Temer deve pedir harmonia entre Poderes na posse de Raquel Dodge na PGR

Temer deve pedir harmonia entre Poderes na posse de Raquel Dodge na PGR

Presidente não deve fazer menção ao ex-procurador Rodrigo Janot

AE

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 Em guerra declarada com o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer vai adotar um tom conciliador e defender a independência e maior harmonia entre os Poderes no discurso que fará nesta segunda-feira na posse de Raquel Dodge. Ela é a primeira mulher a assumir a Procuradoria-Geral da República (PGR), o que também será destacado na fala do presidente. A expectativa é de que Temer não faça menção a Janot em seu breve discurso na cerimônia, marcada para as 8h, na sede da instituição.

Em seguida, o presidente embarca para os Estados Unidos, onde participa da Assembleia-Geral da ONU. Alvo de duas denúncias e um inquérito apresentados na gestão de Janot, o presidente pretende chamar a atenção para a participação feminina no comando de órgãos ligados ao Judiciário – além de Raquel no Ministério Público Federal, Cármen Lúcia no Supremo Tribunal Federal (STF) e Laurita Vaz no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Outro desafeto do ex-PGR, o ministro Gilmar Mendes, do STF, também tem presença confirmada na cerimônia desta segunda-feira. Há dez dias, o ministro chegou a dizer que Janot foi o procurador-geral “mais desqualificado da história”.

Janot deixa o cargo após enfrentar o seu pior momento – em suas próprias palavras – na reta final do mandato. O ex-procurador rescindiu na semana passada o acordo de colaboração premiada com executivos do Grupo J&F após suspeitas de “jogo duplo” de um de seus auxiliares, o ex-procurador Marcello Miller, que teria orientado a delação. O desfecho do acordo, o mais bombástico da gestão de Janot tanto pelos benefícios aos delatores como por acusar diretamente o presidente da República, abriu brecha para uma série de críticas ao ex-procurador-geral.

Mudanças 

A nova procuradora-geral toma posse com a expectativa de ter uma atuação mais discreta e menos midiática do que seu antecessor, e sob incertezas do rumo que pretende dar à Operação Lava Jato.

A nova chefe do Ministério Público Federal já sinalizou que mudará a equipe e terá como um dos focos evitar vazamentos de informações dos processos – outro motivo de crítica recorrente a Janot. Na tarde de anteontem, dois procuradores que atuam na Operação Lava Jato foram avisados de que serão dispensados em 30 dias das funções.

O procurador José Alfredo de Paula Silva, coordenador do grupo de trabalho da Lava Jato na gestão de Raquel, avisou a Rodrigo Telles e Fernando Antonio de Alencar que serão dispensados da equipe. Ambos haviam manifestado vontade de permanecer no grupo de trabalho.

Raquel também já sinalizou que quer dar atenção a outras áreas, não só à Lava Jato. Exemplo disso é que seu vice, Luciano Mariz Maia, tem uma atuação voltada para questões de direitos indígenas. Ele é coordenador da Câmara de Coordenação e Revisão de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, tendo sido por quatro anos procurador federal dos Direitos do Cidadão adjunto. Raquel também pretende incluir mais mulheres em sua equipe.

Entre políticos que passaram a ser investigados durante a gestão de Janot, a expectativa em relação a Raquel é de que ela conduza os trabalhos de forma bem diferente de seu antecessor. “É uma mudança completa de postura, de uma pessoa que, espero, vá cumprir o seu dever. Não queremos o perfil de um procurador que tira foto ao lado de um cartaz dizendo que ele é a salvação do Brasil”, afirmou ao Estado o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do seu partido, um dos mais envolvidos em suspeitas na Lava Jato.

Saída 

Janot não participará da solenidade. Na sexta-feira, em seu último dia útil como procurador-geral, ele se despediu do cargo em uma cerimônia interna com apenas servidores. Janot fez um balanço da gestão e ganhou de presente um arco e flecha, enviado pela tribo Xokó, de Sergipe. O presente foi uma alusão à frase “enquanto houver bambu, lá vai flecha”, dita por ele na reta final de seu mandato logo após apresentar a primeira denúncia contra Temer por corrupção passiva

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