Agricultor adia compra de fertilizante à espera de preço melhor

Agricultor adia compra de fertilizante à espera de preço melhor

Decisão pode provocar gargalo na entrega dos insumos pelo país e atrapalhar plantio da safra 2022/2023, alerta ministro da Agricultura

Patrícia Feiten (com Agência Estado)

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Produtores rurais estão protelando a compra de fertilizantes químicos para a próxima safra de verão, na expectativa de uma trégua mais significativa nos preços dos produtos. Conhecidos pela sigla NPK, os fertilizantes à base de nitrogênio, fósforo e potássio – os mais usados no Brasil – dispararam em 2021, em razão da ruptura nas cadeias de suprimento causada pela pandemia de Covid-19, e tiveram novo salto no início deste ano com a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia. Após atingir um pico em abril, porém, os preços desses insumos recuaram.

O efeito dessa guinada foi citado ontem pelo ministro da Agricultura, Marcos Montes, em coletiva de imprensa durante o 13º Congresso Brasileiro do Algodão, realizado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) em Salvador (BA). Na ocasião, Montes disse temer um gargalo na chegada dos fertilizantes às propriedades para o plantio da safra 2022/2023. “Alguns produtores estão aguardando o preço cair para poder comprar, o que pode criar um problema de logística na hora crucial”, alertou. O ministro destacou que os valores dos adubos já cederam, embora ainda não estejam no patamar desejado pelos agricultores. “O produtor terá de se adequar ao que está aí, mas tem o produto. (Os) fertilizantes estão todos no país”, reforçou.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Décio Teixeira, confirma que o agricultor está “fazendo as contas” e segurando investimentos em insumos agrícolas em geral. A justificativa é que a queda dos preços dos fertilizantes não foi suficiente para compensar as perdas registradas pelo setor com a desvalorização da soja, tanto no mercado internacional quando no interno. “Tem muita gente ainda por vender soja e não vai se submeter a esses preços altos de adubo, sabendo que logo ali adiante vão cair”, diz. Os fertilizantes, observa o dirigente, são impactados pelo placar dos combustíveis, que se reflete no custo dos fretes. “O petróleo está despencando, então a gente pensa que os preços dos fertilizantes terão de baixar”, avalia.

O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, avalia que, embora o risco de desabastecimento tenha sido afastado no Brasil, ainda não há uma entrada regular de fertilizantes às propriedades. “Como tem muita coisa para entregar simultaneamente, pode haver alguns gargalos logísticos”, afirma. Nesse cenário, quem adiar as compras à espera de negociações mais vantajosas poderá sair no prejuízo. “A questão é: será que não vai ter produtor recebendo fertilizante depois que o melhor período de plantio passou?”, questiona.

Apesar da trégua nos preços, alguns produtos ainda não retornaram aos patamares pré-guerra, segundo a analista Maísa Romanello, da Safras & Mercado. De acordo com levantamento da consultoria, a ureia agrícola – um dos principais fertilizantes nitrogenados – está 34% mais cara neste mês em relação a agosto do ano passado, enquanto o fosfato monoamônico, conhecido pela sigla MAP, subiu 51% no mesmo período. “Os patamares recordes (por tonelada) foram atingidos em abril, sendo de 950 dólares para a ureia e 1.250 dólares para o MAP”, diz Maísa.


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