BNDES anuncia crédito ao agro indexado pelo dólar

BNDES anuncia crédito ao agro indexado pelo dólar

Destinada a investimentos, nova linha dispõe de R$ 2 bilhões e poderá ser contratada por produtor com receitas atreladas à moeda estrangeira

Nereida Vergara

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O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, anunciou ontem a disponibilização, a partir de maio, de uma nova linha de financiamento para investimentos do agronegócio com recursos de R$ 2 milhões de dólares e taxa de juros fixa de 7,59% ao ano, mais a variação cambial. A modalidade é direcionada à aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas e é destinada a produtores rurais que tenham receitas ou contratos em dólar ou atrelados à variação cambial, além de limite de crédito nos bancos que vão operar a linha.

Mercadante destacou que pelo menos 70 instituições financeiras, entre bancos públicos e privados, bancos regionais, bancos cooperativos, cooperativas de crédito e bancos de fábrica, poderão operar este tipo de financiamento, cujas regras serão apresentadas hoje em resolução do Banco Central. Segundo ele, com esta nova opção, o governo abre a possibilidade para o agricultor obter crédito com uma taxa de juros cerca de 6% menor que a Taxa Selic, fixada em 13,75%. “Estamos mostrando a disposição do governo em aumentar cada vez mais a agricultura moderna”, esclareceu Mercadante.

Os valores emprestados ao produtor pela nova linha não contam a entrada de recursos governamentais para a equalização de juros, sendo o risco do empréstimo de total responsabilidade da instituição bancária. “Claro que para produtores de arroz, café e leite, por exemplo, estamos estudando linhas de financiamento em reais, então é um tipo de financiamento que não é para todos”, chamou a atenção o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. O produtor que aderir a esta modalidade contará com período de carência de 24 meses e prazos de pagamento que vão de 25 a 120 meses. Se a taxa cambial se mantiver estável, o produtor vai pagar apenas o juro estabelecido pela linha e nada mais, salientou o ministro.

Para o economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio do Luz, o anúncio é positivo, pois reconhece um trabalho que já vem sendo feito no sentido de ampliar a captação de recursos para financiamento da agropecuária como forma suprir o esgotamento das verbas oficiais. “É um anúncio coerente com o que já fizemos para ampliar as fontes de crédito”, disse o economista, lembrando os mecanismos criados com a Lei nº 13.986/20, conhecida como Lei do Agro.
Da Luz, entretanto, alerta para o risco de o produtor fazer um financiamento indexado pela variação cambial em um país como o Brasil, onde a volatilidade da moeda estrangeira é muito alta. “A iniciativa de fazer um financiamento deste tipo tem uma carga de risco. É recomendável que o produtor trave preço, mas também trave a taxa cambial com o banco, o que pode tornar o financiamento um pouco mais caro mas ainda muito competitivo para o mercado”, aconselha.

O economista observa, porém, que o anúncio do BNDES contém uma incoerência política, já que lança um financiamento dolarizado dias depois do presidente Luis Inácio Lula da Silva ter sugerido, em sua viagem à China, lastrear as operações do comércio internacional pela moeda asiática, o iene. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895