Azeites gaúchos ganham o mundo

Azeites gaúchos ganham o mundo

Nove marcas do Rio Grande do Sul figuram entre as 100 melhores eleitas pelo ranking mundial dos melhores azeites extravirgens

Nereida Vergara

Colheita das olivas, Estancia das Oliveiras, Viamão

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Quando se fala da olivicultura do Rio Grande do Sul, com azeites extravirgens cada vez mais premiados no mundo, é preciso levar em consideração o tempo em que esta expertise levou para acontecer. O plantio de oliveiras no Estado tem cerca de duas décadas, de erros e acertos agronômicos, descobertas e busca de conhecimento na experiência de países com tradição secular no cultivo e na extração do óleo da azeitona. Por isso, uma marca gaúcha conquistar no ranking mundial dos melhores azeites extravirgens a 9ª colocação, junto a fabricantes da Europa e do Oriente Médio, trata-se de um feito.

Além da Estância das Oliveiras, figuram no ranking Evoo World mais oito azeites extravirgens brasileiros, sendo sete do Rio Grande do Sul: Azeite Prosperato, Azeite Sabiá, Azeite Verdes Louros, Azeite Capolivo, Azeite Olivas da Lua, Al-Zait e Olivas Costa Doce. Apenas o Azeite Orfeu, que consta na lista, é fabricado em Minas Gerais.

O criador da Estância das Oliveiras (agraciada com a posição), de Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre, Lucídio Goelzer, brinca que este lugar no ranking chega a ser "um absurdo", frente à juventude do negócio. Filho de agricultores, ex-bancário e agente de Comércio Exterior, Goelzer comprou uma propriedade em Viamão para criar os filhos pequenos nos anos 70, com 1,5 hectare. Lá fundou, em 1992, já numa área de 12 hectares, o empreendimento Quinta da Estância, uma fazenda agroecológica com foco na educação das crianças que em mais de 30 anos recebeu pelo menos 1,3 milhão de visitantes. Entre 2006 e 2007, depois de experimentar os melhores azeites do mundo, comprados em países como a Espanha, a França e a Inglaterra, e saber que o plantio de oliveiras no Rio Grande do Sul tinha se iniciado em Caçapava do Sul, pelas mãos do amigo José Alberto Aued, proprietário da empresa Olivas do Sul, decidiu ir em busca de informações. "Passei um dia inteiro atrapalhando o trabalho dele para entender como havia conseguido plantar, já que as condições de solo e clima no Estado são muito diferentes das de onde essas árvores sempre foram plantadas", lembrou.

Depois da conversa inicial com Aued, Goelzer foi em busca de conhecimentos na Embrapa e, segundo ele, "com muito custo", conseguiu que a empresa de pesquisa colocasse em seu terreno algumas variedades de oliveiras para acompanhar o desenvolvimento. "Daí por diante, durante uns 10 anos, até chegar à produção para venda, foram muitas tentativas e erros", comenta. A grande descoberta para conseguir produzir foi a correção da acidez do solo, para que se aproximasse dos níveis de pH dos terrenos de onde a árvore é originária. "Nos países que produzem olivas há séculos, o pH do solo está entre 7 e 8. Aqui, é de 4,5 a 5,2", relata. Também o espaçamento entre as árvores (para entre 7 e 8 metros) precisou ser corrigido, já que os primeiros plantios (com intervalo de 6 metros) sufocaram o crescimento. "Chegamos a perder 800 pés", conta.

Nos últimos cinco anos, já contando com 125 hectares de área entre a Estância das Oliveira e a Quinta da Estância, a marca de Goelzer começou a ganhar concursos no Brasil e no mundo, de acordo com o produtor, graças “ao dom” do filho mais novo, André Goelzer, mestre de lagar (a agroindústria de processamento da azeitona) da estância. "André consegue tirar o melhor das azeitonas e criar os melhores blends", elogia.

A Estância das Oliveiras tem 5,3 mil pés plantados, dos quais cerca de 3 mil estão aptos à colheita, com previsão de início para a segunda semana de fevereiro. O El Niño causou perdas nos olivais durante o florescimento das árvores, por isso Goelzer não arrisca uma estimativa de produção. No ano passado, a propriedade produziu 8,3 mil litros de azeite e tem como meta para quando todos os pés estiverem frutificando cerca de 17 mil litros de azeite por ano.


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