Avicultura gaúcha quer retomar espaços de mercado e aumentar competitividade
Foram 802 milhões de aves abatidas no ano passado, contra 845 milhões de aves em 2022
publicidade
Com redução de 5% na produção e abate de aves e queda nas exportações no ano passado, em decorrência de adversidades climáticas e de dificuldades econômicas e instabilidade do mercado, a avicultura gaúcha projeta 2024 com desafios para melhorar a competitividade. A Organização Avícola do RS (Asgav & Sipargs) apresentou dados sobre o desempenho do setor em 2023 e avaliou cenários de mercados interno e externo para a carne de frango e ovos. Importante no desenvolvimento socioeconômico de 250 municípios gaúchos, o segmento busca valorização no mercado local, tendo em vista que 50,9% dos produtos de aves consumidos pelos gaúchos provêm de outros Estados, e também tenta sensibilizar o governo do Estado para evitar ou minimizar o corte de incentivos fiscais, com previsão para entrar em vigor a partir de 1 de abril.
“A gente vê possibilidades para recuperar mercado interno e exportações, mas isso está diretamente ligado às condições de competitividade”, disse o presidente executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos. A entidade apresentou uma série histórica com dados de 2013 a 2023 que mostram aumento de 5,91% nos abates de frangos, saindo de 758 milhões de aves abatidas, em 2013, para 802 milhões, no ano passado. O volume produzido pulou 16%, de 1,592 milhão de toneladas para 1,846 milhão de toneladas. No período, as exportações gaúchas cresceram 3,97%, passando de 711 mil toneladas para 739 mil embarcadas.
Em 2023, a queda de 5% na produção e no abate equivale a cerca de 43 milhões de aves. Foram 802 milhões de aves abatidas no ano passado, contra 845 milhões de aves em 2022. Em 2023, as receitas com vendas externas caíram 3,9%, de 1,51 bilhão de dólares em 2022 para 1,45 bilhão de dólares em 2023. Em volumes, o tombo foi de 2,1% no ano passado. No comércio exterior, o Rio Grande do Sul esteve na contramão do setor nacional, que conseguiu ampliar as vendas em 6%.
“Além das questões de mercado, tivemos uma série de fatores que influenciaram, como as adversidades climáticas, que atingiram o Vale do Taquari, uma região que equivalia 21% da nossa produção, e a suspensão das atividades de uma cooperativa da região que só em 2021 abateu 30 milhões de aves”, disse Santos. Também pesaram na performance do setor dificuldades econômicas que levaram quatro indústrias a declararem recuperação judicial, e a entrada expressiva de produtos avícolas de outros Estados, que hoje detêm 50,9% do mercado gaúcho.
Os custos de produção mais altos no RS e a distância de mercados consumidores também fragilizam a competitividade. “O custo é mais alto basicamente pelo preço dos grãos, milho e soja, que representam 80% do custo, e o valor do frete para os gaúchos também encarece”, pontuou o presidente do Conselho Diretivo da Asgav, Nestor Freiberger. Outro fator desfavorável ao setor no ano passado é a diminuição de 42% nos investimentos no sistema produtivo. Em 2022, foram R$ 311 milhões em investimentos, contra R$ 179 milhões no ano passado. “Isso acende o alerta de que alguma coisa não está bem. Nosso setor tem papel fundamental no desenvolvimento social e econômico do Estado”, ressalta Freiberger.
No segmento da indústria e produção de ovos, houve aumento de 63,49% em 10 anos, de 135 mil toneladas, em 2013, para 228 mil toneladas, em 2023, o que representa cerca de 3,2 bilhões de ovos produzidos no RS. As exportações tiveram receitas incrementadas em 91%, saltando de 11 milhões de dólares, em 2013, para 21 milhões de dólares, em 2023. No ano passado, as exportações de ovos do Estado chegaram a 6,2 mil toneladas, contra 2,7 mil toneladas em 2022, crescimento de 126,2% no volume. Conforme Santos, a alta tem efeitos da incidência da influenza aviária em países como os Estados Unidos, onde 70 milhões de aves poedeiras foram dizimadas, baixando a produção e oferta de ovos.
Para recuperar mercado, a Organização Avícola tem em pauta para 2024 a manutenção de incentivos fiscais, cujo impacto está em avaliação, continuidade na para prospecção de novos mercados, garantir a biossegurança das granjas comerciais e manter o status sanitário diante da ameaça da influenza aviária. O setor também apoia iniciativas para ampliar a produção de milho e a irrigação e buscará suporte para agroindústrias com financiamentos e linhas de crédito. Outro ponto de atenção é a reforma tributária. “Ainda tem muitos pontos obscuros que precisamos trabalhar para evitar que caia sobre setor carga maior do que a atual”, disse Santos. Também a medida provisória de reoneração da folha de pagamento está no radar.