Índíos agricultores gaúchos despontam no uso de agrotóxicos

Índíos agricultores gaúchos despontam no uso de agrotóxicos

IBGE verifica uso dos produtos em quase 70% das tribos do Estado enquanto índice não chega a 30% no restante do Brasil

Thaise Teixeira

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A utilização de defensivos agrícolas é realizada por quase 70% das comunidades indígenas dedicadas à atividade agropecuária no Rio Grande do Sul. A informação, recentemente divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em mais uma etapa do Censo Agropecuário 2017, vai de encontro ao observado por outras tribos no país, onde 88% não fazem uso de agroquímicos em seus cultivos.

O cenário, segundo a coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais (Censo Agro 2017) do IBGE, Marta Antunes, é alarmante. Isso porque ocorre com baixo nível de assistência técnica, tanto na região Sul como um todo quanto no Estado. “Essa utilização é preocupante sob o ponto de vista da saúde e da segurança ambiental”, explica.

A gestão feminina nas 1753 propriedades analisadas (em maioria, familiares) também se destaca. Conforme o levantamento, 31,6% das índias agricultoras dirigem os estabelecimentos agropecuários no RS, superando o índice de 30,1% na região Sul e de 25,9% no resto do país. Já os jovens, por sua vez, apareceram em menor número que em comparação com as tribos brasileiras. Apenas 7,99% dos que trabalham no campo têm menos de 25 anos e 19,45% estão na faixa entre 25 a menos de 35 anos. A grande maioria dos índios agricultores gaúchos está situada entre 35 e menos de 45 anos (25,39%), seguidos pelos inseridos no intervalo entre 45 e menos de 55 anos (21,96%). “Vemos que as faixas que vão de 25 a 45 anos e de 45 a 55 anos possuem um peso maior no Rio Grande do Sul ao passo que, no Brasil, o peso está abaixo dos 35 anos, com média de idade de 54,2 anos, tanto dentro quanto fora das terras indígenas para estado com um todo”, comenta Marta. Os índios agricultores gaúchos de 55 a 65 anos respondem por 14,89% dos avaliados, enquanto os com 65 a menos de 75 anos totalizaram 6,90%, e os de 75 anos para mais, 3,42%.

Os novos dados do Censo Agropecuário 2017 mostram ainda os gaúchos lideram o percentual entre os produtores que efetivamente trabalham em terras indígenas, somando 81,87%. “O restante pode ser cônjuges, que não são indígenas, ou pessoas que ocupam os locais irregularmente e serão retirados pela regularização de terras. Também podem ser invasores ou mesmo autorizados pelas próprias tribos a trabalhar nos locais”, detalha a coordenadora. Segundo ela, as tribos localizadas no Estado apresentam características muito peculiares em comparação às brasileiras, seja pelos grupos mais fechados, seja pelas terras mais antigas e consolidadas. “Temos 305 etnias no Brasil. No RS, as mais conhecidas Kaingang, Guarani Mbya, Guaraní e Guarani Kaiowá, que saem um pouco da tradição indígena da produção”, comenta Marta.

 
Produtos mais cultivados pelos índios agricultores no RS, segundo o Censo Agropecuário 2017:
 
1. Cultivos temporários com baixa necessidade de investimento
HORTÍCOLAS:
Batata doce
Alface
Beterraba
Repolho
Couve
 
2. Cultivos permanentes
FRUTÍCOLAS: 
Tangerina e afins
Laranja
Limão
Banana
Abacate
 
3. Cultivos temporários com alta necessidade de investimento 
LAVOURAS:
Feijão
Mandioca
Milho
Abóbora
Soja
 
4. Extrativismo
Pinhão
Araticum
Butiá
Erva-mate

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