PP gaúcho prepara demonstração de força em convenção

PP gaúcho prepara demonstração de força em convenção

Partido anuncia nesta segunda outros nomes da chapa encabeçada por Covatti Filho, que será eleito por aclamação e assumirá presidência em setembro

Flavia Bemfica

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Empenhado em manter a posição de principal sigla do campo da direita no RS, em um cenário marcado pelo acirramento da concorrência, o PP gaúcho prepara uma convenção que, pretende, seja histórica, no próximo final de semana. A ideia do comando partidário é de que pelo menos 1,5 mil correligionários passem pelo auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa, a partir das 9h do sábado, 19, quando serão eleitos os 141 novos membros do diretório estadual. Entre as lideranças aguardadas estão os senadores Ciro Nogueira (PI), presidente nacional da legenda, e Tereza Cristina (MS).

A eleição do diretório e da executiva vem sendo trabalhada há meses para ser uma espécie de marco de renovação e valorização de novas lideranças. Nela, o deputado federal Luis Antonio Covatti (Covatti Filho) será escolhido por aclamação o novo presidente, substituindo o atual, Celso Bernardi, que soma, ao todo, 24 anos à frente da sigla no Estado.

O processo sucessório foi todo construído de forma a passar a ideia de unidade em torno de Covatti Filho, integrante de uma família prestigiada no PP, e que coleciona desempenhos eleitorais importantes. O pai, o ex-deputado federal Vilson Covatti, é hoje secretário estadual de Turismo. A mãe, Silvana Covatti, exerce o quinto mandato consecutivo na Assembleia e, em 2016, foi a primeira mulher a presidir o Parlamento gaúcho.

Após uma corrida interna menos pacífica do que demonstram as trocas públicas de elogios entre lideranças, os apoiadores do deputado conseguiram negociar que seu nome fosse o único na disputa. Na mesma linha, o PP articulou a formação de uma executiva que Covatti Filho define como ‘robusta’, a ser anunciada nesta segunda-feira. Vão compor a chapa como vice-presidentes os deputados federais Afonso Hamm e Pedro Westphalen, o estadual Joel Wilhelm e os prefeitos de Sapucaia do Sul, Volmir Rodrigues, e Condor, Valmir Land. O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, será secretário-geral.

Land, há poucos dias, havia apresentado seu nome para concorrer à presidência, mas o retirou na sexta-feira. Antes dele, o prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, também havia entrado na competição, e era o preferido de parte das lideranças. Em maio, contudo, sob a justificativa de questões pessoais, deixou a corrida. Agora, é abertamente cortejado pelo PL, e prometeu decidir seu destino até o final deste mês.

Ao trabalhar para evitar uma disputa aberta pelo comando, o PP explicitou sua preocupação com o crescimento de outras siglas do campo da direita ou que se identificam como centro, entre elas PL, Republicanos, PSD e Novo, que vêm intensificando o assédio sobre lideranças da legenda. “Já estamos trabalhando para contrapor este assédio. Contemplamos os vários segmentos do partido e sempre frisamos dentro da composição que, se estivéssemos divididos, isto poderia nos fragilizar. Queremos continuar a ser um dos maiores partidos do Estado. Por isto, o objetivo é focar muito nas eleições municipais do ano que vem e tentar entrar em grandes centros”, resume Covatti Filho.

“Aumentou a concorrência na direita? Aumentou. Os partidos de direita estão com mais musculatura. Isto requer, da nossa parte, mais trabalho, organização e competência. O que inclui mudar rotinas e formas de gestão, fazer renovações e, acima de tudo, ter unidade. Se líderes demonstram sua capacidade de união em um momento como este, isto se reflete muito positivamente na base”, completa Bernardi.

Progressistas tenta conter avanço da concorrência e se manter como maior sigla de direita no RS

Partido com o maior número de prefeitos (143), vices (119) e vereadores (1.274) do RS, o PP vai tentar, nas eleições do próximo ano, obter crescimento. “Nosso objetivo é fazer 150 prefeitos em 2024. Evidente que o cenário é muito diferente daquele de 2020, a começar pelo fato de que o governo federal agora é de esquerda, e isto sempre influencia, mas estamos com todo o Estado mapeado já”, adianta o atual presidente estadual, Celso Bernardi.

Para alcançar o objetivo, os movimentos que evitam a perda de lideranças para outras siglas, que tentam conter dissidências que acabam em desfiliações, ou que buscam atrair descontentes são determinantes. “É natural que partidos que querem crescer tentem atrair integrantes de outros. Assim como é natural que insatisfeitos nessas mesmas legendas busquem um partido mais estruturado, com propostas e valores e programa doutrinário consolidado, como o PP”, diz Bernardi, em um claro recado às investidas que outras legendas de direita fazem sobre quadros do Progressistas.

