Sem conciliar os 'dois brasis', Lula chama governadores para ato por um ano do 8/1

Sem conciliar os 'dois brasis', Lula chama governadores para ato por um ano do 8/1

Presidente disse que ataques foram uma tentativa de golpe, que foi debelada

Estadão Conteúdo

Lula convidou governadores para um ato no próximo dia 8 de janeiro

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou nesta terça, 12, governadores para um ato no próximo dia 8 de janeiro, quando se completa um ano dos ataques às sedes dos Poderes, em Brasília. De acordo com Lula, os ataques foram uma tentativa de golpe, que foi debelada. Em solenidade no Palácio do Planalto, na qual estavam presentes quatro chefes dos Executivos estaduais - os lulistas Helder Barbalho (MDB-PA) e Fábio Mitidieri (PSD-SE), e os bolsonaristas Eduardo Riedel (PSDB-MS) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) -, o petista voltou a falar em coesão pró-democracia entre líderes políticos e empresariais. Apesar da pretensão do presidente, o primeiro ano de seu terceiro mandato não será marcado pela reconciliação nacional.

Lula tomou posse em 1.º de janeiro destacando a 'necessidade de unir o País' e ressaltando que 'não existem dois Brasis'. No entanto, nas semanas que se seguiram à chegada ao poder pela terceira vez, o chefe do Executivo federal fez uma série de declarações nas quais sugere a disputa entre grupos antagônicos na sociedade, tanto nas preferências políticas quanto em relação a classes sociais. Quase um mês após a invasão das sedes dos três Poderes, no início de fevereiro, o petista afirmou que os atos golpistas na capital federal foram obra dos 'ricos que perderam as eleições'.

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O Planalto, sob seu comando, também não conseguiu segurar a instalação de uma CPI Mista sobre o 8 de Janeiro no Congresso. A comissão virou basicamente um palco de embates entre governistas e oposicionistas, ampliando a agressiva polarização que envolve a esquerda - capitaneada pelo PT - e a direita mais radical - representada principalmente pelos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No dia seguinte aos ataques de 8 de janeiro, Lula reuniu governadores no Palácio do Planalto e liderou um ato contra a ação dos radicais. A comitiva formada por políticos e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) atravessou a Praça dos Três Poderes a pé para visitar a sede depredada da Corte.

Ontem, o presidente sugeriu a repetição do gesto. 'Estou convidando todos os governadores porque no dia 8 de janeiro nós vamos fazer um ato aqui em Brasília para lembrar o povo que tentou-se dar um golpe dia 8 de janeiro e que ele foi debelado pela democracia desse país', afirmou durante cerimônia sobre financiamento de obras nos Estados por bancos federais.

'Pretendo ter todos os governadores aqui, deputados, senadores, empresários, para a gente nunca mais deixar as pessoas colocarem em dúvida que o regime democrático é a única coisa que dá certeza das instituições funcionarem e o povo ter acesso a participar da riqueza que ele produz. O restante é balela', disse Lula.

O 8 de janeiro também acentuou o desgaste na imagem do Supremo. A extensão das prisões e a condução dos processos dos réus geraram críticas contundentes à Corte, inclusive da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

'Bordões fascistas'

Relator das ações resultantes dos ataques aos prédios dos três Poderes, o ministro Alexandre de Moraes rebateu as críticas ao modo como vem lidando com os réus pelos atos antidemocráticos. Para ele, quem critica o tratamento penitenciário aos processados 'nunca se preocupou com os 700 mil presos brasileiros'.

'Enquanto não havia gente ligada a essas pessoas, elas tinham bordões fascistas em relação àqueles que cometiam crimes', disse Moraes em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. 'Nunca defenderam o que elas (os réus) têm agora no Supremo, devido processo legal, direito a advogado, a um julgamento por 11 ministros'.

Para o ministro do STF, que foi ovacionado com gritos de 'Xandão' anteontem no Palácio do Planalto, não há excessos na condução dos processos e as penas elevadas se explicam pela gravidade e cumulatividade dos crimes enquadrados. A resposta dos representantes das instituições republicanas ao convite de Lula vai indicar o quanto os 'dois Brasis' foram unidos ou o quanto se mantêm separados.


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