Caminhões parados em estradas afetam escoamento da produção

Caminhões parados em estradas afetam escoamento da produção

Entidades do agronegócio temem que continuidade de bloqueios cause desabastecimento de carnes, leite e produtos vegetais

Patrícia Feiten

Paralisações impediram coleta do leite nas propriedades rurais

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Os bloqueios em rodovias de todo o país praticados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em reação ao resultado das eleições comprometeram o escoamento da produção de carne, leite e hortifrutigranjeiros no Rio Grande do Sul. Embora não tenham estimativas de prejuízos financeiros causados a empresas e produtores rurais, entidades do agronegócio manifestaram preocupação com a continuidade das paralisações. O temor é que caminhões ainda parados nas estradas nos próximos dias resulte em desabastecimento no varejo.

No setor de avicultura, os bloqueios dificultaram o suprimento de matérias-primas, como rações animais, às indústrias. Segundo o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, empresas associadas à entidade vêm relatando redução nos abates. “O setor suporta mais um dia, dois no máximo. Depois, corremos sérios riscos de afetar os sistemas de produção e o abastecimento de mercado”, alertou. O presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados (Sicadergs), Ladislau Böes, disse que tanto o transporte de bovinos vivos às plantas frigoríficas quanto a distribuição de carnes aos pontos de venda foram afetados. O executivo, no entanto, descartou o risco de desabastecimento e disse acreditar que, até o final desta terça-feira (1), as medidas judiciais determinando o fim dos bloqueios normalizassem o fluxo nas rodovias.

A pecuária leiteira também sofre com as paralisações. Segundo o Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), as empresas do setor e transportadoras contratadas contabilizavam dezenas de caminhões-tanques parados em barreiras em diferentes pontos do Estado. O secretário executivo do Sindilat, Darlan Palharini, defendeu a liberação de veículos com cargas de leite cru ou vazios, de forma a garantir a coleta nas propriedades rurais – após a ordenha, que é feita diariamente, o produto deve ser recolhido, nos tanques resfriadores das fazendas, em no máximo 24 horas. “A partir do meio-dia de hoje (1), a situação complica-se no campo. Se não resolvermos isso logo, teremos produtor rural perdendo leite”, disse Palharini.

Na Ceasa, os bloqueios impactaram principalmente a chegada de legumes e frutas do Sudeste e do Nordeste, que nos dois últimos dias caíram para 20% do volume normal, segundo o presidente do entreposto, Ailton dos Santos Machado. No caso da produção gaúcha de hortigranjeiros, a Ceasa recebeu cargas no domingo à tarde, antes do início dos protestos, e o feriado nesta quarta-feira, dia em que os supermercados costumam fazer promoções de produtos vegetais, contribuiu para reduzir a movimentação na central. “Recebemos apenas 40% dos clientes do interior do Estado hoje (1), mas o impacto maior é em função dos bloqueios”, explicou Machado.

Em comunicado, a Frente Parlamentar da Agropecuária fez um apelo pela liberação do fluxo de “cargas vivas, rações, ambulâncias e outros produtos de primeira necessidade e/ou perecíveis”. “A FPA entende que o momento é delicado e respeita o direito constitucional à manifestação, porém ressalta que o caminho das paralisações de nossas rodovias impacta diretamente os consumidores brasileiros, no possível desabastecimento e em toda a cadeia produtiva rural do país”, destacou o grupo.

A Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro) também repudiou a obstrução das estradas. “Qualquer movimento que bloqueia o trânsito de cargas vivas é criminoso, pois causa o sofrimento e a morte dos animais que já estão em jejum para serem transportados”, criticou o presidente da entidade, Richard Alves.


Correio do Povo
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