Valdemar diz que usou "metáfora" ao falar sobre minuta do golpe

Valdemar diz que usou "metáfora" ao falar sobre minuta do golpe

Presidente do Partido Liberal (PL) disse à Polícia Federal que documentos chegavam até ele sem identificação

AE

Presidente do Partido Liberal (PL) disse à Polícia Federal que documentos chegavam até ele sem identificação e pareciam "mal elaborados

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O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, prestou depoimento ontem à Polícia Federal e negou ter participado da elaboração da minuta golpista apreendida na casa do ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro Anderson Torres - que está preso preventivamente. Ele também concordou em entregar o celular para perícia.

O político afirmou que não tem conhecimento das "circunstâncias" da elaboração do documento e não soube dizer se houve uma reunião para tratar da proposta de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para anular o resultado da eleição presidencial de outubro, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva.

Valdemar foi intimado pela PF após tentar minimizar a apreensão da minuta na casa de Torres ao declarar, em entrevista ao jornal O Globo, que recebeu e descartou diversas propostas de golpe. Em depoimento, o presidente do PL afirmou que usou uma "metáfora" ao dizer, na entrevista, que "isso tinha na casa de todo mundo" - em referência à minuta. Ele disse ter usado uma "força de expressão" ao afirmar que várias pessoas também tinham o documento.

O líder partidário disse que esses papéis chegavam até ele sem identificação e pareciam "mal elaborados", produzidos por pessoas "sem experiência". O termo de depoimento cita "três ou quatro" propostas diferentes. Duas delas teriam sido recebidas, segundo Valdemar, em "eventos políticos". Uma, segundo ele, foi entregue no aeroporto por uma mulher que teria se identificado como advogada.

Descarte

Ao delegado da PF Jacob Guilherme da Silveira Farias de Melo, Valdemar disse que não abria imediatamente os papéis que recebia. E relatou que, quando abriu, percebeu que se tratava de uma proposta para acionar o artigo 142 da Constituição e jogou fora. Esse dispositivo constitucional é frequentemente citado por bolsonaristas radicais numa interpretação errônea de que as Forças Armadas poderiam ser acionadas para atuar como poder moderador e, segundo essa versão, garantir a permanência de Bolsonaro na Presidência.

Valdemar disse à PF que nunca levou essas propostas a sério e que triturou todas as que recebeu para, segundo ele, não dar margem a narrativas de que seria a favor de ideias golpistas. Ele também alegou que não se sentia à vontade em manter essas cópias em casa para que ninguém, inclusive seus parentes, pensassem que ele "estava tramando alguma coisa".

O político admitiu que não alertou qualquer autoridade ou membros do PL sobre o teor das propostas. Valdemar afirmou ainda que era abordado com frequência por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que pediam "providências" para impedir a posse de Lula. Ele disse em depoimento que os "bolsonaristas radicais" não têm contato com o PL e não participam dos eventos do partido.

Urnas

O presidente do PL, que já foi condenado por corrupção no processo do mensalão, também afirmou que "nunca duvidou" da segurança das urnas eletrônicas e que só contratou uma empresa para fiscalizar o resultado das eleições por "insistência" de Bolsonaro. O TSE aplicou multa de R$ 22,9 milhões depois que a legenda pediu a anulação dos votos de 279,3 mil urnas eletrônicas alegando que houve "mau funcionamento" do sistema.

Valdemar negou ter relação próxima com o ex-ministro Anderson Torres. O presidente do PL afirmou que, nos quatro anos do governo Bolsonaro, esteve apenas uma vez no Ministério da Justiça. Ele afirmou ainda que não se reuniu com Torres porque ele não participava de encontros políticos.


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