vírus e o desemprego. Muitos governadores e prefeitos simplesmente ignoraram a grande maioria do povo brasileiro e, sem qualquer comprovação científica, decretaram lockdown, confinamento e toque de recolher", afirmou na ocasião. Estudos mostraram, contudo, que o lockdown diminui a chance de transmissão do coronavírus.

Bolsonaro ainda disse que o Exército não iria obrigar ninguém a ficar em casa. "Fique bem claro: o meu Exército Brasileiro jamais irá às ruas para manter vocês dentro de casa."

Ao analisar o processo disciplinar, o comandante da Força, que mais tarde seria nomeado ministro da Defesa, alegou que o ato não foi político.

O Exército vinha mantendo o processo em segredo. Sob alegação de que se tratava de informação pessoal, a Força usou um artigo da Lei de Acesso à Informação para impor sigilo de cem anos. Alegou ainda que a divulgação dos documentos poderia abalar o princípio da hierarquia militar.

Reserva

No fim do ano passado, o Estadão entrou com um novo pedido, lembrando que Pazuello já estava na reserva e tinha sido eleito deputado pelo PL. O caso foi analisado pela CGU já na gestão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a campanha, o petista havia prometido acabar com os segredos do governo Bolsonaro e citava o caso Pazuello.

A Controladoria-Geral determinou a divulgação do processo. O Exército acatou a ordem ontem, colocando tarjas apenas sobre as assinaturas dos militares.


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