Presidente do Tribunal Militar diz que áudios sobre torturas não estragaram "a Páscoa de ninguém"

Presidente do Tribunal Militar diz que áudios sobre torturas não estragaram "a Páscoa de ninguém"

Diálogos divulgados revelam ministros do STM confirmando casos de tortura promovida por militares durante a ditadura

R7

Ministro ironizou áudios torturados

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Presidente do STM (Superior Tribunal Militar), ministro general Luis Carlos Gomes Mattos, ironizou, nesta terça-feira, durante sessão de julgamento no plenário da Corte, áudios da década de 1970 de conversas de integrantes do tribunal que comprovam torturas promovidas por militares durante a ditadura militar. "Aconteceu aí durante a Páscoa, garanto que não estragou a Páscoa de ninguém. Porque a minha não estragou. Não estragou a Páscoa de nenhum de nós", disse.

Os áudios foram revelados no último domingo, no jornal O Globo, pela jornalista Miriam Leitão, que foi torturada durante a ditadura. As conversas foram obtidas e analisadas pelo professor de história do Brasil da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Carlos Fico. Os áudios mostram diálogos de ministros do STM durante sessões, e comprovam que militares torturavam pessoas contrárias ao regime. 

Em um dos trechos, na sessão de 19 de outubro de 1976 do tribunal militar, o ministro almirante Júlio de Sá Bierrenbach afirma que “o que não podemos admitir é que o homem, depois de preso, tenha sua integridade física atingida por indivíduos covardes, na maioria das vezes, de pior caráter que o encarcerado”.

“Já é tempo de acabarmos de uma vez por todas com os métodos adotados por certos setores policiais de fabricarem indiciados, extraindo-lhes depoimentos, perversamente, pelos meios mais torpes, fazendo com que eles declarem delitos que nunca cometeram, obrigando-os a assinar declarações que nunca prestaram, e tudo isso é realizado por policiais sádicos, a fim de manterem elevadas as suas estatísticas de eficiência nos esclarecimentos de crimes”, declara.

O presidente do STM disse que decidiu não divulgar nenhuma nota. "Simplesmente ignoramos uma notícia tendenciosa daquela, que nós sabemos o motivo", disse nesta terça-feira, sem mais detalhes. O ministro sinalizou que as Forças Armadas têm sido atacadas por "várias direções" nos últimos dias e decidiu que não daria nenhuma resposta às informações divulgadas que confirmam casos de tortura.


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