Baixo consumo diminui os abates de bovinos
População sem dinheiro para comprar carne, diz sindicato, tem mais impacto que preço do boi
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Mais que a própria valorização do preço do boi, o maior limitador da produção de carne bovina no Rio Grande do Sul tem sido o consumo, deprimido pela crise econômica decorrente da pandemia. Esta é a avaliação do presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Lauxen, e também a justificativa para a queda nos abates do setor nos meses de fevereiro e março. No início do ano, a média diária de abates dos frigoríficos gaúchos era de 7 mil cabeças. No segundo e no terceiro mês do ano, a média diária passou para 6 mil cabeças, levando a uma ociosidade de quase 50% na indústria, cuja capacidade instalada está entre 11 mil e 12 mil cabeças/dia.
Na última semana, a Emater/RS-Ascar apurou um preço médio do quilo do boi vivo em R$ 11,29. Na semana anterior, a cotação estava em R$11,08. Segundo o levantamento da Emater, em algumas regiões, o preço do quilo vivo do boi chegou ao máximo de R$ 12,00. “Não temos notícia de um valor tão alto, mas, se isso ocorrer, a indústria terá muita dificuldade em repassar, pois o consumo está muito baixo”, diz Lauxen.
O dirigente afirma que, além dos problemas de consumo, o setor frigorífico amarga uma alta de custos que se agravou com o conflito entre Rússia e Ucrânia. Responsável pelo transporte dos bovinos que serão abatidos e da carne para o varejo, os frigoríficos tiveram de absorver a alta dos combustíveis, o que diminuiu ainda mais as margens do segmento. "Nossa esperança é que a economia seja retomada e que se criem empregos para a população voltar a consumir”, conclui.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) indica que entre 31 de março e 6 de abril, no mercado paulista, a arroba do boi gordo teve um incremento de 4,16%, chegando a R$ 336,70. No mês passado, conforme a Secex, as exportações de carne bovina do país chegaram a 169,41 mil toneladas, 6,48% mais do que em fevereiro e 26,6% maior em relação ao mesmo mês de 2021. Os pesquisadores do centro analisam que a demanda internacional e o recorde nas exportações de março é que estão garantindo a manutenção preço do boi.