Petistas admitem primárias para tentar unir esquerda em Porto Alegre

Petistas admitem primárias para tentar unir esquerda em Porto Alegre

Processo é defendido pelo PSol e por lideranças do PT gaúcho, enquanto PDT diz que discussão é "conceitual"

Flavia Bemfica

Entre petistas, um dos pontos em debate é se o processo deve ser aberto ou fechado

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A 13 meses das eleições de 2020, parte das lideranças dos partidos que debatem a formação de uma frente de esquerda na disputa pela prefeitura de Porto Alegre decidiu trabalhar pela realização de primárias que definam, entre todas as siglas que venham a formar a frente, os nomes da majoritária. A opção já foi externada pelo PSol. No PT, é defendida por um grupo que inclui o ex-governador Tarso Genro, o ex-ministro Miguel Rossetto, a deputada Sofia Cavedon e os ex-secretários Carlos Pestana e Jorge Branco. Segundo Pestana, a proposta será lançada nos encontros municipais da sigla, que acontecerão em 8 de setembro, e definirão os novos comandos nas cidades. Entre petistas, um dos pontos em debate é se o processo deve ser aberto ou fechado.

Em primárias abertas um partido ou coalizão apresenta seus candidatos e toda a população interessada pode participar da escolha. Os mais votados depois disputam a eleição de fato. Em fechadas, apenas filiados votam. Tarso está entre os que avaliam que deve ser aberto e “com a visão de que, a priori, ninguém se coloca como cabeça de chapa.” Caso se confirme, a iniciativa marcará uma reviravolta na postura histórica do PT, de sempre articular a ocupação dos maiores e melhores espaços, o que motivou queixas recorrentes de aliados, e acabou por custar o fim de uniões importantes.  

“Minha opinião é de que é sim uma guinada, e de que precisa ser uma guinada. Se o partido não estiver preparado, deve se preparar rapidamente, porque o país não é mais o mesmo, as expectativas da população também não, e nós precisamos ter humildade de reconhecer tudo isso”, projeta o ex-governador. O vereador Roberto Robaina (PSol) também assinala a preferência por primárias abertas, nas quais vota quem quiser. “A identificação fica demonstrada na participação. É uma eleição dentro de um campo político antes da eleição de fato. E o resultado tem que ser respeitado. Nossa ideia é que a sociedade debata. Não adianta só negar o que está aí. É preciso afirmar algo novo.”

A ideia de um processo de primárias tem o nítido objetivo de reaproximação com setores da sociedade antes simpáticos, mas que se afastaram dos partidos de esquerda, como jovens e parcelas majoritárias da classe média. Na Capital, o PT faz ainda movimentos claros para tentar atrair o PSol à coalizão que encaminha com o PCdoB. Nos últimos anos o PSol abocanhou nichos tradicionais dos primeiros, e hoje ocupa três cadeiras na Câmara de Vereadores, apenas uma a menos do que os petistas. “Precisamos apresentar alternativas políticas fortes, com capacidade de vitória, e é óbvio que vamos respeitar as autonomias”, promete o ex-ministro Miguel Rossetto.

Apesar do discurso em prol de uma unidade, a realização de um processo conjunto de primárias para 2020 pode ficar no devaneio, em função das chamadas ‘diferenças internas’. PSol e PDT, por exemplo, optaram por não participar do evento na noite desta segunda-feira em Porto Alegre para discutir a formação de uma frente política nacional, e no qual o protagonismo está reservado para a presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, e para a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). Internamente, no PT, no PSol e no PCdoB, é considerada difícil a atração do PDT para um processo de primárias conjunto, apesar da simpatia de dirigentes. Regionalmente, o PSB, que no último sábado prestigiou a convenção municipal do MDB, é apontado como ainda mais distante.

“O fato de o PT e de outras legendas aceitarem primárias representa o entendimento de que a política é muito maior do que nossos partidos. E, ao discutí-las, Porto Alegre pode dar um grande exemplo para o país. Mas o debate, neste momento, é muito mais conceitual do que o de uma realização possível já na próxima eleição”, resume o presidente do PDT em Porto Alegre, vereador Mauro Zacher.

O processo

Em primárias partidárias, como ocorre em Portugal, meses antes das eleições de fato, siglas como o Partido Socialista (PS) e o Livre realizam processos próprios nos quais apresentam candidatos. E eleitores votam nos seus preferidos. Em alguns países, como Argentina e Uruguai, a realização de primárias faz parte do processo eleitoral oficial. Nos Estados Unidos, nos dois principais partidos, Democrata e Republicano, elas se caracterizam como uma corrida acirrada de definição de delegados que depois escolherão os candidatos. Os processos podem ser abertos, com a participação de toda a população interessada. Ou fechados, quando só os filiados do partido ou partidos em questão é que podem votar.


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