Pedido de afastamento do presidente provoca debate no diretório do PSB no RS

Pedido de afastamento do presidente provoca debate no diretório do PSB no RS

Solicitação de 15 integrantes da executiva foi feita dias antes de reunião do colegiado; Bruck diz ser tentativa de "golpe"

Felipe Nabinger

Bruck afirma que não pedirá afastamento e nega as irregularidades

publicidade

Faltando pouco mais de um ano para as eleições municipais, o PSB gaúcho vive um momento de turbulência interna. No próximo sábado, o partido terá uma reunião de diretório que promete ser conturbada pois, embora a principal pauta, oficialmente, seja o planejamento para o pleito de 2024, um pedido de afastamento do presidente estadual da sigla, Mário Bruck, deve provocar os debates mais acalorados. Na semana passada, 15 integrantes da executiva, quase metade do colegiado, entregaram um pedido de afastamento de Bruck da presidência e da coordenação de bancada do partido na Assembleia Legislativa, motivado por denúncias aceitas contra ele pela Justiça Federal e Estadual, em maio e abril, por supostos crimes contra a administração pública.

A expectativa dos signatários, é que Bruck, no encontro de sábado, peça o afastamento, não descartando que o tema seja deliberado pelo diretório. Entretanto, ele rechaça a possibilidade. “Não há a menor hipóteses de eu pedir afastamento da presidência do partido. E também não acredito nessa deliberação do diretório. Ao contrário, tenho recebido diversas manifestações de apoio das direções municipais que, assim como eu, estão inconformadas com a condução do assunto por parte desta minoria que quer assumir o partido”, afirma Bruck, que diz ser vítima de uma tentativa de “golpe” visando troca de comando.

“O pedido de afastamento foi endereçado para nossa executiva e também enviado aos membros do nosso diretório. Ter a figura do presidente do partido, que ainda acumula a função de coordenador de nossa bancada na Assembleia Legislativa na condição de réu por crimes de peculato, organização criminosa, falsidade ideológica e estelionato é algo que não pode ser permitido por um partido sério”, entende Jefferson Muller, 1º vice-presidente e signatário do pedido.

Secretária-geral da executiva estadual e também uma das signatárias, Mari Machado diz que não se trata de um pré-julgamento, mas de uma oportunidade de o presidente tratar de sua defesa e proteger o partido. “Nós desejamos que seja de uma forma tranquila e sem fissuras. Não se trata de briga política. Estamos tratando da aceitação de denúncias.” A secretária-geral diz que, antes das movimentações no âmbito judicial, o grupo já vinha questionando o direito das minorias à opinião no diretório estadual.

“Não desejamos expurgar, nem sermos expurgados. Somos uma parcela importante, não uma minoria, temos trajetória”, afirma Mari. Juliano Paz, 3º vice-presidente estadual do PSB, entende esse tipo de declaração do presidente como uma “prova da incapacidade de dirigir o partido”. “É um erro moral e político querer reduzir a uma minoria numérica um grupo de homens e mulheres que fazem parte da história, da construção, da vida orgânica e eleitoral do PSB.”

Para ele, a maior preocupação é com o planejamento das eleições municipais. “Por isso, precisamos resolver essa situação no sábado e, somando todas as nossas lideranças, termos dedicação total para recuperar os espaços perdidos”, diz, referindo-se ao encontro no sábado, que ocorre no Plenarinho da Assembleia Legislativa.

Mario Bruck questiona o argumento dos integrantes do movimento que pede ser afastamento sobre a defesa do partido ser a motivação. Para ele, trazem aos holofotes um "assunto requentado" e de conhecimento da agremiação desde 2019. “Estranho que, mesmo sabendo do processo, os mesmos que assinam o requerimento me reconduziram à presidência da sigla no congresso do ano passado”, questiona o presidente, que afirma analisar reparação pois ele e a família estariam sendo “vítimas de abalo moral”.

Os processos judiciais

A 7ª Vara Criminal da Justiça Federal do RS aceitou, em maio, denúncia do Ministério Público Federal contra o presidente estadual do PSB, Mário Bruck. Conforme o MPF, ele seria o líder de uma organização criminosa que teria desviado recursos destinados às áreas de assistência social e saúde do Estado, através de um instituto sem fins lucrativos.

Em outro processo, esse correndo na 2ª Vara Criminal do Foro Central de Porto Alegre, o dirigente do PSB, que se tornou réu em abril deste ano, é apontado pelo Ministério Público Estadual como um dos participantes de desvios na Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). A autarquia é comandada, desde o início do segundo mandato do governador Eduardo Leite (PSDB), pelo partido, que faz parte base, tendo o ex-deputado federal José Stédile à frente.

Bruck nega as irregularidades. “Tenho mais de 35 anos de vida pública, nunca roubei nada, minhas contas foram vasculhadas e não encontraram absolutamente nada a não ser o salário que recebo com meu trabalho”, afirma. O presidente do partido diz que os processos tiveram “origem em uma denúncia anônima”, quando foi feita “uma montagem, de forma grosseira” da sua foto com o logotipo de uma empresa que prestou serviço ao instituto. Ele diz ter sido provado, por meio de perícia, ser falsa a referida imagem.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895