Rússia e China denunciam no G20 "chantagens e ameaças" do Ocidente

Rússia e China denunciam no G20 "chantagens e ameaças" do Ocidente

Guerra na Ucrânia domina debate do encontro e acirra os ânimos entre os países

AFP

Reunião entre o bloco ocorre na índia

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Rússia e China acusaram nesta quinta-feira (2), durante uma reunião do G20, os países ocidentais de recorrer a "ameaças" e "chantagens" para impor seus pontos de vista, em um momento de profundas divisões no bloco das maiores economias do mundo por causa da guerra na Ucrânia.

A Índia desejava concentrar seu período na presidência do G20 em temas como a redução da pobreza e o financiamento de medidas climáticas, mas a guerra na Ucrânia ofuscou as outras questões, como demonstrou o encontro de ministros das Relações Exteriores em Nova Délhi.

Após uma reunião paralela ao G20 entre os ministros da Rússia, Serguei Lavrov, e da China, Qin Gang, Moscou divulgou uma declaração com duras críticas ao Ocidente. Os dois ministros "rejeitaram as tentativas de interferência nos assuntos internos de outros países, de impor abordagens unilaterais por meio de chantagens e ameaças", afirmou a diplomacia russa no comunicado

O evento em Nova Délhi reuniu no mesmo salão Lavrov e o secretário de Estado americano, Antony Blinken, pela primeira vez desde julho. Blinken e Lavrov tiveram um breve encontro, o primeiro encontro desse tipo desde o início da guerra na Ucrânia, segundo uma fonte do governo de Washington.

À margem das discussões do G20, Blinken manifestou a Lavrov o compromisso dos Estados Unidos de apoiar a Ucrânia, pressionou a Rússia a voltar atrás em sua decisão de suspender o tratado nuclear Novo START e pediu a libertação do prisioneiro americano Paul Whelan, disse a fonte americana, que pediu para não ser identificada.

"Sempre temos a esperança de que os russos revertam a decisão e estejam preparados para participar em um processo diplomático que possa levar a uma paz justa e duradoura", acrescentou a fonte. "Mas não diria que ao sair do encontro estamos com expectativas de que as coisas mudem no curto prazo", explicou.

O governo dos Estados Unidos afirma que a China está considerando a possibilidade de fornecer armas à Rússia. Os representantes da diplomacia ocidental esperavam utilizar o encontro de ministros para dissuadir Pequim de participar no conflito.

Em meio às divergências, Lavrov afirmou que a reunião do G20 não divulgará um comunicado final e culpou o Ocidente pelo fracasso. A posição russa foi apoiada pela China. Os dois países foram os únicos membros do G20 que não concordaram com a declaração que exigia "a retirada completa e incondicional da Rússia do território da Ucrânia."

"A declaração foi bloqueada e o resultado da discussão será descrito em um resumo que será divulgado pela presidência indiana", declarou o diplomata russo. A presidência indiana do G20 confirmou que uma declaração conjunta não será divulgada devido às divergências provocadas pelo conflito na Ucrânia.

 Acordo sobre cereais 

Durante a reunião, Blinken exigiu que a Rússia renove um acordo mediado pela ONU para permitir a exportação de cereais ucranianos, que expira este mês. "A Rússia diminuiu deliberada e sistematicamente o ritmo das inspeções, criando um acúmulo de navios que poderiam estar entregando alimentos ao mundo hoje", disse Blinken.

"É imperativo que o G20 se pronuncie a favor de prolongar e expandir a iniciativa de grãos para fortalecer a segurança alimentar dos mais vulneráveis", acrescentou.

A Iniciativa de Grãos do Mar Negro foi negociada com a mediação da ONU e da Turquia em julho do ano passado. O acordo aliviou a escalada dos preços dos alimentos, cenário que havia aumentado a fome nos países em desenvolvimento. O acordo chega ao fim este mês.

O acordo foi renovado em novembro, mas o coordenador de ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths, alertou para as dificuldades de obter uma nova prorrogação antes do fim do pacto, em 18 de março. A iniciativa permitiu a exportação de quase 20 milhões de toneladas de grãos.

A invasão da Rússia contra a Ucrânia bloqueou o tráfego de navios por uma região considerada o celeiro do comércio mundial devido às preocupações expressadas por Moscou ante possíveis ações navais ucranianas.

 Superar divergências 

No início do encontro do G20, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pediu que os países superem as divergências a respeito da Ucrânia e afirmou que a governança mundial "fracassou".

"A experiência dos últimos anos - crise financeira, mudança climática, pandemia, terrorismo e guerras - claramente demonstra que a governança mundial fracassou", disse Modi.

"Nos reunimos em um período de profundas divisões globais (...) Temos nossas posições e perspectivas sobre como as tensões podem ser solucionadas. Porém, como grandes economias mundiais, também somos responsáveis por aqueles que não estão neste salão.

A ministra francesa das Relações Exteriores, Catherine Colonna, pediu ao G20 uma "resposta clara" à guerra, como fez no ano passado em uma reunião em Bali.

Ela chamou o conflito de "guerra suja que viola todas as leis da guerra e da humanidade básica". A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, durante visita à Ucrânia, afirmou que seu governo "não tem a intenção de reduzir" o apoio a Kiev.

A reunião desta quinta-feira do G20 acontece pouco depois do encontro dos ministros das Finanças em Bangalore, que também não chegou a um acordo para uma declaração final pelas divergências a respeito da Ucrânia.

A Índia não condenou a invasão da Ucrânia, mas Modi afirmou no ano passado ao presidente russo, Vladimir Putin, que "não era tempo para uma guerra", uma declaração considerada uma crítica a Moscou.

 


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