O caso das investidas ante o prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, é apenas o exemplo mais recente. Em março, o ex-vice-prefeito de Porto Alegre, Gustavo Paim, deixou o PP. Apesar de não ser um político de carreira, ele era filiado há 27 anos. Sua relação com a sigla, contudo, vinha se esgarçando desde a eleição de 2020, quando era candidato do partido à prefeitura da Capital e abandonou a disputa.

No ano passado, também em decorrência de desavenças que se acumulavam há anos, a ex-senadora Ana Amélia Lemos trocou o PP pelo PSD. Pelo novo partido, ela tentou retomar o mandato encerrado em 2018, mas não obteve sucesso, ficando em terceiro lugar. O PP, por sua vez, lançou ao Senado a vereadora por Porto Alegre Nádia Gerhard. Quando faltavam três dias para a eleição, contudo, Nádia abandonou a disputa e anunciou apoio a Hamilton Mourão (Republicanos). Mourão elegeu-se senador.

As confusões envolvendo o Senado não foram o único fato a acender um sinal de alerta no PP. Após a saída de Jerônimo Goergen, que deixou a vida pública, o partido acabou perdendo uma cadeira na Câmara Federal, elegendo três, ao invés de quatro deputados em 2022. E, no pleito para o governo do Estado, o resultado ficou muito aquém do que havia sido projetado incialmente. O candidato da sigla, o senador Luis Carlos Heinze, viu seus votos serem drenados rapidamente por Onyx Lorenzoni (PL), com quem competia pelo mesmo eleitorado. No primeiro turno, enquanto Onyx contabilizou 2,3 milhões de votos, garantindo o ingresso no segundo turno, onde acabaria também derrotado, Heinze fez pouco mais de 271 mil. Entre todos os cargos em disputa, foi naqueles do Legislativo estadual que o PP obteve seu melhor desempenho, conseguindo manter as sete cadeiras que detinha anteriormente.

A legenda também redobrou a atenção a negociações com políticos que estudam trocar de agremiação. No radar estão pelo menos dois casos recentes. Um deles aconteceu no ano passado. Em função da implosão do PSL, o PP disputou com o Republicanos a filiação do então deputado estadual Luciano Zucco, que trazia no currículo a maior votação para a Assembleia Legislativa em 2018. O parlamentar acabou optando pelo Republicanos que, assim, fez em 2022 o deputado federal mais votado do RS.

Também no início do ano passado, quem ensaiou voltar ao PP foi o deputado federal Marcel van Hattem (Novo), mas as negociações não avançaram. Segundo mais votado para a Câmara Federal em 2022, o parlamentar foi uma das apostas do PP na década passada. Eleito suplente para a Assembleia em 2014, acabou assumindo o mandato em 2015 e ganhou projeção. Em 2018, contudo, migrou para o Novo. Pela nova sigla, elegeu-se naquele ano o mais votado do RS para a Câmara Federal.

Celso Bernardi, que permaneceu 24 anos à frente da legenda, relembra melhores e piores momentos

O deputado federal Covatti Filho já anunciou aos correligionários que, após assumir a presidência do PP gaúcho, em setembro, pretende convidar o atual presidente, Celso Bernardi, para que siga marcando presença na sede do partido e realizando atendimentos e reuniões, como acontece hoje.

“É uma renovação, e ela é importante porque quando as renovações partidárias não acontecem, acabam dando margem também para que outras legendas cresçam e busquem esta liderança que o partido tem hoje. Mas o Celso tem 24 anos à frente do PP, de todo esse trabalho de construção e organização partidária, por isto também é um grande desafio”, resume Covatti Filho.

Bernardi cumpriu um período de 12 anos como presidente do PP gaúcho entre os anos de 1993 e 2005. Nesta segunda etapa, está no comando desde 2011. É tanto tempo que há quem nem lembre de outros dirigentes. Após praticamente um quarto de século à frente da sigla, ele não titubeia em apontar os melhores e piores momentos.

“O melhor de tudo foram as eleições em que tivemos candidatos para o governo do Estado. É muito importante participar de uma majoritária. O pior momento não tem como esquecer também. Foi o dia 6 de março de 2015. Aquele em que tomamos conhecimento de uma lista baseada em uma delação mentirosa, que colocava toda nossa bancada federal no meio de um escândalo”, relembra.

Aos 80 anos, o presidente diz que na vida de articulações políticas das quais participou, dois lugares para ele são marcantes. A sala da sede estadual na Praça Marechal Deodoro com a galeria de dirigentes, onde ocorrem as reuniões partidárias, e a sala Castelo Branco, na Assembleia Legislativa. “Ao redor daquelas duas mesas varamos noites e travamos debates entusiasmados. Elas guardam muito da história do RS”, resume.


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