"Revolta" por inelegibilidade de Bolsonaro pode ajudar PL no Rio Grande do Sul

"Revolta" por inelegibilidade de Bolsonaro pode ajudar PL no Rio Grande do Sul

Lideranças gaúchas da sigla, que tentam alterar situação por meio de projetos de lei, projetam crescimento na próxima eleição

Felipe Nabinger

Bolsonaro esteve no RS em evento de filiações do PL no dia 23 de junho

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A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tornou Jair Bolsonaro inelegível por oito anos, na semana passada, é vista como um fator que pode potencializar no Estado o PL, partido do ex-presidente, atraindo eleitores desgostosos com a punição, com potencial de eleger filiados da sigla nas eleições municipais do ano que vem. Essa visão é das lideranças do partido, embora adversários vejam que a decisão fragmente o campo bolsonarista.

"Lamentamos a decisão equivocada do TSE, mas vai deixar o povo mais revoltado ainda. E vão fazer 2024 a resposta nas urnas", afirma o presidente estadual do PL, deputado federal Giovani Cherini. 

O também deputado federal Bibo Nunes (PL) diz que a situação "empolga" militantes do PL, com mais pessoas buscando candidaturas nos municípios gaúchos em 2024.

"Foi um impulso, um grande ânimo em meio aos patriotas". A meta, valendo-se dessa “revolta”, citada por Cherini, é eleger cem prefeitos, 80 vices e 500 vereadores no RS. Atualmente, o partido conta com 19 prefeitos, 27 vices e 90 vereadores no RS.

Decisão "comemorada"

Para o professor do Programa de Pós-graduação (PPG) em Ciência Política da Ufrgs, Rodrigo Stumpf González, a condenação, mesmo que não publicamente, pode ser "comemorada". Ele entende que, mesmo havendo uma sanção pessoal a Bolsonaro, o bolsonarismo pode se valer eleitoralmente da situação.

"Bolsonaro vinha tendo sua imagem prejudicada nos últimos meses por escândalos de maior ou menor monta. O julgamento e uma condenação, de alguma forma, ajudam a reforçar a noção que ele vinha tentando mostrar de uma vítima do sistema." González enfatiza, no entanto, que discussões de natureza mais ideológica acabam ficando em segundo plano em eleições municipais. 

"Os eleitores locais são menos inflamados por esse tipo de debate e mais preocupados com quem vai tapar o buraco da rua, manter o lixo sendo recolhido. Pode, sim, influenciar os processos de aliança. No sentido que algum nome ligado ao bolsonarismo possa se projetar como candidatura viável e fortalecer alianças."

Esquerda vê fragmentação

Em outra frente, a deputada federal Maria do Rosário (PT), acredita que a fragmentação no campo da direita, com a saída de Bolsonaro do cenário, abre brechas. Ela diz estar "pessoalmente engajada" para que, em Porto Alegre, o campo mais à esquerda aproveite essa fragmentação.

"Na Capital, acredito que há espaço para uma candidatura progressista que reúna em si todos os setores da esquerda e que consiga, ainda, dialogar com a amplitude dos setores democráticos, enfrentando a gestão atual, que, agora, se encontra órfã por conta da decisão do TSE. Sabemos das predileções do atual prefeito", diz.

Em Porto Alegre, o PL, partido de Bolsonaro, já garantiu apoio a Sebastião Melo (MDB) para a reeleição, tendo como vice novamente Ricardo Gomes (PL).

Projetos buscam reversão

Partiram de parlamentares gaúchos os primeiros movimentos práticos buscando, de alguma forma, a reversão da inelegibilidade de Bolsonaro. Na última sexta-feira, foi protocolado um projeto de lei na Câmara dos Deputados, de autoria de Ubiratan Sanderson (PL). O texto defende anistia a todos os casos de ilícitos eleitorais civis.

"Nem crime eleitoral é. Falando entre aspas seria um crime de menor potencial ofensivo." O projeto exclui da anistia casos de crimes hediondos, racismo, terrorismo e corrupção.

Sobre o caso do ex-presidente, o parlamentar entende que o processo foi "sem relevância penal alguma" e que o intuito da condenação seria "calar o maior líder da direita do Brasil e um dos maiores líderes mundo afora".

Um outro projeto deve ser protocolado na manhã desta terça-feira. De autoria de Bibo Nunes, o texto prevê a redução da inelegibilidade de oito para dois anos. Segundo ele, a justiça comum é quem vai penalizar políticos corruptos, que seguirão sem poder concorrer por conta da Lei da Ficha Limpa.

"Não é justo o que aconteceu com Bolsonaro. Por uma fala com embaixadores que sequer vota no Brasil, por uma opinião, ficar oito anos inelegível", afirma. Já Cherini garante que o PL vai "lutar com unhas e dentes" para que Bolsonaro possa disputar as eleições presidenciais em 2026.

 


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